Livre vai usar reforço salarial de políticos para financiar bolsa de estudo
O Livre anunciou hoje que vai abdicar do aumento resultante do fim do corte salarial dos políticos e utilizá-lo para atribuir uma bolsa de estudo, desafiando o Chega a "roubar a ideia" e fazer o mesmo.
Em declarações aos jornalistas no parlamento, o porta-voz do Livre Rui Tavares afirmou que o seu partido votou contra o fim do corte nos vencimentos dos políticos, aprovado em âmbito orçamental, por considerar que esse corte só deveria acabar "nos próximos mandatos" e que os deputados "não deveriam votar em interesse próprio".
"É por isso que eu venho aqui dizer que o Grupo Parlamentar do Livre não receberá estes aumentos. Todos os deputados e deputadas do Livre estão de acordo em relação a este ponto. Este dinheiro vai estar guardado à parte para se atribuir uma bolsa de estudo", afirmou, salientando que "os termos de atribuição dessa bolsa de estudo serão anunciados em breve".
Para Rui Tavares, "quem é coerente acerca destes assuntos e quem tem princípios, age assim".
"Se o Livre acha que os deputados não devem votar as suas próprias remunerações e o fim do corte das suas remunerações durante o presente mandato, então nesse caso também não recebe. Em vez de se ir montar a feira e pôr as colchas à janela, nós desafiamos os grupos que queiram fazer alarido deste assunto, que basicamente sigam o exemplo do Livre", disse, numa alusão ao Chega, que esta manhã colocou vários pendões na fachada do edifício da Assembleia da República contra o fim do corte nos vencimentos políticos.
Questionado se acha que a ação do Chega deve ter "consequências duras", Rui Tavares respondeu que "há uma lei e que essa lei deve ser aplicada" e acusou o Chega de "enxovalhar um monumento nacional, desrespeitar o parlamento de todos os portugueses, utilizar os gabinetes de trabalho, que são património do Estado atribuído aos deputados para trabalharem, como suportes de propaganda e de publicidade política e de tempo de antena gratuito".
O co-porta-voz do Livre criticou ainda o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, considerando que, desde que iniciou funções, não teve "uma estratégia clara" sobre como é que iria "gerir partidos que utilizam as regras da democracia para subverter a própria democracia".
"O senhor presidente da Assembleia da República nuns dias tem umas regras, noutros dias tem outras em relação às interpelações que o deputado André Ventura faz todos os dias", criticou, acrescentando que, "sem estratégia, ninguém percebe evidentemente o que o senhor presidente da Assembleia da República quer fazer".
"Desde o início do mandato, pedimos ao presidente da Assembleia da República que nos explicasse exatamente como é que entendia o seu papel de defender o prestígio da instituição. Como essa resposta nunca foi clara, agora estamos numa situação e vai ser muito difícil para ele encontrar um rumo", disse.
No entanto, Rui Tavares afirmou a culpa não é só de Aguiar-Branco, defendendo que "toda a gente que tem um cargo, uma responsabilidade política, ser a segunda figura do Estado ou ser líder do Grupo Parlamentar, ser deputado na Assembleia da República, o que tem de fazer é respeitar as instituições e legá-las aos próximos na melhor forma possível".
"E, para isso, é aplicar a lei", vincou.