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Madeira

Percentagem de pessoas transgénero na população “é mais ou menos igual à dos ruivos”

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As crianças transgénero e os respectivos pais “vivem infelizmente uma angústia muito grande” e chegam a pensar em suicídio. A ciência diz que a dessintonia entre a identidade de género de uma pessoa e o sexo com que nasceu não tem que ver com o ambiente, os amigos e as influências mas antes com um conjunto de factores biológicos, pelo que a sua família e as outras pessoas “não devem julgar estes indivíduos” mas antes apoiá-los e inclui-los, de modo a que possam ser felizes. Em síntese, foi esta a mensagem que a médica psiquiatra Frederica Passos deixou na 7.ª edição do TEDxFunchal, que decorre esta tarde, no Centro Cultural e de Investigação do Funchal (CCIF).

A especialista referiu que existem até 2,7 por cento de pessoas transgénero no mundo, que “é mais ou menos igual à percentagem de ruivos na população”. Frederica Passos partilhou com o público um caso que acompanhou quando trabalhou num hospital em São Paulo, Brasil, e que exemplifica o sofrimento que famílias e pessoas transgénero vivem. Tratou-se do caso de um pai cujio filho mais novo, de 4 anos, aproveitou o Carnaval para agarrar nas roupas das duas irmãs mais velhas. Naquela quadra de folia pediu que o tratassem por um nome feminino. Após essa altura do anio, o pai começou a ver que o filho começou a ficar cada vez mais cabisbaixo e a fechar-se mais no quarto. Certo dia quis perceber o que se passava e abriu a porta do quarto e deparou-se com o seu filho vestido de menina, que disse-lhe a chorar que aquela era a sua verdadeira identidade, já que todos os dias tinha de usar disfarce de menino para ir para a escola.

Frederica Passos é médica psiquiatra, especializada nas áreas da Sexualidade Humana e Psiquiatria da Mulher e Perinatal. O seu trabalho é guiado pelo fascínio da mente e da emoção, pela particularidade das lentes com que cada um vê o seu mundo. Há quem fale do erro de Descartes, o de separar o emocional do racional, Frederica Passos acredita que o filósofo não só cometeu um erro, como subestimou a condição humana. Ao procurar ajudar os seus pacientes nas suas vivências, considerando sempre a sua doença e a realidade em que vivem, conheceu vários mundos e várias visões. Visões essas que redefinem diariamente o seu trabalho e a sua experiência. Já trabalhou em diversos países como Tunísia, México e Brasil, sendo que foi o tempo que passou na cidade de São Paulo que mais a marcou, ao trabalhar com indivíduos transexuais e as suas famílias.

Actualmente exerce a sua aatividade profissional tanto no sector público como no privado, presencial e online. É mãe de dois filhos, esposa, filha, amiga incondicional, apaixonada pela vida e por desafios. Procura, acima de tudo, ver além da superfície e descobrir a essência de cada coisa que nos faz vibrar. Como psiquiatra procura que os seus pacientes vejam além do óbvio, que se redescubram e que reescrevam a sua história.