O ensino superior agrícola em Portugal
Tal como vos disse no artigo anterior, há precisamente um mês, estive em Coimbra, mais concretamente na atual Escola Superior Agrária, numa homenagem que foi prestada aos antigos Regentes Agrícolas, curso que tive a honra de tirar com conclusão em 1962. Éramos mais de 250. Foi um convívio muito bonito, encontrando colegas que não via há mais de sessenta anos. Os temas versados nas conversas foram muitos, como seria de esperar. Um deles, quiçá o mais importante, foi à volta dos atuais cursos que a Escola ministra. Falei com o diretor, de agora e concluí que é muito difícil fazer uma modificação no ensino para melhor.
Já em tempos perguntei ao diretor de então, porque motivo alteraram os cursos. Antes era só um que abrangia todas as áreas da agricultura e da pecuária. Tínhamos trinta e nove horas semanais, de aulas, incluindo os Sábados. Agora são pouco mais que meia dúzia, quando teoricamente deveriam ser pelo menos vinte e por conseguinte não conseguiram, meter “o meu curso” no atual curso. Não há tempo para tantas aulas, que muitas eram dadas em dois anos e agora são semestrais. Portanto para além de reduzirem o número de cadeiras, reduziram, também, o número de horas semanais e como se isso não bastasse muitos dos alunos chegam à Terça Feira e saem na Quinta, ou seja apenas três dias de aulas por semana. Como poderão aprender, principalmente a parte prática?
O curso de Regente Agrícola foi dividido em mais de dez cursos, aquilo que era ministrado apenas num!!!! Antigamente perdia-se por faltas e era necessário justificar as faltas, mas agora é uma baldaria… Saíamos da Escola com possibilidade de fazer uma antevisão global da agricultura em Portugal ou apenas numa região e agora são precisos pelo menos dez!!! Antes um Regente Agrícola tomava conta de uma herdade com várias valências, como por exemplo, ter floresta, ter pomar, ter vinhas, ter cereal, ter horta, ter uma barragem, ter uma adega, ter gado bovino, ovino, caprino, cavalos, aves, suínos e até peixes, criados em tanques ou riachos como a truta, a perca e outros, era capaz de fazer um levantamento topográfico, ter um parque de máquinas e fazer a sua gestão, ter apicultura e forragens para o gado, se fosse na zona Sul do país, podiam produzir algumas culturas subtropicais como a anona, o abacate, a manga, etc, enfim uma porradaria de coisas, incluindo a parte tecnológica e laboratorial. Agora, como dissemos, serão precisos pelo menos dez. Vejamos os cursos atuais que saíram do Curso de Regente Agrícola: Horticultura, Topografia, Fruticultura, Enologia e Viticultura, Florestais, Ambiente, Produção Alimentar, Produção Animal, Agricultura Biológica, Enfermeiro veterinário sem contar com a parte de culturas tropicais e a sua tecnologia, e outros que neste momento não me recordo.
Além desta divisão muitos dos alunos assistem apenas a uma parte das aulas porque querem um fim de semana prolongadíssimo. Houve necessidade de reduzir o numero de horas de cada cadeira que passou de anual ou bianual para semestral, o que represente reduzir e aí começam as dificuldades a matéria a aprender reduzida a metade ou a quarta parte. Bem sei que atualmente pegam num computador e tiram as dúvidas todas, mas para isso têm que identificar o trabalho que vão fazer.
A convenção de Bolonha reduziu os cursos superiores, na sua maioria, para os três anos, mas não reduziu o tempo de ensino para metade ou menos, nem falou em eliminar a perda de ano por faltas. As chamadas lutas académicas nem sempre conduziram o ensino, e, agora não me refiro só ao ensino superior Agrícola, mas todo o ensino a nível de licenciatura.
Todo o ensino necessita de ser reformado, há que tê-los no sítio para voltar um pouco atrás e valorizá-lo, é preciso que os alunos voltem a chumbar por faltas, que aprendam, que sejam capazes de enfrentar a vida prática, a vida do dia a dia. Quantas vezes fui abordado por pessoas que nem conhecia, mas elas conheciam-me e faziam-me perguntas sobre isto e aquilo. Posso, mesmo dizer que foram milhares durante os 62 anos que exerço a minha profissão e eu tinha sempre e tenho ainda, a resposta na ponta da língua. Isso acabou. Agora pedem um momento para abrir o computador para lerem as respostas em português do Brasil...