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Votantes do Chega com mais emoções negativas face à democracia

Comparativamente aos votantes de outros partidos, segundo estudo 'UNPOP - Desmontar o Populismo', realizado na Universidade de Coimbra

Foto Reinaldo Rodrigues / Global Imagens
Foto Reinaldo Rodrigues / Global Imagens

Os votantes do Chega apresentam mais emoções negativas face à democracia do que o restante eleitorado e relacionam-se mais positivamente com a possibilidade de um Governo autoritário, concluiu um estudo que relaciona as emoções com o populismo radical de direita.

O estudo, com um inquérito realizado em março a cerca de 1.000 eleitores portugueses, foi realizado no âmbito do projeto de investigação UNPOP - Desmontar o Populismo, realizado na Universidade de Coimbra, juntando o Centro de Estudos Sociais e o Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental.

Apesar de quase metade (41%) dos votantes no Chega associar emoções positivas à democracia representativa, a maioria (51%) relaciona emoções negativas, nomeadamente a vergonha (26%) e a tristeza (19%), muito mais do que o restante eleitorado (33% de emoções negativas em relação à democracia representativa), concluiu o artigo científico dos investigadores do projeto publicado recentemente.

Cerca de 28% dos eleitores daquele partido da direita radical apresentam emoções positivas perante a possibilidade de Portugal ser governado por um líder autoritário (contra 7% do restante eleitorado).

Apesar de o restante eleitorado também apresentar sobretudo emoções negativas (63%) sobre a possibilidade de serem necessários mais migrantes para melhorar a economia, o seu peso é superior no Chega (74%).

Já sobre a possibilidade de Portugal ser conduzido por um partido radical, 41% dos votantes no partido liderado por André Ventura associam emoções positivas (sobretudo admiração).

Já o restante eleitorado apresenta emoções negativas, como o medo e a raiva (apenas 8% associam emoções positivas).

O inquérito, que também é aplicado a votantes italianos (debruçando-se sobre os eleitores do Irmãos de Itália, partido de Giorgia Meloni), introduz 12 perguntas sobre questões relacionadas com a realidade portuguesa e italiana, e outras 12 relativas a cenários hipotéticos.

Ao invés de perguntar aos inquiridos sobre o que pensam em torno de cada tópico, as pessoas são levadas a expressar "o que sentem", referiu Cristiano Gianolla, um dos coordenadores do projeto e investigador do CES.

Os dados recolhidos "mostram que todos os votantes e não apenas os votantes do Chega ou da Fratelli d'Italia [Irmãos de Itália] respondem com emoções", o que varia é a emoção que expressam em relação a determinado objeto -- algumas poderão ter até uma capacidade de inibição de ação (como o medo ou a vergonha) e outras um maior potencial mobilizador, como é o caso da raiva -, aclarou.

O coordenador do projeto acredita que partidos de direita radical como o Chega têm conseguido criar narrativas políticas simples, onde há sempre um culpado, construindo até preocupações que não existiam no passado.

Ao mesmo tempo, o partido desenvolve emoções positivas em relação a si próprio e ao seu líder, referiu.

Segundo o investigador, é também importante analisar o papel dos órgãos de comunicação social, que acabam por "disseminar esse tipo de ideias", e dar visibilidade a narrativas políticas que, de outra forma, estariam nas franjas do discurso público.

"Estes partidos capitalizam e extremizam o tipo de discurso a um nível que sai fora daquilo que seria teoricamente aceitável ou admissível", constatou.

Dando o exemplo da imigração, o investigador referiu que se poderia falar desse tema sem o associar à insegurança.

"A maior vitória é essa, quando a agenda é definida por eles, sobre o que se fala e como se fala", apontou.

Além disso, as narrativas das emoções destes partidos "são mais fortes quanto mais polarizadas", apresentando uma "maior capacidade de criar simpatia e antipatia" do que as dos restantes partidos, constatou.

"Ao serem mais fortes, estas narrativas das emoções são mais simples e centradas no bipolarismo amigo-inimigo, identificando com extrema simplicidade os inimigos de forma a unir os amigos ("o povo")", salientou.