Será que Albuquerque é o único dirigente do PSD-Madeira que é alvo de críticas de Jardim?
A discussão sobre a situação no Governo Regional e no PSD-Madeira está ao ‘rubro’. Um dos sintomas desta crise política é a troca de críticas entre o anterior e o actual líder dos social-democratas madeirenses, que atingiu, nos últimos dias, um nível inaudito. Na segunda-feira, na CNN Portuga, Alberto João Jardim voltou a defender o afastamento do presidente do Governo. Ontem, Miguel Albuquerque respondeu e disse que para o seu antecessor “toda a gente que tem aparecido à frente do PSD ninguém presta”. Também ontem, na rede social X (antigo Twitter), Jardim apresentou a réplica, garantindo que “nunca” se referiu pela “negativa” em relação a outros dirigentes do actual PSD-Madeira e que circunscreveu os seus reparos a Albuquerque. Terá sido mesmo assim?
Em primeiro lugar, há que assinalar que há mais de duas décadas que Albuquerque e Jardim têm divergências políticas, algumas assumidas publicamente. A animosidade entre ambos agravou-se quando o ex-presidente da CMF, liderando uma corrente denominada de ‘Renovação’, concorreu contra o líder histórico nas eleições internas no PSD-Madeira de Novembro de 2012, corrida que este último ganhou por curta margem. Em 2014, Albuquerque voltaria a concorrer e venceu contra Manuel António Correia. Nunca caiu nas graças de Jardim, embora este tenha moderado a sua avaliação a partir de 2017, quando Albuquerque remodelou o seu primeiro Governo e chamou Pedro Calado para seu vice-presidente.
A tensão foi reactivada a partir do momento da operação policial e da investigação judicial desencadeada em 24 de Janeiro do corrente ano. Uma semana após as buscas a várias instituições públicas e empresas privadas da Madeira, realizadas por dezenas de inspectores da PJ vindos do continente, Jardim sentenciava, no seu espaço de opinião quinzenal no Telejornal da RTP-Madeira, o fim da corrente interna que o enfrentara 8 anos antes: “Neste momento, termina o ciclo político daquele grupo chamado Renovação”.
Nos últimos dias, o diferendo subiu para o tom mais grave de sempre. Ao contrário do que é habitual, o actual presidente do executivo reagiu directamente à entrevista de Jardim à CNN Portugal, dizendo que este está à espera que apareça “um ungido com óleos especiais de santidade, à semelhança dele”, para tomar conta do PSD e do Governo Regional. Já o antigo presidente qualificou Albuquerque de “criatura problemática cujo pipinar psicótico e divisionista”.
Para responder à questão inicial, temos de ver como Jardim tem analisado a actuação do PSD e do Governo Regional. Na já citada entrevista à CNN, o ex-presidente apontou responsabilidades pessoais a Albuquerque, porque “um líder partidário une e não desune e em nove anos ele não conseguiu unir o PSD”. Mas também atribuiu responsabilidades colectivas e dirigiu ataques ao universo de filiados e à comissão política, principal órgão de direcção do partido: “Dizem-me que está lá muita gente que nem é do PSD. Está lá para segurar a actual direcção política. Não é havendo um novo congresso do PSD-Madeira, num colégio eleitoral que está armadilhado, que se vai resolver esta questão”. A solução que propôs foi a saída de Albuquerque e a sua substituição por uma pessoa escolhida por um consenso estabelecido entre o “núcleo que está agora no Governo da Madeira” e o grupo de Manuel António Correia. Mais à frente, na mesma entrevista, Jardim voltou a fazer reparos a um colectivo e não apenas ao actual líder do seu partido: “Foi este grupo que está lá que começou a desestabilização do PSD, sabendo que eu chateava-me se o partido não estivesse unido”.
É verdade que o ex-governante tem criticado Albuquerque, mas tem deixado claro que só considera que o PSD volta a entrar nos eixos quando sair a “meia dúzia” de pessoas que constitui o “núcleo duro” da corrente ‘Renovação’. Disse-o, por exemplo, num artigo de opinião publicado no JM a 15 de Março deste ano. Em 2021, na sua conta na rede social ‘X’, atacou a “estratégia vergonhosa dos ‘renovadinhos’, pró-oposição’” que contribuiu para o resultado fraco das autárquicas de 2013, em que o PSD perdeu a Câmara do Funchal.
Em resumo, o antigo governante e ex-líder partidário não imputa exclusivamente a Albuquerque os problemas do PSD-Madeira, atacando também "meia dúzia" de dirigentes do respectivo núcleo duro, embora sem os nomear.