José Ramos-Horta destaca reconciliação com Indonésia nas celebrações da independência
O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, destacou hoje, numa mensagem por ocasião do 49.º aniversário da declaração unilateral da independência, a reconciliação e a relação com a Indonésia, que são um "modelo para o mundo".
Na mensagem, divulgada nas redes sociais, mas que não foi lida na íntegra durante a cerimónia de celebração, que decorreu no enclave de Oecussi, no lado indonésio da ilha de Timor, o chefe de Estado agradeceu a presença de uma delegação indonésia, liderada pelo ministro da Defesa, Sjafrie Sjamsoeddin, em representação do novo Presidente do país, Prabowo Subianto.
"Hoje, Timor-Leste e a Indonésia são países livres e democráticos, cujas trajetórias exemplares demonstram que é possível superar conflitos do passado e construir um futuro de paz e cooperação", afirmou José Ramos-Horta.
"Essa reconciliação é um modelo para o mundo, mostrando que as diferenças podem ser transformadas em oportunidades de diálogo e colaboração", salientou o prémio Nobel da Paz.
Na mensagem, o chefe de Estado recordou a liderança de Xanana Gusmão no "caminho da reconciliação" ao apelar aos timorenses para deixarem as tragédias no passado, cuidarem das vítimas e honrarem os mortos de ambos os países.
"Essa liderança visionária tornou possível abraçar os nossos irmãos e irmãs na Indonésia, incluindo aqueles que, lutando a favor da autonomia, optaram por manter a sua ligação cívica com a Indonésia", disse.
Para o Presidente timorense, se é para julgar o passado então é preciso começar pelos "episódios sombrios de violência registados a partir de agosto de 1975" e as "purgas ideológicas".
"Não podemos esquecer as lágrimas das vítimas dos inúmeros assassinatos políticos que privaram Timor-Leste de muitos dos seus melhores filhos", afirmou.
O Presidente referia-se ao conflito interno que eclodiu em agosto de 1975 após a Associação Popular Democrática Timorense, que defendia a integração na indonésia, e a União Democrática Timorense, que defendia a integração de Timor-Leste numa comunidade de língua portuguesa, terem contestado os resultados das eleições, realizadas em meados daquele ano, que deram a vitória à Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin).
A Fretilin acabaria por fazer a declaração unilateral da independência a 28 de novembro de 1975, mas nove dias depois, a 07 de dezembro de 1975, a Indonésia invadia o país, tendo permanecido no território até à realização do referendo de 30 de agosto de 1999, quando os timorenses votaram pelo fim da ocupação, levando à restauração da independência a 20 de maio de 2002.
Voltando a Xanana Gusmão, o Presidente recordou que o atual primeiro-ministro se inspirou na matriz cristã para "defender a paz, a verdade e a reconciliação".
"Uma visão magnânima que nos tem permitido abraçar antigos inimigos e construir juntos um futuro de paz e estabilidade na região", afirmou.
Referindo-se à importância do processo de reconciliação nacional, o Presidente afirmou que é "reconhecido internacionalmente como um exemplo a ser seguido", mas que pode ser mais "célere e ambicioso".
"A reconciliação, contudo, exige coragem para aprofundar os laços, para buscar a verdade e cultivar a amizade entre todos", afirmou José Ramos-Horta.