As taxas e filões assinalados
Num ano fecundo de eventos políticos, com dissoluções parlamentares, eleições, arrufos, ameaças, comissões de inquérito e demais agitações, o resultado prático de qualquer mudança de paradigma político na Região é nulo. Não basta haver o cadáver ensanguentado prostrado no chão, com a mão ainda trémula e com resíduos de pólvora. A justiça, as imunidades, e as garantias de excepção parecem exigir o cano do revólver fumegante, como nos velhinhos “westerns”.
Quando o PSD-Madeira não se basta a si próprio, tem toda uma oposição que lhe dá guarida. Estamos muito para além da aritmética simples do conforto dos 24 deputados que garantem a maioria absoluta. Contudo, mesmo assim, o PSD com o encolher de ombros do PS-Madeira pretende alterar a lei eleitoral, para ganhar na “secretaria”, aquilo que já não almeja conseguir nas urnas de voto.
Este baralhar de cartas para que nada mude, enferma também a política nacional, quando constatamos que neste momento político, em vésperas da votação do Orçamento de Estado (OE), não há rasgo nem animosidade alguma, em fazer mudanças distintivas. Tal é o marasmo, e ausência de horizontes que subtilmente o “Bloco Central” instala-se entre nós, numa revisitação por todos conhecida.
Nem os deputados do PS eleitos pelo círculo da Madeira, anunciam fazer diferente, e, pelo que se espera, abster-se-ão violentamente após tanta verborreia causada por tamanha indignação pelas velhas reivindicações não-atendidas dos madeirenses, cobertas de teias de aranha. Os grandes autonomistas do PSD-Madeira em São Bento, também já meteram a viola no saco, pois, Montenegro atirou ao chão um punhado de lentilhas aos ilhéus, com a promessa da pífia redução da tarifa da mobilidade aérea, sem que nos desampare o elefante da loja, do adiantamento que o Estado e a Região nos impõe à partida para nos enviarmos no avião. Sim. Não se trata apenas de mais uma promessa quebrada. É a mesma esperança que de tão estilhaçada que está, a vassoura já se envergonha em soprar para debaixo do tapete.
O que já não cabe nem sequer sob qualquer carpete, é a massificação turística a que temos assistido, e que faz os deleites pavoneados do Governo Regional em lânguidas páginas de auto elogio panfletário. Temos uma secular experiência do quão importante é o turismo, enquanto atividade económica preponderante, apesar da crescente diversificação económica que se tem assistido, nomeadamente no setor imobiliário. Todavia, não só já nos falta vontade e oportunidade de desfrutarmos da ilha, como já não há tecto a um preço compatível com o nosso padrão médio de rendimentos.
Dirão uns, que esta é a dinâmica do desenvolvimento. Eu acho que estamos a nos regatear, e consequentemente a viver numa terra que repele cada vez mais, quem nela nasceu, por mais prémios e troféus que consigamos adquirir para engodar forasteiros de mochila, orientados à desmultiplicação alarve das inúmeras taxas turísticas outrora diabolizadas, só comparável à febre do ouro do Klondike do Alasca no final do século XIX. Os municípios e o governo encalharam neste filão dourado, e desde então salivam em frenesim.