Com menos compadres Academia do Bacalhau continua a ajudar carenciados
Apesar da crise económica na Venezuela e de ter menos compadres, a Academia do Bacalhau de Caracas (ABC) continua a angariar fundos para ajudar os portugueses carenciados e o Lar da Terceira Idade Padre Joaquim Ferreira.
"Antes éramos 700, às vezes 600 e este ano somos 350, mas são bons. A situação económica das pessoas, não apenas na Venezuela, mas mundial, já não permite tanto. Graças a Deus continuamos sempre a contar com o apoio das pessoas", disse o presidente.
José Luís Ferreira falava à Lusa à margem da tertúlia de fim de ano, que teve lugar domingo no Centro Português de Caracas, na qual participaram 350 compadres.
"Agora há menos [compadres]. Uns emigraram e outros fecharam as empresas. Também por diversas circunstâncias as empresas já não têm o mesmo lucro que antes. É uma realidade que já não podem fazer o mesmo contributo que antes, mas sempre há quem ponha um grão de areia, que nos apoie e isso é importante", disse.
José Luís Ferreira recordou que a ABC foi fundada há 29 anos, para construir um lar de idosos e que acabou por unir-se à Sociedade Portuguesa de Damas de Beneficência para avançar com o projeto do Lar da Terceira Idade Padre Joaquim Ferreira.
"O primeiro movimento de terra foi feito com o patrocínio da Academia do Bacalhau e custou praticamente o valor do terreno, nessa altura", explicou.
Segundo José Luís Ferreira, a solidariedade continua a ser a palavra-chave da ABC, não só com o lar, mas com portugueses carenciados.
"Continuamos a apoiar o lar, que tem capacidade para albergar 120 idosos, mas fazemos também ajudas a casos pontuais na nossa comunidade, entre eles funerais, operações de emergência, próteses e outras situações médicas, dependendo da necessidade das pessoas", explicou.
José Luís Ferreira disse que cada caso é analisado por uma comissão da ABC, que realiza um relatório.
"Não fazemos contributos [monetários] às pessoas, mas sim a instituições, como clínicas e hospitais. Inclusive agora estamos ajudando uma ONG [organização não governamental] que distribui sopas diariamente. Nós fazemos as compras e entregamos-lhe o material para que possam fazer essa sopa", disse.
José Luís Ferreira é presidente da Academia há 28 anos e, apesar de pôr o cargo à disposição, continua a ser escolhido para presidir a ABC.
"Para mim é um orgulho, pela confiança demonstrada pela comunidade (...). O meu cargo sempre tem estado à disposição, mas os compadres dizem querer continuar trabalhando sempre como equipa, que o importante não é quem é presidente, é fazer o trabalho conjunto como temos feito até agora (...). Sou presidente, mas sou compadre e aqui todos somos iguais", precisou.
José Luís Ferreira explicou ainda que na Venezuela funcionam quatro academias do bacalhau, em Caracas, Los Altos Mirandinos (nos subúrbios da capital), Maracay (centro--norte) e Valência (norte).
"Hoje somos 250, amanhã seremos 500, o importante é que continuamos com essa força, a ajudar a quem mais necessita", concluiu.
As academias do bacalhau, que surgiram na África do Sul, são tertúlias de amigos que se reúnem periodicamente para angariar fundos para ações de solidariedade social, à volta de um prato de bacalhau.