A terceira edição da Madeira Blockchain Conference, que arrancou esta manhã no Centro Cultural e de Investigação do Funchal, contará com líderes e especialistas em blockchain, Web3 e Inteligência Artificial (IA).

Maurício Marques, CEO da Yacooba Labs, aos jornalistas, referiu que a blockchain é uma “filosofia de vida”.

“Ela empreende uma mudança e uma revolução completa na forma como lidamos com os nossos dados", acrescentando que o mundo está "organizado numa perspectiva centralista. Ou seja, nós acedemos a servidores que gerem os nossos dados das contas bancárias, médicos, Facebook. Tudo isto é gerido de uma forma centralizada, onde há servidores que, no fundo, recolhem e hospedam os nossos dados e, quando há um problema nos servidores nós sofremos todos em conjunto".

O também responsável pelo evento dá o exemplo do ataque informático no SESARAM. "O SESARAM foi atingido por um ataque de hackers, eles, por sua vez, limparam os dados de 240 mil madeirenses. Se o SESARAM tivesse utilizado blockchain nesta gestão não haveria interesse, em termos económicos, de um hacker tentar entrar em 240 mil 'wallets'. Era quase impossível porque cada uma delas tem um sistema de protecção individual. No fundo, a tecnologia blockchain é isto: ela reorganiza a forma como nós vemos a sociedade, numa perspectiva não centralista, mas sim descentralizada e isto pode ser aplicado a uma série de indústrias e sectores". 

Maurício Marques aponta que os organismos públicos e as empresas não estão atentas a esta tecnologia: "A maior parte dos organismos públicos são demasiado centralistas na sua gestão específica, portanto há já exemplos de testes por entidades, como em El Salvador, que estão a testar a gestão dos dados individuais", dizendo que é uma forma de revolução onde "não é fácil a mudança". 

Há, no entanto, coisas "más", como por exemplo a questão da privacidade: "A tecnologia blockchain é paradoxal, ela ao mesmo tempo que descentraliza, dá a responsabilidade do cidadão de gerir os seus próprios dados , ela também é uma tecnologia fantástica para o rastreamento de todas as transacções, ou seja como é uma base de dados pública todas as transacções são rastreáveis na Internet". Esta situação pode ser positiva se estivermos a combater o crime, mas negativa porque em "políticas ditatoriais" é possível rastrear tudo o que o cidadão faz.

Na sessão de abertura, a presidente da Câmara Municipal do Funchal, Cristina Pedra, enalteceu a presença deste tipo de iniciativas na Região, referindo que o Funchal pretende atrair talentos e investir no sector tecnológico, trazendo 'experts' da área tecnológica.

Presidente da Câmara Municipal do Funchal, Cristina Pedra, Foto ASPRESS

Referiu parcerias estratégicas como o consórcio eGamesLab, liderado também pela Yacooba Labs, que visa a criação de um cluster em Portugal dedicado à indústria criativa dos videojogos e que conta com a participação da autarquia.

“Através do PRR, o município apoia iniciativas como o eGamesLab, um consórcio que reúne entidades públicas e privadas para dinamizar o sector dos videojogos e da tecnologia. O nosso envolvimento nestes projectos inovadores é fundamental para atrair talentos, fomentar a investigação e criar um ambiente favorável ao desenvolvimento económico do município”, afirmou a presidente.

A autarca sublinhou ainda a visão do Funchal ao apostar num projecto de elevado valor para o mercado: “O eGamesLab explora diversas áreas inovadoras, desde a tecnologia blockchain à Inteligência Artificial, Interação Humano-Computador, Realidade Virtual/Aumentada e psicologia cognitiva, contribuindo para o desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços.”

Destacou ainda que, através deste projecto e de outros investimentos tecnológicos da autarquia, já foram contratados 27 investigadores, produzidos 22 trabalhos, 20 já apresentados (1 em 2023 e 19 em 2024), aprovados 2 papeers, realizados 3 eventos científicos e realizadas várias visitas pelas escolas da região ao projecto.

Presente na sessão esteve, ainda, o secretário de Estado de Economia, João Rui Ferreira, onde lembrou que Portugal está a inovar em termos tecnológicos, referindo que esta é utilizada na saúde. 

Secretário de Estado de Economia, João Rui Ferreira, Foto ASPRESS

Sobre a Madeira Blockchain Conference diz que é uma oportunidade para as mentes creativas apostarem na apresentação de ideias que podem gerar negócios. 

A fechar a sessão de abertura, o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, afirmou não ter medo da tecnologia. "Há pessoas que dizem ter medo da tecnologia, eu não tenho medo da tecnologia. Acho que é uma oportunidade de ter um mundo melhor",disse. 

Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, Foto ASPRESS

Lembrou que no sector tecnológico, na Região Autónoma da Madeira, em 2022, existiam508 empresas tecnológicas, a facturar 600 milhões de euros. "Desde 2022 até agora, penso que temos cerca de 700 empresas, que facturam mais de 800 milhões de euros", avançou o governante. 

A qualidade de vida, os impostos mais reduzidos na zona Franca da Madeira, os cuidados de saúde "que são muito bons na Madeira" e a possibilidade de contratação, por parte das empresas, de jovens formados na Universidade da Madeira, são algumas das razões que o presidente do Governo Regional apresenta para a atrair empresas para a Região.

A Madeira Blockchain Conference tem se estabelecido como a referência em Portugal, reunindo especialistas e entusiastas do blockchain de todo o país e além fronteiras. A sua reputação como um evento de destaque no cenário nacional reflete não apenas a qualidade das discussões e oportunidades oferecidas, mas também o papel fundamental que desempenha no avanço da tecnologia blockchain em Portugal.

A conferência vai decorrer entre hoje e amanhã, dia 19.