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Expressão Digital

Nos tempos que correm, as palavras pesam mais do que no passado? Os algoritmos regulam a nossa dieta informativa com o nosso consentimento? E a nossa identidade é moldada pela higiene do nosso ciberespaço ou depende dos nossos níveis de literacia digital?

São perguntas pertinentes que qualquer entusiasta ou habitante no espaço digital se deveria questionar. Pessoalmente, sendo a minha área de formação relacionada com a tecnologia, sensibilizo-me. Atualmente, segundo o estudo Portugal INCoDE 2030, 55% da população portuguesa possui competências digitais básicas, destacando-se no cenário europeu, cuja meta é, até o ano 2030, o índice da população europeia atinge os 80%.

Portugal é igualmente avaliado de forma positiva no que toca ao respeito pela liberdade de expressão. A democracia, porém, é desafiada a garantir um equilíbrio entre a proteção da expressão livre e a necessidade de construir um ambiente saudável, seguro e responsável, especialmente no universo digital.

Lembro-me de frequentar o ensino básico e de aprender a cuidar do ambiente, tendo em atenção 3 RR de intervenção: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Atualmente, perante um setor de informação com um modelo algoritmicamente personalizado e pouco higienizado, sobretudo nas redes sociais, identifico 3 SS de reflexão: Sensacionalismo, Sensibilidade, Sensibilização.

Sensacionalismo

O facto de sermos consumidores compulsivos de plataformas que aplicam filtros de conteúdo personalizados, através de algoritmos de inteligência artificial, torna-nos a sociedade mais conectada de sempre e simultaneamente a mais intolerante, condicionando as nossas interações com o outro, o respeito pela diversidade, a nossa capacidade de perdoar e a pluralidade de opiniões.

Com a incontrolável disseminação e exposição instantânea de informações controversas, descontextualizadas e, no fundo, fúteis, enfrentamos uma crescente polarização na sociedade que põe em causa o nosso sistema democrático.

Sensibilidade

O estado sensível e vulnerável em que os sistemas políticos e as democracias modernas se encontram, aflige-me. Em 2024, ainda há 44% dos países classificados como “não livres” ou “parcialmente livres” consoante o índice Freedom in the World, refletindo limitações significativas às liberdades de expressão. Então, pergunto: Serão os algoritmos de IA a versão moderna do lápis azul utilizado no antigo regime?

O mesmo índice, para os meios digitais, indica que 65% dos utilizadores globais das redes digitais vivem em países onde indivíduos foram presos ou punidos por atividades de expressão digital, como publicações em redes sociais.

Sensibilização

Sensibilizo para a urgente prevenção dos sintomas generalizados nos subscritores do digital. O grau de sensibilidade exigido para que nos instruamos intelectualmente é astronómico. O risco de um efeito destrutivo é garantido sem níveis de literacia digital básica, para quem anda num espaço onde o impacto das palavras e das imagens é amplificado.

A revolução tecnológica apresenta perspetivas prósperas. São inegáveis todas as valências e progressos obtidos pelo setor. Contudo, a transversalidade da transformação digital é assustadora com sintomas patológicos cada vez mais visíveis dos jovens aos mais velhos, de forma alarmante. Há privação do sono, fragmentação da atenção, dependência, solidão, comparação social e obsessão pelo perfeccionismo que muda a perceção do mundo e do próprio. O que é que poderemos fazer para combater os efeitos nefastos e de que forma poderemos lutar contra quem perpetua uma configuração negligente no meio digital?

Talvez com o progresso da minha formação académica, venha a ter mais respostas. Por enquanto, como jovem licenciado, fico-me pelas perguntas, que coloco, quinzenalmente, no programa PEÇO A PALAVRA, com notificações bloqueadas nos meus dispositivos móveis e com a luta interna e diária pela redução do meu tempo de ecrã.