DNOTICIAS.PT
Artigos

Há muito trabalho a fazer, agora

O discurso sobre as “drogas” na Região e a urgência de respostas eficazes, nos diferentes níveis de intervenção, tem vindo a manter-se num lugar entre o que está para acontecer e as impossibilidades que o determinam. Há muito para decidir apesar dos discursos dificilmente conjugarem. Fica a sensação de que se anda em círculo na procura de uma saída imaginária aparentemente impossível de construir. Falta sempre qualquer coisa.

Apesar deste emaranhado, os hábitos de consumo mantêm-se e a degradação social que daí emerge é cada vez mais evidente, sendo impossível ignorar. Toda a gente vê e reconhece. Penso eu.

Enquanto o discurso circula entre, se se deve começar primeiro por um centro de dia ou por uma comunidade terapêutica, onde se deve instalar um espaço de acolhimento para os tantos “sem abrigo”, e quem deve e pode fazer a gestão das diferentes respostas, as estratégias de manutenção do consumo mantêm-se ativas, dinâmicas e centradas nos seus objetivos. O tráfico vai tendo o seu lugar assegurado. O tempo não para e a sensação que fica é que para uns e para outros os tempos estão desconectados. Quando as respostas chegarem já vai ser tarde, as necessidades já vão ser outras. E aí virá alguém considerar que afinal não vale a pena o investimento e voltará tudo ao ponto inicial, ponto zero. Sim, porque isto já aconteceu.

Sei que existem, recursos, em diferentes áreas da intervenção, ideias, projetos, vontade de muitos, necessidades óbvias, profissionais credenciados, preparados, motivados, mas falta a expressão prática que permita conjugar o salteado de ideias e boas vontades. Tem que haver vontade política, sentido de prioridade. O que continua a acontecer é muito grave e tem consequências em várias áreas do crescimento e desenvolvimento económico e social. O visível não tem sido suficiente para que se avance com os primeiros passos na reconstrução de uma resposta global e eficaz. A infelicidade de tantas famílias perdidas, sem horizonte, de tantos jovens a desviarem-se de uma trajetória saudável, de tantos adultos escondidos na vergonha da sua condição, deveria ser suficiente para avançar do discurso e demagogia para a prática da intervenção. Há muito trabalho a fazer, agora.