Presidente da Protecção Civil diz que "tudo foi feito" no combate em Agosto
O presidente do Serviço Regional de Proteção Civil da Madeira, António Nunes, disse hoje estar de "consciência tranquila" sobre o combate ao incêndio de agosto, vincando que "tudo foi feito de acordo com o que era possível fazer".
O responsável explicou que as operações decorreram de forma a salvaguardar as vidas, as infraestruturas e o meio ambiente, por esta ordem, e disse compreender o sofrimento de quem viu os bens destruídos ou sofreu danos e traumas durante o incêndio, que, segundo precisou, teve uma duração de 11 dias e não de 14 conforme é noticiado.
"Temos mais do que a consciência tranquila, temos a certeza que tudo foi feito de acordo com o que era possível fazer naquelas condições climatéricas e orográficas, sem colocar em risco os profissionais do socorro", declarou.
António Nunes falava em audição na comissão de inquérito de apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios de agosto, que lavraram na ilha da Madeira entre os dias 14 e 26 daquele mês, na qual foi ouvido conjuntamente com o comandante operacional regional da Proteção Civil, Marco Lobato.
"O incêndio não teve uma duração de 14 dias, mas sim de 11, desde o dia 14 ao dia 24, quando foi dado como extinto. O que ocorreu até ao dia 26 foram focos de reacendimentos", clarificou.
O presidente do Serviço Regional de Proteção Civil indicou, também, que o relatório do incêndio está pronto desde o dia 16 de outubro de 2024, mas só hoje o entregou na comissão de inquérito porque nunca antes lhe foi solicitado.
António Nunes esclareceu, no entanto, que o relatório reúne toda a documentação avulsa já entregue aos deputados, incluindo a fita do tempo relativa ao combate ao incêndio.
Esta circunstância motivou críticas por parte de alguns deputados, sendo que Lina Pereira, do JPP, considerou "grave" que o relatório esteja concluído desde 16 de outubro, quando o secretário regional do setor, Pedro Ramos, declarou em audição no em 29 desse mês que o mesmo não tinha ainda sido elaborado.
Já o comandante operacional, Marco Lobato, depois de expor cronologicamente os acontecimentos, concluiu que "tudo foi feito nas primeiras 24 horas" para controlar o incêndio, que lavrava numa zona de difícil acesso, na freguesia da Serra de Água, no concelho da Ribeira Brava, com o combate a ser realizado sobretudo pelo meio aéreo, apesar das condições adversas decorrentes do vento forte.
Marco Lobato indicou que, entre os dias 14 e 24 de agosto, o helicóptero, o único meio aéreo em permanência na Madeira, efetuou um total de 361 descargas, e os dois aviões Canadair, acionados através do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, efetuaram 26 descargas entre os dias 22 e 23.
"Em suma, foram mobilizados mais de 1.000 operacionais de todas as forças e corpos de bombeiros neste período em sistema de rotatividade, apoiados por 268 veículos e três meios aéreos", adiantou, sublinhando que, apesar da violência e extensão do fogo, não houve registo de pessoas feridas e vítimas a lamentar, nem habitações consumidas pelas chamas, nem destruição de infraestruturas essenciais.
Em relação à área ardida, 5.104 hectares, disse que o impacto na floresta laurissilva, classificada como património mundial, foi "residual", afetando 139 hectares, menos de 1% da sua área total.
O comandante operacional especificou que cerca de 90% da área afetada pelo incêndio era de difícil acesso por via terrestre ou não oferecia condições mínimas de segurança para os operacionais, sendo o combate possível apenas com meios aéreos.
Por outro lado, o presidente do Serviço Regional de Proteção Civil admitiu falhas na comunicação com os jornalistas, mas garantiu ter havido apenas uma única restrição de movimento, na freguesia do Curral das Freiras, que "foi imposta pela perigosidade do cenário e conforme indicação dos Comando de Operações de Socorro no local".
António Nunes explicou ainda que nunca foi recusada ajuda externa, tendo esta ficado dependente da evolução do fogo, pelo que o pedido só foi declarado em 17 de agosto, apesar de nesse mesmo dia o secretário regional ter afirmado que apenas 10% do efetivo regional estava envolvido no combate.
A comissão de inquérito de Apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios ocorridos entre o dia 14 e o dia 26 de agosto foi requerida pelo PS e integra deputados dos sete partidos com representação parlamentar -- PSD, PS, JPP, Chega, CDS-PP, IL e PAN -- sendo presidida pela deputada socialista Sancha Campanella.
O incêndio rural deflagrou na ilha da Madeira em 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol, na zona oeste da Madeira, e Santana, na costa norte. No dia 26 foi declarado "totalmente extinto".
Apesar de não haver registo de feridos ou destruição de casas e infraestruturas públicas essenciais, os estragos ao nível da agricultura, da pecuária e da apicultura afetaram cerca de 200 produtores.
Por outro lado, 120 moradores da Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, foram retirados do local e continuam impedidos de regressar a casa.