Será que a Madeira venceu um prémio como destino de um desporto que está em declínio no Mundo?
A Região Autónoma da Madeira venceu o ‘Óscar’ de Melhor destino emergente de golfe do mundo. Foi na cerimónia dos World Golf Awards, que decorreu ontem à noite, no Hotel Savoy Palace, no Funchal.
A notícia deste prémio foi bem recebida pela maioria dos madeirenses que se manifestaram nas redes sociais, tendo essa satisfação sido traduzida, por exemplo, com o sinal de ‘gosto’ no Facebook. Mas também suscitou alguns comentários críticos. Houve quem achasse oportuno referir que o golfe continua a ser “um desporto de cariz elitista” e que a maioria das pessoas aprecia mais o “futebol, rali e pesca desportiva”. Outros quiseram lembrar que a atribuição deste prémio não constitui propriamente uma novidade, pois a Região ganhou o mesmo galardão em 2019. Estas conclusões não deixam de ser verdadeiras. Mas houve uma crítica que levanta dúvidas. “Quando o golfe em todo o mundo está a entrar em declínio, vem a Madeira salvar a modalidade...”, observou um cidadão. Será que o número de praticantes de golfe está mesmo a diminuir no plano global?
Quantos golfistas existem no mundo? Foi essa a questão a que se propôs responder recentemente a ‘Golf Monthly’, a revista mais antiga especializada neste desporto. A análise concluiu que o número de praticantes desta modalidade varia consoante a definição que se atribui ao termo "golfista". Se contarmos apenas aqueles que jogam num campo, mesmo que seja de nove buracos, o número mundial de golfistas ronda hoje cerca de 68 milhões. Mas, se incluirmos aqueles que deram uma tacada, seja num campo ou seja num simulador, o número sobe para mais de 106 milhões.
Há duas organizações que regulam o golfe a nível mundial. A United States Golf Association é a autoridade do golfe nos EUA e no México. O The Royal & Ancient Golf Club of St Andrews, conhecido pela sigla ‘R&A’ e sediado na Escócia, regula o jogo no resto do mundo, tendo 146 países associados. O relatório da R&A referente a 2023 refere que nos 146 países associados há 61,2 milhões de adultos que praticam golfe, 39,6 milhões dos quais jogam golfe de 9 ou 18 buracos. Os outros participam do golfe de várias outras maneiras, como em campos de golfe ou em simuladores de golfe. Concluiu que houve um aumento de 15% no número de jogadores de golfe de 9 e 18 buracos desde o anterior estudo de 2020. Os países filiados no R&A com mais golfistas são: Japão 8,1 milhões; Canadá 5,6 milhões; Coreia do Sul 5,3 milhões; Inglaterra 3,4 milhões e Alemanha 2,1 milhões.
No entanto, o país com mais golfistas é os EUA. Sobre este país, o estudo mais recente da National Golf Foundation observou que 26,6 milhões de pessoas jogaram num campo de golfe e outros 18,4 milhões participaram exclusivamente em actividades de golfe fora do campo, em espaços vocacionados para treinos específicos, simuladores de golfe em espaços fechados ou parques de entretenimento.
Todas as análises à evolução global deste desporto apontam para um aumento do número de praticantes. Por exemplo, o citado relatório do R&A mostra que houve um aumento de dez milhões de golfistas adultos no período de sete anos. Se no ano de 2016 havia 29,6 milhões de jogadores, em 2023 seriam os já citados 39,6 milhões. O estudo indica que a tendência de crescimento começou antes do início da pandemia de Covid-19 e continuou após a crise de saúde pública.
Apesar dessa tendência global de alta, certos mercados apresentam dinâmicas específicas. Nos EUA e Japão, mercados já maduros, a prática do golfe mantém-se forte, mas o crescimento é proporcionado por novos formatos e inovações tecnológicas. Na Coreia do Sul, onde há limitação de espaço para campos tradicionais, são particularmente populares os formatos alternativos, como os simuladores. Já no corrente ano, houve notícias de clubes de golfe da Escócia que entraram na bancarrota devido a um aumento dos custos de funcionamento (energia, seguros e vencimentos de funcionários) e à quebra no número de sócios.
A inclusão de mulheres e jovens neste desporto tem sido uma prioridade global, o que contribui para a diversificação da base de jogadores. Na América do Norte, por exemplo, prevê-se um aumento significativo de jogadoras e da geração millennials (nascidos entre 1980 e 1995), enquanto as gerações idosas continuam a ser uma base importante, devido à sua maior disponibilidade de tempo e recursos financeiros.
Adaptando a este contexto uma frase do escritor Mark Twain, sempre se concluirá que as notícias sobre o declínio do golfe no plano mundial "são manifestamente exageradas“.