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Até dizer chega!

A expressão que dá título ao presente artigo, e para que não haja confusões, significa “até o limite, até à extenuação”.

E a verdade é que estamos cansados até o limite com o atual impasse político, com este pára-arranca que impede a previsibilidade necessária à tomada de decisões e assunção de projetos presentes e futuros das famílias, comprometendo seriamente o bem-estar e qualidade de vida na Região, e pondo em causa uma perspetiva inclusiva que permita que todos sintam os efeitos do crescimento económico.

O comum dos cidadãos está farto de tantas manobras de diversão que só adiam o inevitável, mesmo com tantas boias que vão servindo para manter a cabeça à tona, o naufrágio é mais do que expetável. Embora todos saibamos que as mortes políticas dão azo a algumas ressurreições, tal também depende em muito das causas que levaram ao decretar dessa morte política.

E não pensem que estou a misturar Justiça com Política. Respeito a separação e independência de poderes que deve existir num Estado de Direito democrático.

Mas, com toda a clareza, não é saudável continuarmos neste ambiente, que se arrasta há quase um ano, de profunda incerteza e conflitualidade políticas.

Não há bons nem maus, nem nós e os outros, todos temos de ajudar a resolver a atual crise política regional, que nos torna um motivo de descrédito e até escárnio e desprezo além-ilha.

Contudo, é evidente que o Governo e a Assembleia têm responsabilidades acrescidas no sentido de ultrapassar o presente momento político com os menores danos possíveis para a população.

Não podemos esquecer que a legitimidade política, em que ganhar eleições é efetivamente um sinal de validação, é um conceito dinâmico que requer não apenas a conquista inicial do poder, mas também a manutenção do apoio público, e a capacidade de reunir o mínimo de consenso que garanta um cenário democrático positivo.

Também não podemos centrar a instabilidade política somente no facto de haver um governo minoritário. Claro que governar com maioria absoluta é, em princípio, mais fácil e menos conturbado, mas não sendo uma realidade dos governos atuais, é preciso colmatar essa aparente fragilidade fazendo pontes, estabelecendo consensos, colocando a ênfase no que é melhor para a população e não insistir em umbiguismos perniciosos para o futuro que se almeja construir. Para haver estabilidade política tem de haver condições para governar sem constrangimentos de maior que possam condicionar a ação governativa e, mais importante que tudo, tem de se governar para o povo.

Decorrente da nossa realidade fluida, assiste-se à cada vez menor lealdade dos eleitores aos partidos, e, de forma mais vincada, aos grandes partidos. Efetivamente, verifica-se uma crescente personalização do voto. Simultaneamente, há um número crescente de pessoas que deixou de votar num partido só “porque sempre o fizeram”, e passam a se questionar quem poderá ser o líder mais competente em cada momento político. Esta forma de pensar e votar acarreta, como é lógico, ainda maior exigência política e pessoal aos líderes partidários e não só.

Assim, a importância de um líder não é um dado estático, a perceção da sua capacidade de liderança vai mudando de acordo com as respetivas decisões (e/ou omissões). Por outro lado, os líderes políticos têm de ser um ativo para os partidos, mas não um ativo tóxico. Quando se atingem situações insustentáveis e prejudiciais ao próprio partido e, ainda mais importante, prejudiciais à própria realidade política, económica e social, há que saber sair, com dignidade.

A mutabilidade das circunstâncias políticas e sociais levam, em alguns casos, a que fique mesmo em causa a legitimidade de um só homem só. Nunca podem se sobrepor egoísmos e ambições pessoais em detrimento do bem comum e da causa pública. Não se pode ratificar finca-pés ardilosos, nem pode haver Rei-Sol.

Acredito que a grande maioria dos cidadãos da Madeira e Porto Santo não quer novas eleições, quer sim ver os seus problemas resolvidos, e não quer se sentir excluída nem sentir que a Região já não é a terra que acolhe e que abre horizontes de esperança.

E por falar de esperança, é evidente que um discurso de esperança é sempre benéfico, mas não se pode confundir com palavras desfasadas da realidade, com superlativos que não têm reflexo no dia a dia das pessoas.

Os atores políticos têm de estar concentrados em executar medidas reformistas e transformadoras, que contribuam de forma indesmentível e concreta para a qualidade de vida das atuais e futuras gerações de madeirenses e porto-santenses. Não podem é continuar com discussões estéreis e que nada ajudam na criação de uma Região justa, inclusiva e próspera para todos.

Penso que andamos a perder tempo, a destruir a confiança das pessoas nas instituições, nos políticos e governantes, e esquecemo-nos de que, independentemente de todas as razões que dão (ou não) legitimidade e legalidade às ações e decisões políticas, temos de prestar atenção e escutar as vozes que emanam da população, fazendo uma triagem do ruído e obstáculos usuais no jogo político, mas com uma profunda atenção e respeito pelo sentir dos cidadãos, que manifestam cada vez mais um forte desalento face ao panorama político atual.

Precisamos de estabilidade, de não vivermos numa constante incerteza que nos coarta os movimentos, que alimenta os medos e que atrasa os nossos passos.

Ninguém deseja uma crise política, ninguém gosta de brincar às eleições, ninguém quer acrescentar mais desordem política. Quer-se sim seriedade, serenidade e sensibilidade nestes tempos conturbados. Exige-se sim compromisso, responsabilidade, lucidez e, sobretudo, muito bom senso.

É tempo de surgir quem consiga, de forma consistente e com amplo consenso político, transmitir uma mensagem clara à sociedade de que podem ser criadas condições sólidas para, nos próximos anos, se concretizar o futuro de esperança que os madeirenses e porto-santenses merecem.