"Não podíamos nem vamos segurar o Governo de Miguel Albuquerque"
Paulo Cafôfo foi veemente na conferência de imprensa, realizada logo após a reunião da Comissão Política para debater o sentido de voto dos deputados do PS à Moção de Censura do Chega, afirmando que "não podíamos nem vamos segurar o Governo Regional liderado por Miguel Albuquerque".
O voto unânime dos membros da Comissão Política regional deste final de tarde e início de noite, que teve intervenções de todos quantos quiseram falar, revela, diz o líder socialista, a coerência, uma vez que aquando da Moção de Confiança a este mesmo governo tinham votado contra, agora com 5 dos 8 membros sob suspeita judicial, incluindo o próprio Miguel Albuquerque constituído arguido, não podia o PS inviabilizar esta moção de Censura.
"Significa isto que o Partido Socialista aqui tem uma coerência na sua acção, porque nós não poderíamos, nem vamos, segurar este governo de Miguel Albuquerque", disse. "E somos coerentes com isso, porque fomos coerentes na moção de confiança aquando da apresentação do programa de governo e, agora, ainda por maioria de razão, porque desde essa altura até agora muito mais aconteceu a este governo".
E justificou: "Temos um presidente do governo que é arguido por casos de corrupção activa e passiva, que não quer responder à justiça, está a fugir à justiça porque não pede a retirada da sua imunidade enquanto conselheiro ou membro do Conselho de Estado. E temos um governo de oito elementos, cinco elementos, incluindo o seu presidente, estão a contas com a justiça. Isto não é normal numa democracia, não pode ser normal, nem podemos nós aceitar que assim seja."
E continuou: "Ainda para mais quando temos, também, um presidente do governo, Miguel Albuquerque, que numa altura tão difícil como foram os incêndios deste mês de Agosto, foi um presidente que fugiu, que foge às suas responsabilidades e em vez de gerir os incêndios, estar ao lado do seu povo, fugiu para o Porto Santo para se estender a apanhar sol numa espreguiçadeira no areal da Praia Dourada."
Paulo Cafôfo diz que perante todos estes elementos "nós não podemos segurar um presidente com esta postura e um governo que perdeu toda a credibilidade". E ainda acusou Miguel Albuquerque: "Só está agarrado ao poder por interesse próprio para não responder à justiça. Não interessa sequer o seu partido, muito menos interessa os madeirenses e porto-santenses, interessa manter-se agarrado ao poder custe o que custar. Ora, esta atitude não pode ter, da parte do Partido Socialista, qualquer veleidade."
E é por isso que "vamos votar favoravelmente esta moção de censura ao governo de Miguel Albuquerque", reforçou. Aos jornalistas disse mais sobre o parágrafo que apontava o dedo acusador ao PS. "Não nos interessa um parágrafo, não nos interessa o texto da moção de censura. Interessa-nos a censura a Miguel Albuquerque e ao seu governo. Isso para nós é que é o relevante e é por isso que esta decisão que foi aqui tomada foi uma decisão ponderada, reflectida, responsável de nós votarmos. Eu diria que os madeirenses não compreenderiam como é que o Partido Socialista, com um historial de luta contra este regime, que num momento tão decisivo, hesitasse em votar contra esta moção de censura."
Por isso, "o voto é favorável e é natural que o Partido Socialista seja coerente e consistente, não só com o seu histórico durante quase 50 anos de luta nesta região, mas, acima de tudo, também com a sua coerência mais recente com a moção de confiança e o nosso voto contra a confiança, porque sempre dissermos que o Miguel Albuquerque e o seu governo não eram de confiança", atirou.
Para o líder socialista nem sequer esteve em causa apresentar uma moção de censura da sua iniciativa. E explicou porquê: "O PS não anda a brincar à política nem a brincar às moções de censura. Um facto é que o Chega apresentou esta moção de censura. E diga-se que apresentou esta moção de censura, mas o Chega deu a mão a Miguel Albuquerque. Aliás, estamos perante uma situação em que esta instabilidade e esta desestabilização da vida política e da vida dos madeirenses e dos porto-santenses têm rostos e têm responsáveis."
E acusa, assim, o Chega de ter 'duas caras'. "Quem fez um acordo com o PSD não foi o PS, quem fez um acordo com o PSD foi o Chega", lembra. "Ora, se Miguel Albuquerque que deu a garantia, e deu a garantia, nem foi a garantia ao Representante da República, deu a garantia aos madeirenses e porto-santenses que tinha condições de dar estabilidade a um governo e de ser um governo que durasse os quatro anos. Não fui eu, foi Miguel Albuquerque. Ele foi convidado a formar o governo, formou o governo. Essa garantia, como se viu, está à vista de toda a gente, falhou, e Miguel Albuquerque falhou precisamente nessa promessa ou nesse compromisso para com os madeirenses e porto-santenses".
Perante as críticas, algumas internas, sobre esta crise política, Paulo Cafôfo foi categórico. "Parece que a moção de censura é para o PS, que tem o ónus" desta situação, apontou. "Ora bem, antes de mais, não fomos nós que fizemos acordo, nem nos vimos metidos nesse acordo entre PSD e o Chega, mas também tenho que dizer que a Assembleia Regional tem 47 deputados, o PS tem 11 deputados, e portanto há 36 que têm que tomar uma posição igual ou diferente à do Partido Socialista. O Partido Socialista toma as suas posições, independentemente dos outros e em prol desta região. Aquela que é a nossa posição é defender os madeirenses e portosantensess de um governo que não resolve os problemas dos madeirenses e dos portosantenses. Pelo contrário, só os agrava, basta olhar para a habitação, basta olhar para a saúde, basta olhar para os níveis de rendimento dos madeirenses e dos porto-santenses, sempre na cauda da tabela de rendimentos do país, na pobreza que infelizmente grassa nesta região, e além de não conseguir resolver os problemas, temos casos atrás de casos, e não são casinhos, são problemas graves de indícios de corrupção, e que por isso, obviamente, o Partido Socialista, como digo aqui, não poderia assegurar este governo. Existem outros 36 deputados, obviamente, na Assembleia, que terão, sim, essa responsabilidade, a nossa responsabilidade nós já assumimos", concluiu.