O tabu dos que se fingem de mortos
Eu não sou daquelas pessoas que tem “dois amores”, a não ser as minhas ricas filhas. Paz à alma de Marco Paulo que teve um dia de luto na sua terrinha. Para entender critérios de políticos, consultei a lista de personalidades e vítimas que tiveram direito a tal homenagem e não entendo como se justifica a falha nacional. O imperador Hirohito do Japão, todos os reis de Inglaterra desde 1649, Adolf Hitler…
Na era marcelista e na área da cultura, Agustina Bessa-Luís, Carlos do Carmo, Paula Rego, Carlos Paredes, Eunice Muñoz. Não entendo os critérios e talvez não tenha inteligência para tal, mas quem autorizou estes lutos, propostos pelo Governo, anda a viver numa La La Land que poucos têm coragem de comentar. Nem Marques Mendes, que comenta tudo e mais um par de botas. Montou um tabu sobre a sua candidatura às Presidenciais, mesmo depois de Montenegro, com dificuldades em escolher um candidato, ter dito que aceita inscrições para esta espécie de concurso de beleza. Há um perfil ideal, as misses só têm de subir ao palco.
E Marques Mendes espera, como uma raposa matreira, a afiar as unhas, pelo tabu de Gouveia e Melo, porque tem medo, a julgar pelas sondagens, de perder para o candidato apartidário. Ficará para sempre conhecido como um derrotado e como o homem que fez o PSD perder as Presidenciais. Temo que o mesmo surto esteja a acometer o PS, onde ninguém quer ser candidato e finge-se de morto até o famoso 28 de Dezembro, quando o almirante for um cidadão comum.
É disso que os políticos têm medo. De se atravessarem à frente de um cidadão comum, sem passados políticos, mas que demonstrou ao País que o povo pode fazer mais do que um cartão partidário. Partindo de um ponto muito mais distante em carreirismo, Gouveia e Melo mostrou que não precisou de ser comentador (antes ou agora), para fazer do seu Portugal o Estado mais exemplar do mundo no Plano de Vacinas contra a Covid. Com uma equipa de militares e civis, como o próprio será quando sair da Marinha, o ainda militar só tem de fazer o que sempre fez. O melhor pelo seu País, servindo sem se servir.
Enquanto isso, o atual Presidente e autarcas revezam-se como carpideiras ao lado da família de quem tem um currículo extenso de “mau comportamento” e passagens pela prisão, dizendo aos portugueses que o crime compensa. Não sei se o polícia viu uma arma, mas eu não saio de casa de “ponta e mola” para passear.
O Tiago, motorista de autocarro que foi queimado para o hospital, não recebe a visita do Chefe de Estado ou de políticos. Preferem ir conversar numa sexta-feira à noite para o Bairro do Zambujal. Marcelo pede silêncio e liga à mãe do motorista, anunciando ao País numa nota que o rapaz tem “evolução positiva”. Desculpa-se com as restrições da hospitalização para não o visitar. Pois não, mas também não foi visitar o Odair Moniz à campa e foi conversar com a mãe dele e a vizinhança, dando asas ao que mais gosta de fazer: ser cusco. Um filme em exibição há quase nove anos.