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Partido Republicano cada vez mais "autoritário" ataca media e universidades, alerta académico

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O Partido Republicano norte-americano, sob liderança de Donald Trump, tem-se assumido cada vez mais como autoritário, reforçando ataques à comunicação social e ao meio académico, defende Pedro Lopes de Almeida, docente na Carolina do Norte.

"Os meios de comunicação social e as universidades são, nas sociedades democráticas, fontes de informação, fontes de livre pensamento e isso é percebido como uma ameaça a um partido que cada vez mais, e dia a dia de forma mais explícita, se assume como um partido autoritário", afirmou, em entrevista à Lusa, o professor residente há 11 anos nos Estados Unidos.

Evidência destas tendências ditatoriais são várias declarações feitas pelo ex-presidente e recandidato republicano ao longo dos últimos meses, "que em qualquer país configurariam atentados ao Estado de direito e de forma clara atentados aos direitos de liberdades e garantias individuais", sublinha.

Num comício de Trump a que a Lusa assistiu na semana passada, praticamente todos os membros do Partido Republicano e da campanha de Trump que tomaram a palavra atacaram a comunicação social.

Uma responsável da comunicação da campanha pedia, pouco antes de o ex-presidente subir ao palco, que as pessoas ignorassem "as mentiras dos media", prometendo que "a verdade" seria ali proferida dentro de pouco tempo por Trump.

A intervenção de Trump começou praticamente com um ataque à comunicação social: "muitos 'fake news' lá ao fundo [da sala]... falsificadores", afirmou, para apupos da multidão. Pouco depois, criticava a "demonização e ódio" pela campanha democrata.

Para Pedro Lopes de Almeida, a comunicação social e as universidades estão "na primeira linha dos valores" da liberdade de expressão e pensamento, estando em causa na campanha para as eleições de 05 de novembro uma "diabolização das instituições". 

"A par disto, vemos o investimento neste momento na política norte-americana em plataformas que se assumem como alternativa à comunicação social e que são profundamente perigosas, como, por exemplo, o ex-Twitter, agora X", rede social comprada pelo bilionário Elon Musk.

Este magnata nascido na África do Sul converteu-se durante a campanha num feroz apoiante de Trump, inclusivamente participando nos seus comícios.

Para o professor de Estudos Portugueses, Brasileiros e da África Lusófona, o X "neste momento, basicamente é uma rede social de disseminação de ódio e, portanto, há um esforço por parte de algumas forças em disputa nestas eleições, de diabolizar a comunicação social e de abrir as portas a este tipo de plataformas que são de facto franjas e que são muitas das vezes radicalizadas com o discurso de ódio, com racismo, com apelo às armas, à violência, (...) coisas que nos meios de comunicação social não têm lugar".

O académico, que em 11 anos nos Estados Unidos já passou por universidades situadas em envolventes mais liberais - Brown (Rhode Island) e Santa Barbara (Califórnia) - recorda o dia após a eleição de Donald Trump em 2016, quando estava no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros de Brown, como um dos mais sombrios de sempre no país.

"No passeio havia pessoas que estavam a caminhar e que paravam de repente, às 9 ou 10 da manhã, a chorar", recorda. 

"O clima era uma tensão difícil sequer de explicar e as pessoas não se cumprimentavam, não se olhavam os olhos, todos percebíamos que algo de muito grave tinha acontecido na noite anterior, que algo se tinha quebrado naquilo que é o tecido da sociedade norte-americana", adianta.

As eleições entram na reta final com Trump e Harris praticamente empatados nas sondagens em estados como a Carolina do Norte, Georgia e Pensilvânia, onde uma vitória fará a diferença em termos de votos do colégio eleitoral. Foi com vitórias neste estado que Trump conseguiu derrotar Hillary Clinton em 2016, apesar de a democrata ter sido a mais votada no total nacional.

E com Donald Trump a instigar sentimentos anti-liberais na campanha eleitoral, que muitos dos seus companheiros de partido não hesitam em rotular de socialismo ou mesmo comunismo, Lopes de Almeida admite que a sua eleição teria consequências, num mau sentido, para o meio académico.

"O dia seguinte seria trágico. Seria uma repetição de um filme que eu esperava não ver mais na minha vida. Mas tenho a certeza que também será em espaços como este, que no dia seguinte se vai começar a preparar a resistência, a vida intelectual, para além de um regime encabeçado por uma figura como essa", frisa.