Terá Albuquerque prometido um comboio que nunca existiu?
Na apresentação da nova Associação de Turismo do Monte, na última quinta-feira, Miguel Albuquerque falou em prolongar o Teleférico do Monte até ao Terreiro da Luta. O presidente do Governo Regional admitiu mesmo que, no futuro, não o tendo determinado, poderia mesmo chegar ao Parque Natural e ao Pico do Areeiro.
Para a extensão até ao Terreiro da Luta, Miguel Albuquerque vai argumentando com o “muito por explorar”, que existe no Caminho dos Pretos.
À publicação da notícia sobre o evento e proposta do presidente do Governo Regional, um leitor veio recordar, através de um comentário deixado no Facebook do dnoticias.pt, que Miguel Albuquerque tende a fazer anúncios que acabam por não ser concretizados, questionado se o mesmo se recordaria do comboio, que também iria até ao Terreiro da Luta.
Mas, terá mesmo Miguel Albuquerque prometido a construção de um comboio até àquele local?
Para verificarmos a veracidade da afirmação do leitor, socorremo-nos de notícias publicadas na imprensa regional, com especial enfoque no período em que Miguel Albuquerque foi presidente da Câmara Municipal do Funchal, cargo em que substituiu Virgílio Pereira e de que saiu em 2013.
Recorremos ao arquivo do DIÁRIO, não tendo havido necessidade de outras buscas.
Os grandes anúncios do projecto surgiram em 2003. Miguel Albuquerque anunciou a reconstrução de um Comboio entre o Monte e o Terreiro da Luta, recriando o outrora existente. Juntou esse projecto a outros como o empreendimento imobiliário mar adentro na zona do Toco, o Balão na praia, na Avenida do Mar, e os dois teleféricos, entre outros.
Em Maio desse ano, em texto de opinião com o título ‘Comboio do Monte’, Albuquerque dizia: “A Câmara Municipal do Funchal propõe-se agora, recuperar uma secção do tradicional circuito do caminho-de-ferro do Monte, entre o centro desta freguesia e Terreiro da Luta. Trata-se de uma mais-valia evidente, se entendermos a herança patrimonial numa lógica contemporânea, de criação de novos usos, funcionalidades e atracções, no respeito pela memória como referência a um presente actuante e estimulador.”
Mais à frente acrescentava: “Este novo projecto, cujo concurso de concepção, construção e exploração será, em breve, lançado, implicará a recuperação dos equipamentos arquitectónicos existentes, e a construção duma pequena unidade de apoio no fim de viagem, no Terreiro da Luta. A estação no Largo da Fonte será transformada em casa de chá do séc. XIX, em estrito respeito pela tradição oitocentista.”
Em Outubro do mesmo ano, em novo texto de opinião, intitulado ‘Funchal e competitividade turística’, publicado no DIÁRIO, Miguel Albuquerque, depois de falar na criação de polos de atractividade, concluía: “Acresce que outros investimentos em perspectiva assentam nos mesmos objectivos: O Comboio Turístico entre o centro do Monte e o Terreiro da Luta, cujo concurso internacional já está a decorrer e o Complexo do Toco - marina, hotelaria, comércio e habitação - cujo concurso internacional em breve será lançado.”
O comboio continuou promessa nos anos seguintes, incluindo os de eleições de 2005 e 2009.
Em Janeiro de 2004, o projecto aparecia na companhia de outros como o Balão Panorâmico “no centro da Cidade, cujas obras já se iniciaram, com a criação de 32 novos postos de trabalho. É o teleférico, já adjudicado, entre as Babosas e o Jardim Botânico, cujas obras estão também a iniciar-se. É o Comboio Turístico entre o Centro do Monte e Terreiro da Luta cujo concurso já está lançado. É ocaso do Complexo do Toco, que criará, a leste, uma nova centralidade e cujo concurso internacional de concepção, construção e exploração, será aberto no primeiro trimestre deste ano. É ainda o Parque da Criança, a norte do Passeio Público da Frente Mar, cujo concurso já foi adjudicado. E o Espaço Aquático a oeste das Poças do Governador cujo concurso também foi adjudicado.”
Em Julho de 2005, ‘vésperas de eleições’, Albuquerque dizia esperar ter o comboio no terreno em 2006.
Em Fevereiro desse ano, veio o anúncio de que a obra custaria sete milhões de euros e… nada mais.
Em Julho de 2007, era notícia que a CMF de Miguel Albuquerque havia decidido inventariar os terrenos a expropriar para a obra do comboio.
A 1 de Abril de 2008, era noticiado que Albuquerque dizia que o projecto estava em análise. “Existe já uma decisão, há uns acertos técnicos que estão a ser desenvolvidos pelo consórcio que ganhou o concurso e vamos retomar este processo, que tem alguma complexidade por causa dos investimentos altos”.
A 21 de Setembro de 2009, a menos de um mês das eleições autárquicas desse ano, Miguel Albuquerque fez a apresentação pública do projecto e estimava que estivesse a funcionar em 2011.
Depois dessa data (2009), a obra saiu do discurso de Albuquerque. Pelo menos não encontrámos notícias significativas a esse respeito. Algo que não é relevante à avaliação da afirmação do leitor.
Pelo exposto, reforçado pelo facto de ainda hoje nada existir, no que se refere à reconstrução/construção revivalista do Comboio do Monte, nomeadamente, no troço entre o Largo da Fonte e o Terreiro da Luta, avaliamos como verdadeira a afirmação do leitor Duarte G. É verdade que Albuquerque prometeu um comboio entre o Monte e o Terreiro da Luta, que, passados mais de 20 anos, não existe.