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Paragens das selecções acomodam mudanças de treinador na I Liga

Rui Duarte é o terceiro treinador do Marítimo esta época.   Foto Arquivo/Helder Santos/Aspress
Rui Duarte é o terceiro treinador do Marítimo esta época.   Foto Arquivo/Helder Santos/Aspress

As três habituais paragens da I Liga portuguesa na primeira volta para os compromissos das seleções nacionais têm acomodado as mudanças técnicas nos clubes, admite o presidente da Associação Nacional dos Treinadores de Futebol (ANTF).

"Tornou-se moda que os clubes aproveitem essa fase para alterar o comando técnico, porque dá maior tempo a quem chega para se enquadrar com a equipa, o clube, os dirigentes e os jogadores", reconheceu José Pereira, em declarações à agência Lusa.

O Benfica mudou de treinador na primeira paragem da prova, em setembro, logo após a quarta jornada, ao fazer regressar Bruno Lage, campeão em 2018/19, ao fim de quatro anos, na sequência do despedimento do alemão Roger Schmidt, vencedor em 2022/23.

Dois meses depois, na terceira e última pausa da primeira volta do campeonato para as seleções nacionais, o líder invicto Sporting promoveu João Pereira da equipa B 'leonina', da Liga 3, face à saída para os ingleses do Manchester United de Ruben Amorim, campeão português em 2020/21 e 2023/24, enquanto Daniel Ramos substituiu Vítor Campelos no AVS.

"Acho que isto não é significado de maus resultados, mas de falta de subserviência dos treinadores às respetivas SAD, no sentido de não colocarem em campo os atletas que provavelmente não estão nas melhores condições para servir a equipa, mas que interessam aos investidores. Para estes, não importa se a equipa perde ou não, mas sim que eles joguem, de modo a beneficiar uma futura transferência", notou o líder da ANTF.

A I Liga tem contrariado a tendência europeia de estabilidade dos treinadores em 2024/25, ao registar nove mudanças definitivas em 11 jornadas, contra as seis no período homólogo da época passada, impondo um novo recorde entre as 25 edições iniciadas no século XXI.

"Há muita gente nova a chegar ao futebol sem conhecimento, estatuto e experiência. Há também dinheiro a mais e a intromissão dos dirigentes na orientação das equipas. Esta questão de preparar jogadores para vender dificulta, não só a vida aos treinadores, como a convivência destes com os dirigentes. Neste momento, as direções de alguns clubes estão mais interessadas na promoção deste ou daquele jogador do que propriamente no rendimento da equipa e isto leva a alguns desentendimentos", enquadrou José Pereira.

A 'avalancha' de alterações técnicas permanentes à 11.ª jornada já não era tão significativa desde 2009/10, quando Vitória de Setúbal, Naval 1.º de Maio, Marítimo, Académica, Vitória de Guimarães, Paços de Ferreira, União de Leiria e Sporting geraram oito trocas.

"Ninguém tem projetos. Esqueça isso, é tudo uma mentira. Os projetos são os resultados das equipas e da venda de alguns jogadores. Há uma grande influência dos agentes na escolha dos treinadores. Excecionalmente, alguns são contratados pelo seu currículo, mas, de uma forma geral, é através dos agentes. Está a ser a regra no futebol", assumiu.

Na II Liga, igualmente ao fim de 11 jornadas, seis dos 18 clubes já mudaram de treinador - quatro dos quais nas datas FIFA -, incluindo Marítimo, autor de duas trocas em quase três meses e meio de competição, Alverca, Portimonense, Mafra, União de Leiria e a lanterna-vermelha Oliveirense.

"Para a ANTF, o importante é que os treinadores estejam devidamente licenciados para o desempenho das funções. Agora, se [os clubes] mudam muito ou pouco, não temos de intervir nem temos influência nisso", ressalvou José Pereira, que anunciou recentemente a apresentação de uma denúncia sobre João Pereira, novo treinador do Sporting, por ausência de "habilitações necessárias" para ser treinador principal de um clube na I Liga.

As denominadas 'chicotadas psicológicas' têm rareado nos principais campeonatos europeus, com a I Liga portuguesa a somar quase tantas quanto as congéneres de Itália (quatro), Alemanha e França (ambas com duas) e Inglaterra e Espanha (uma em cada) juntas.

"A imagem que passa é a do próprio país. Somos diferentes, não só no futebol, mas na sociedade em geral. Há uma junção de coisas que proporciona que seja mais fácil de despedir treinadores em Portugal do que em outros países. Agora, isso também traz experiência e ajuda um técnico em termos profissionais a maturar comportamentos, ideias e formas de estar. A imagem dos treinadores portugueses continua a ser reconhecida internacionalmente: temos cerca de 400 e tal a trabalhar no estrangeiro, o que reflete a sua aceitação", finalizou.