Missionário, camarada guerrilheiro e prisioneiro em Moçambique
José despede-se da metrópole e vai ser missionário em Nampula Moçambique no tempo do Bispo Vieira Pinto. Em Abril de 1972 entra no Centro Catequético do Amochilo No seu primeiro Natal, com acerbadas massagens , mantém viva uma criança acabada de nascer.
Mais tarde trabalha na Paróquia de Nossa Senhora da Paz, circunscrita ao bairro de Nametacula, um grande aglomerado de palhotas famoso pela prostituição muito frequentado pelos militares das nossas tropas.
Em 7 de Abril de 1974 assistiu à expulsão dos missionários Combonianos, e do Bispo Vieira Pinto que tinha escrito «Um Imperativo de Consciência e Repensar a Guerra».
O padre José emocionado com os discursos de Samora, abandona em 31 de julho de 1974 a sua paróquia para se juntar à Frelimo num processo rocambolesco, mistura de ingénuo, mistura de impulso revolucionário, através de uma rede política que juntava uma diversidade de interesses e cumplicidades até com gente ligada ao colonialismo que o leva para fora de Moçambique, passa um mau bocado, viaja na mesma carrinha que Uria Simango (que mais tarde é morto pela Frelimo)
Note-se que em 27 de julho por pressão do MFA, Spínola garantia independência das colónias. Em Nampula estava a linha mais progressista do MFA (Major Tomé Capitão Aniceto Silva, Major Lousada Soares entre outros) e já existia liberdade de imprensa. A Frelimo com a sua estrutura clandestina tinha passado à normalidade.
O padre, profundamente ingénuo, meteu-se numa quantidade de sarilhos: foi para o Malawi, foi preso pela Frelimo e passou uns maus bocados! Conheceu o camarada da Frelimo Olímpio Vaz, e apresentou-se como futuro formador de continuadores da Frelimo.
Em princípio de dezembro de 1974, está colocado ao serviço da Frelimo em Milanje /Zambézia e verifica que as condições eram difíceis. Ao terceiro dia, uma camioneta está preparada para levar os prisioneiros para Quelimane.
A primeira tarefa do missionário era ser professor, e em resumir e comunicar as notícias transmitidas aos membros do quartel e ensinar as primeiras letras aos guerrilheiros da Frelimo, que eram praticamente analfabetos.
No antigo campo da Pide em Nicoadala, agora ao serviço da Frelimo, mesmo antes da Independência, dá aulas a crianças e adolescentes.
Convém referir que o Bispo Vieira Pinto regressou em 1 de janeiro de 1975 e assistiu à tomada de posse de Samora Machel e que não deve ter tido conhecimento desta situação.
Pós-independência (junho de 1975) foram nacionalizados alguns bens incluindo o antigo Seminário Maior para onde foram transferidos os alunos continuadores da revolução e o camarada José.
José era um humanista, o que era estranho para alguns dirigentes da Frelimo. Porém não se sabe se alguma vez José foi pedir apoio ao Bispo Vieira Pinto para regressar á sua paróquia.
José desilude-se com a sua militância revolucionária, e com as condições no terreno, abandona o campo e com ajuda do irmão tenta sair do País e vai ter com ele à Beira. Regressa a Quelimane onde é preso diversos dias e depois liberto.
Foi recebido pelo governador da Frelimo Bonifácio Gruveta, que teve curiosidade em saber da decisão do missionário, deste regressar a Portugal e fazer um caminho diferente.
O ex-missionário, o ex-camarada regressa a Portugal em 3 de fevereiro de 1976 desconhecendo-se se manteve religioso ou se tornou ateu.
Dá aulas, estuda filosofia, licencia-se em medicina, especialista em neurologia, trabalha em diversas clínicas, toca saxofone, dança e presta atenção aos doentes de alzheimer. Vive em Portugal, para ele, segundo os seus amigos, os seus tempos na Frelimo ficaram para trás.