Todos p’ra cama
Nada nesta nossa Madeira é feito com “ponto sem nó”. Nem a escolha das personagens nem o conteúdo das suas decisões
Sejamos inequívocos: nenhum estabelecimento económico, seja de que natureza for, pode fazer ruído para quem quer descansar e ter sossego. É regra absoluta.
Cabe às autoridades obrigar os operadores ao cumprimento das regras na sua globalidade. Cada um é responsável pela sua “casa” e dela deve cuidar.
A Câmara e o Governo são responsáveis, por sua vez, pelo uso da via pública e dela devem tomar conta. O bom comportamento nos espaços de restauração e bares não garante sossego nas ruas, mas os negócios não devem ser encerrados porque a Câmara e o Governo não asseguram a sua responsabilidade.
Obrigando ao cumprimento da lei e aproveitando a educação familiar. Nenhum é responsabilidade dos agentes económicos.
Quanto mais avançamos na noite mais efeitos do divertimento se evidenciam. Aparecem os excessos. Então, porque se encerram os estabelecimentos que funcionam em hora ainda sem exageros e se mantêm abertas as discotecas que “deitam” na rua, a altas horas da madrugada, os mais jovens, mais embriagados e influenciados por substâncias acessórias? De carro e de mota.
Por alguma razão em Ibiza as principais discotecas encerraram, há duas semanas até Abril do próximo ano. Aqui é o contrário. São as únicas com abertura garantida sem alteração. E, esta atitude política, marca desde logo os “objectivos” em jogo. Quem mais tarde e mais distúrbio público ocasiona, permanece intocável.
Se eu convidar uns amigos para jantar de aniversário numa qualquer esplanada tenho de cantar os “parabéns a você” antes das 23h30. Ou seja, na véspera. Se o prédio for residencial cantamos às 21h30. Se convidar para jantar no próprio dia do aniversário a cantoria será sempre no final do jantar. Já não cheira a festa e faz o mesmo barulho. Bem hajam as festas ilegais privadas!
A Câmara parte de um primeiro princípio errado que é o de sempre ser possível fazer ruído desde que de acordo com as regras municipais.
Ora, não deve ser possível fazer barulho onde incomoda residentes. A qualquer hora da noite ou do dia. Mas a Câmara e o Governo não garantem isso. Nem tal aceitam. Assim, o seu propósito é fechar tudo e obrigar as pessoas a ficarem em casa. Ou a ela cedo regressarem. Tudo p’ra cama. Recolher obrigatório.
É como meter todo o povo na cadeia para evitar os roubos.
Nem um comunista, muito menos um socialista, obrigava a esta disciplina ditatorial. Estranho o PSD e o CDS estarem, a meses de eleições autárquicas, envolvidos numa polémica de todo desnecessária.
Mais a mais um processo municipal liderado por uma empresária e economista, anterior presidente da ACIF, que devia querer valorizar o esforço empresarial de gerar economia e, com isso, mais emprego e melhores salários. Pobres para sempre!
O programa que o PSD, liderado pelo Dr. Pedro Calado, apresentou aos Funchalenses, que teve o meu voto, não previa qualquer atitude tão impopular. Bem pelo contrário, na dependência directa do presidente proponha “Jovens ao Centro: repovoar o centro da cidade”. Fechando a animação noturna? Não era certamente.
O PSD, na Câmara, deve ter prioridade no cumprimento do programa que “vendeu” aos eleitores. Quem jura faz! Foi sempre assim! Agora, não sei se vai a tempo. Se é que ainda são do PSD! A obrigação é o programa político eleitoral. Sem invenções extra programa.
Pedi o programa eleitoral do PSD+CDS e, na Câmara, os vários pedidos foram recusados. Parece que não o têm. Querem que mostre as mensagens?
Miguel Albuquerque esteve quase vinte anos, repito vinte anos, à frente da Câmara do Funchal e nunca deixou de incentivar a actividade económica noturna. Bom presidente. Acompanhado por alguns dos actuais vereadores. Era frequentador casual. Viajado e com mundo, foi dinamizador do que esta vereação quer acabar.
Custa a crer. Deve ter contornos, por enquanto desconhecidos. Mais a mais depois do esforço feito pelos empresários em tempo de COVID. Ainda não recuperaram e vem a Câmara, outrora do PSD, com a traição aos que sempre fizeram de acordo com as regras.
Isto é política, da mais inapta que existe. Fora de tempo e de contexto. Estão fartos da Câmara? Querem castigar o PSD seu proponente? Falta liderança? A ausência do chefe “matou” a obrigatória gestão política? Querem uma qualquer bandeira que sirva para deixar marca de que passaram por lá?
É tudo muito atabalhoado! Amador, do ponto de vista político.
Porque não se aplicam a cumprir o programa prometido? Querem exemplos de más decisões tomadas? Ou de omissões? Sabem o que falta fazer na cidade? Têm um ano para corrigirem o que está mal. Lembro-vos disso num outro dia!
Os governos e câmaras do PSD, e aqui homenageio a ilustre personalidade de João Carlos Abreu, promoveram as festas públicas para divertimento da população. Melhoraram as festas de Natal e Ano Novo, investiram na Noite do Mercado, revitalizaram a antes moribunda Zona Velha, especializaram o Carnaval, inovaram com o Halloween, fomentaram as festas de “finalistas”, as “despedidas de solteiro”, as tascas da placa da Avenida, os Arraiais, as “Missas do Parto” e tantos outros eventos noturnos. Muitos existiam mas foram amplificados em animação. É esta nossa tradição, cultura e hábitos de vida que querem extinguir. Não aceitamos!
Os empresários tomam conta dos seus estabelecimentos, a câmara das ruas. Agora, a incapacidade pública não pode prejudicar a economia. Porque somos pobres e precisamos do contributo de toda a actividade económica. Não podemos prescindir seja de quem for.
Se os estabelecimentos estiverem encerrados vamos começar a frequentar a casa de familiares e amigos. Jantares e rodas de copos no quintal ou na varanda com incómodo para os vizinhos. Saídas tardias para a estrada com carros e motas a fazerem ruído em zonas residenciais e tradicionalmente pacatas.
Isto é, ninguém vai deixar de viver e se divertir. Compramos no supermercado e levamos para casa. Abandonamos os nossos restaurantes preferidos mas não jantamos na hora do lanche nem tomamos copos à hora do jantar.
O povo não se deita às nove horas e se levanta às quatro. Tem outro ritmo de vida.
Ainda por cima, o que está em equação é só para o Funchal. E se os demais municípios, com planos municipais modernos, resolverem atrair a restauração do Funchal? Fica a capital satisfeita? Pelo menos esta vereação parece que sim.
Somos uma terra muito pequena para nos dividirmos com assuntos desta dimensão. Há muita forma de vivermos infelizes. É um conceito pessoal. No Brasil, diz-se que há muita pobreza que o samba e a caipirinha esbatem. Há que ter escapes e momentos que não nos façam lembrar como são os nossos políticos e porque não foram capazes de nos dar felicidade na ilha e na cidade.
Não esqueçam que há sempre uns beneficiados. Aqueles que ganham com o mal dos outros. Porque nada nesta nossa Madeira é feito com “ponto sem nó”. Nem a escolha das personagens nem o conteúdo das suas decisões. E podemos voltar a isto, brevemente, no detalhe. Cada um sabe quem o apontou.
Para já vamos ao debate público e, depois, às eleições.
Nota: Mundo é o que falta a muita gente responsável e decisiva. Qual é a cidade europeia do Sul sem noite? A semana passada fui jantar em Lisboa ao popular “Galeto”, restaurante na Avenida da República. Fica no rés do chão de edifício residencial de luxo, tem esplanada e fecha às três horas da madrugada.