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Madeira

Lei e prevenção "são fundamentais para um combate mais eficaz" às novas substâncias psicoactivas

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O director da Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências, Nelson Carvalho esclareceu, hoje, na Comissão Permanente de Saúde e Protecção Civil, que “a lei e a etapa da prevenção, são fundamentais para um combate mais eficaz, fazendo frente às novas substâncias psicoativas (NSP).”

Nelson Carvalho foi auscultado, esta manhã, na Comissão Permanente de Saúde e Protecção Civil com finalidade esclarecer questões relacionadas com o requerimento de audição parlamentar do PSD para esclarecimentos dobre programas de combate e dissuasão dos consumos de drogas e substâncias psicoativas na RAM.

Questionado sobre a sua concordância à alteração da lei da droga, Nelson Carvalho não tem dúvidas que não concorda com a mesma: "Infelizmente foi alterada, a questão da legislação, é fundamental. Neste momento temos 950 novas substâncias de drogas psicoativas identificadas e monitorizadas pela Agência Europeia da droga. Em termos legislativos não tem sido fácil criminalizar estas drogas, na nossa opinião devíamos criminalizar todas as drogas. O sistema de alerta rápido argumenta que pelos pressores de indicação, não se pode proibir tudo, no entanto eu não sou dessa opinião. Se a alterássemos podíamos facilitar as ferramentas aos polícias e aos tribunais". 

O director vincou que a lei é fundamental para um combate mais eficaz, lembrando que “neste momento, com a nova lei, estamos a agudizar este fenómeno".

"Espero que o Tribunal Constitucional reverta a lei, pois o artigo 40 da nova lei da droga é assustador e preocupante", frisou. 

Nelson Carvalho afirmou que apesar das NSP causarem um impacto muito grande na comunidade, "o grande problema de saúde pública é o álcool, não menosprezando as NSP".

As NSP como dão alucinações, delírios e surtos psicóticos geram a violência e a agressividade, no entanto 75% dos registados em violência doméstica, têm álcool à mistura, assim como a maior parte dos acidentes rodoviários. A maioria tem álcool no sangue, no entanto como não chama tanto a atenção na rua como delírios e surtos, não pode ser menosprezado”. Nelson Carvalho 

Para Nelson Carvalho, “a maior parte dos consumidores de novas substâncias psicoativas (NSP), são toxicodependentes". E prossegue: "Apenas na altura da pandemia, o cenário alterou-se ligeiramente devido à escassez das drogas clássicas, como a cocaína, heroína e cannabis. Devido a esta alteração, os jovens com uma idade acima dos 25 anos, consumiram mais NSP". 

Nelson Carvalho lembrou que “não é só a Região Autónoma da Madeira e a Região Autónoma dos Açores que tem este problema, os Países Baixos, por exemplo, estão com um problema com a substância do bloom. E continuou:  "Estão a vender em lojas em formatos de saquetas comercializadas".

A Europa no geral, também está a ser assolada com estas novas substâncias psicoactivas".  Nelson Carvalho 

O director da Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências afirmou que a prevenção é uma das etapas mais importantes e passa por várias fases.

“Neste momento temos 22 projectos de prevenção em várias áreas, desde a parte escolar que é a área onde trabalhamos mais, com os mais jovens, temos um programa em curso que neste momento está a atingir 15 escolas, desde o segundo e terceiro ciclo. Damos formação aos professores, quer na Madeira, quer no Porto Santo, trabalhamos com o sindicato dos professores e monitorizamos os jogos da prevenção feitos para o primeiro ciclo, que estão presentes em 27 escolas da Região, onde atingimos 2067 alunos”, afirmou Nelson Carvalho.

Acrescentou ainda que trabalham muito nos contextos de meios nocturnos, como por exemplo no Verão, nos vários festivais de música e arraiais da Região. E prosseguiu: "O grande desafio da prevenção são os pais, onde somente aparecem nas iniciativas do primeiro ciclo, a partir daí, raramente voltam a aparecer para complementar esta parte da prevenção. Isto é uma das partes mais difíceis de combater”.

Relativamente à Comunidade Terapêutica Nelson Carvalho garantiu ter sido contra durante algum tempo. 

“Durante alguns anos fui contra a comunidade terapêutica na Madeira, por questões clínicas e teóricas, onde a preocupação se centrava no conhecimento dos doentes uns dos outros, ou seja, se os doentes se conhecem, há um impacto negativo na sua recuperação e existe uma grande probabilidade de o tratamento falhar, e há de facto comunidades terapêuticas que não aceitam doentes que se conhecem. No entanto, após alguns anos e conversas com outros diretores de comunidades terapêuticas, provaram-me hoje em dia, que isso não faz sentido. Sou a favor de uma Comunidade Terapêutica e de um Centro de Dia, os dois estão interligados", disse. 

Para Nelson Carvalho, “o Centro de Dia, neste momento, é mais prioritário". No seu entender, "tem a vantagem de preparar o indivíduo para a Comunidade Terapêutica, para uma introdução na sociedade, e por outro lado, motivar e ocupar o toxicodependente no seu dia a dia". 

“É importante não esquecer que uma Comunidade Terapêutica, não é a panaceia para resolver a toxicodependência, mas sim uma unidade de saúde que tem critérios muito rigorosos para internar. A Comunidade Terapêutica é apenas mais uma resposta para a Madeira e mais um instrumento que vai ficar disponível para a Região, para recuperar os doentes, mas é importante não esquecer que as taxas de recuperação destes doentes são baixíssimas. Os estudos apontam para apenas 3% de sucesso”, concluiu.