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Análise

Ainda há muito por fazer

Se a Madeira não quiser ser a ‘Cochinchina’ vai ter que fazer mais do que obras

Faz falta obra pública e em Setembro ficou evidente a crise no lançamento das empreitadas. Faz falta remédio para grandes males e só esta semana 145 medicamentos falharam na farmácia hospitalar do SESARAM. Faz falta quebrar o ciclo de pobreza e da violência doméstica e a prova é que mais uma mulher madeirense morreu à conta de crueldade insuspeita. Mas há mais.

Faz falta humildade. Para reconhecer o erro, para emendar a mão e para que haja mais gestos solidários. A CMF vai apoiar em 20 euros/mês o táxi para pessoas com mais de 75 anos. Trata-se uma medida singela mas de grande utilidade para quem a recebe, tão redentora quanto o apoio à comunidade valenciana ou aos euros e câmtimos que até hoje podemos partilhar no peditório nacional da Liga Portuguesa contra o Cancro.

Faz falta respeito pelos direitos e deveres dos cidadãos. Ver representantes nacionais dos trabalhadores e o Governo Regional trocar acusações sobre a paralisação prevista para vários sectores, como a Saúde e a Educação, é, no mínimo, confrangedor. Mas também preocupante.

Faz falta um núcleo de entendidos em Turismo que acrescente bom senso aos decisores, antes destes tomarem medidas precipitadas na ânsia de angariar mais uns euros em tempo de fartura. A quem serve cobrar mais taxas em sete percursos pedestres se, como escreveu na passada semana André Barreto, “não há qualquer limitação do número de pessoas a circular nestes percursos, não há mais um vigilante contratado, não há um guia disponível para acompanhar os caminhantes, uma medida extra de segurança implementada, uma casa de banho mais colocada, mais limpeza a ser efectuada”?

Faz falta o desejo colectivo de nos transcendermos. Se até o geoquímico holandês, Dieke Postma, a viver na Região há algum tempo, detecta que “a Madeira e Porto Santo têm todas as condições para serem ilhas muito melhores”, que temos feito para honrar um desígnio que cantamos no hino?

Faz falta um apurado instinto protector daquilo que nos diferencia e que é genuíno. Valeu-nos a Ordem dos Biólogos que deixou claro no parlamento que importa manter a reserva das Ilhas Selvagens e que o mar não se vende a populismos.

Faz falta o pacto com a transparência em larga escala. No ziguezagueante Chega foi descoberta uma moção de censura na gaveta que nem Miguel Castro sabe se irá usar contra o governo de Albuquerque. No ISAL esteve também na gaveta uma decisão com efeitos colaterais que só o recurso sem provimento conseguiu destapar. Nas diversas secretarias do executivo as gavetas estão cheias de decisões por despachar dado o receio instalado de alguém vir a ser julgado na praça pública. Merecíamos mais.

Faz falta formação constante em postura democrática. E há uma área de elevado défice, a do respeito pelas instituições e de quem as representa, a que se podem juntar lacunas em aspectos protocolares e desconsiderações de cariz político. Que dizer de um Governo Regional que organiza eventos em que fala da coesão e da sensibilidade do parlamento europeu para as questões das RUP, mas ignora o único madeirense representante eleito que lá tem? Será que o trabalho dedicado de Sérgio Gonçalves já está a gerar incómodos ou os decisores locais ainda não renovaram a assinatura do DIÁRIO?

Faz falta coerência. Nas palavras e nos actos. Uma conjugação de factores irrepetível valeu aos cofres da Região a maior receita fiscal mensal de sempre - cerca de 150 milhões de euros em Julho - quando a tónica seria a de desagravamento de impostos. Os socialistas eleitos na Madeira acabaram por abster-se na votação do OE na generalidade quando passaram o tempo a esbracejar contra Pedro Nuno Santos e a insultar o PSD-M a ameaçar que votariam contra. Esta gente quer ser levada a sério quando for a votos?

Faz falta gratidão. A que leva ao colo os turistas que nos procuram, a que distingue quem tem mérito, a que dá palco a quem habitualmente não passa da última fila ou a que Carlos Pereira exibiu no seu texto de reconhecimento ao “edifício humano que acomoda inteligência e emoções da forma que um dia acabamos por precisar”.