A infância nos 80’s

Power. Ponho a cassete e faço rewind.

Acordar com a buzina do padeiro que passava com a sua carrinha a vender pão quente.

Colégio Santa Teresinha. Aqueles girinos na “lagoazinha” do pátio, o telefone falso que não podia fazer chamadas a casa, os desenhos abstractos e “naif”, e ser forçado a dormir à tarde naqueles colchões estendidos pela sala.

Forward. A escola primária dos Ilhéus (rodeada de bananeiras) com os meus novos colegas e a Professora Alice Crespo - continua jovial. Escrever a “complicada” letra “f”, escrever composições, os jogos de futebol no intervalo, trocar (e não “destrocar” como alguns diziam!) cromos - como daquela caderneta com os recordes mais incríveis do mundo!

Em casa, ler os quadradinhos: Zé Carioca, Cascão ou o Bolinha.Esperar até às 17h e ver na TV: o “Woody Woodpecker” e a sua risada ou o “Dartacão” correndo grandes perigos.

Depois, ver o European Countdown com os videoclips da jovem rebelde Madonna, o “Rock me Amadeus” do Falco ou a galinha dançante no Sledgehammer” de Peter Gabriel.

Víamos o “Jogos sem Fronteiras” (equipas da Madeira eram sempre excelentes), a Eurovisão (oportunidade para ver mulheres bonitas…). O telejornal com Reagan e Gorbachov, e sempre a incerteza de uma guerra EUA-URSS. As metralhadoras na triste guerra Irão-Iraque constantemente nas notícias.

As festas de aniversário personalizadas. Em que chegar a cada única casa do aniversariante (convites escritos em cartões) era aventurar-se por becos, subidas e ruas que desconhecíamos.

As idas à Matur, era como uma “disneyland”, já era um universo mais evoluído que o resto da Madeira. As máquinas de Flippers, até havia uma com espingarda! A piscina olímpica com aqueles degraus gigantescos “à la” Gulliver, e o vidro no piso inferior que via-se a pessoa na piscina.

As primeiras viagens a Lisboa, onde tudo era maior. Comer bolas de berlim e ler a “Gazeta dos Desportos”, o futurista C.C.Amoreiras, ver os impressionantes murais políticos ou andar de metro.

A sorte de ainda brincar na rua. Brincar com pistolas e “walkie-talkies”, os saltos nas fogueiras dos santos populares ou simplesmente a “apilhagem” ou às “escondidas”.

© 1982 Sinclair research ltd. O primeiro Spectrum: o 48 K e os primeiros jogos “Pssst”, “Chuckie Egg”, “Match Point”...

1987. O FC Porto campeão europeu. Aquela equipa, aquele trio: Futre, Madjer (o virtuoso mais genial que passou no FCP) - “slow motion” no calcanhar de Viena - e o Fernando Gomes, meu ídolo de infância, golos atrás de golos sempre com o seu sorriso. Descanse em paz.

Brincar com os “playmobil” ou o “He-Man”. Jogar ao “Sabichão”, futebol de mesa ou às caricas.

Forward. Escola HBG. Ainda moderna, novos colegas e antigos colegas, o fascínio das novas disciplinas, a primeira eleição como delegado de Turma, aulas de música e de religião e moral…

Eject… Cassete encravada! Resolve-se depois… Power off.

Vidas mais simples mas não menos felizes… Uma Madeira mais bonita, mais humilde, mas também mais sossegada.

Sem telemóveis, sem redes sociais, mas mais humanismo. Como a tecnologia tomou conta da nossa sociedade.

Temos sempre os nossos problemas em qualquer idade, agora rimo-nos dos mesmos.

Mas quando éramos crianças eram proporcionais à nossa dimensão de então…

Mas a infância é (quase para todos) sempre o nosso melhor período da vida.

Que sorte que eu tive em ter crescido nos ‘80s…

Rodrigo Costa