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Crónicas

Trump e Wokismo e o Regimento que pouco regimenta

1. A América, é hoje uma velha amante cansada, que envereda por um caminho que já não surpreende nem choca, mas que ainda assim consegue fazer tremer as pedras das fundações de Jefferson e Lincoln. Uma terra que já foi promessa e se torna, aos poucos, um fantasma do que procurou ser. E no ecoar das vozes que gritam “liberdade” com a garganta inflamada de autoritarismo, há um punho que se aperta sobre a carne mole do sonho americano, esmagando-lhe a alma até que dela só reste uma sombra disforme.

O “2025 Project” de Trump e Vance não é apenas um plano político, é um réquiem, uma despedida amarga de um país que se finge alheio ao próprio funeral. É o regresso das sombras, de fantasmas que nunca foram embora, apenas esperavam o momento certo para erguerem de novo os punhos e cravarem os dentes nas veias abertas da democracia. Tomar o poder, dizem, como se fosse um jogo de cartas onde a mesa já está marcada e a casa nunca perde. Instalar nos corredores outrora assépticos da administração homens de rostos imóveis, que não riem nem choram, mas obedecem e continuam a obedecer.

E a terra que prometeu acolher, que desenhou na pedra palavras sagradas como “direitos inalienáveis”, fecha-se agora como um punho, expulsando os diferentes, os desajustados, aqueles que ousam amar fora da cartilha ou que clamam pelo direito ao próprio corpo. Revogam-se protecções com a mesma leveza com que se trocam lâmpadas, apaga-se a luz que os “founding fathers” conquistaram, e volta-se a crer nas sombras que nascem da ignorância. Desfazem-se direitos que foram duramente costurados na bandeira, desmancha-se o tecido da nação e os fios soltam-se, arrastados pelo vento das medidas que varrem o Capitólio.

Os velhos de mãos enrugadas, que esperam pelos cheques do Medicare como quem espera cartas de um filho ausente, verão as caixas do correio vazias. Os sindicatos, esses parênteses da luta, fecharão portas, e o operário, que sonhava um futuro para os filhos longe da roda esmagadora da máquina, acordará para perceber que o chão que pisava já não o sustenta. O país, onde o suor se fazia promessa, agora será cansaço, sem esperança de descanso ou redenção.

E depois, as águas do esquecimento lavarão as cicatrizes ambientais, e a terra rachada, os ventos de calor, os rios que já não correm, falarão por si, mas ninguém os ouvirá. Serão abafados pelo som dos lobistas a puxar as cordinhas que movimentam os homens que riem na Casa Branca e apertam as mãos manchadas de petróleo e promessas quebradas. O Acordo de Paris será um pedaço de papel queimado pelo fumo das fábricas, e as crianças, as que brincam e correm, sem saber que correm para o abismo, crescerão numa terra mais suja e mais seca, e perguntarão: quem deixou que isto acontecesse?

Mas, talvez o mais cruel seja o silêncio. A censura que não se anuncia, mas que se instala, invisível, nas prateleiras vazias das bibliotecas, nos livros que não se leem porque se proibiram, na memória amputada daquilo que poderia ter sido. E a justiça, que devia ser cega, será apenas cega para aquilo que convém não ver, transformada em serva de um poder sentado no trono com as costas viradas para o povo. América, essa mulher cansada, não será mais porto de abrigo. E as mãos que antes seguravam o leme, agora apertarão o chicote. E assim, com promessas feitas de aço e pólvora, o país marcha, lento, mas firme, para uma nova noite. E quem se lembrar do que era o dia, que o conte em murmúrios, antes que a memória também seja condenada ao silêncio.

2. O movimento “woke”, na sua constante busca por validação moral, tornou-se um espetáculo de hipocrisia e superficialidade, onde a profundidade das ideias é sacrificada no altar da virtude ostensiva. Se analisarmos de perto, veremos que o movimento não só falha nos seus objectivos proclamados, como também contribui para a polarização e fragmentação social que seriam risíveis se não fossem tão destrutivas.

O culto à identidade no mundo “woke” transforma cada interacção social num campo minado de sensibilidades. Cada palavra deve ser medida, cada pensamento, filtrado, para não ofender as múltiplas identidades que se amontoam na arena do “wokismo”. Este ambiente asfixiante não só sufoca o discurso livre, mas também cria uma cultura de paranóia e autocensura. A honestidade intelectual é a primeira vítima, substituída por uma conformidade forçada e sem sentido.

A justiça retributiva, uma pedra angular do movimento “wokista”, transforma a justiça social num exercício de vingança. Em vez de procurar a reconciliação e a transformação social, optam por expor e punir os ditos ofensores, cancelando-os. A cultura do cancelamento é a ferramenta preferida para este propósito, onde a “justiça” é aplicada de maneira capciosa e desproporcional. Uma pessoa pode ser cancelada por uma piada, um comentário fora de contexto ou até mesmo por uma simples discordância. O resultado é uma sociedade cada vez mais fragmentada e incapaz de perdoar ou aprender com os erros cometidos.

A censura e o silenciamento são práticas rotineiras no mundo “woke”. A liberdade de expressão, um pilar fundamental das sociedades democráticas, é tratada como um obstáculo. Qualquer opinião dissidente é rapidamente rotulada como perigosa e excluída do debate público. Este ambiente de intolerância intelectual não só limita a diversidade de pensamento, mas também impede o progresso genuíno, que só pode ser alcançado através do confronto e da síntese de ideias divergentes.

O “wokismo” também se destaca pela sua incapacidade de reconhecer as suas contradições. Enquanto clamam por justiça e igualdade, as suas práticas frequentemente perpetuam exatamente o oposto. Promovem políticas identitárias que dividem em vez de unir, fomentando ressentimento e desconfiança entre diferentes grupos sociais. A inclusão é pregada, mas apenas para aqueles que aderem rigidamente à ortodoxia “woke”, criando um ambiente de exclusão e hostilidade para os que ousam pensar de forma independente.

Além disso, a luta woke concentra-se frequentemente em questões simbólicas e superficiais, enquanto ignora problemas estruturais mais profundos. A remoção de estátuas, a mudança de nomes de prédios ou a criação de novos pronomes são ações que podem ter valor simbólico, mas não abordam as raízes das desigualdades. Tratam as causas deixando as razões de fora. Este enfoque míope desvia a atenção de reformas mais significativas que poderiam realmente melhorar a vida das pessoas.

A maior ironia do movimento “woke” é sua percepção de ser progressista, quando, na verdade, as suas ações frequentemente resultam em retrocesso, são, na maior parte delas, altamente conservadoras. Ao dividir a sociedade em pequenos grupos de identidade e ao promover a censura e a vingança em vez do diálogo e da compreensão, o “wokismo” acaba por reforçar as próprias estruturas de poder e opressão que afirma combater. Em vez de criar um mundo mais justo e equitativo, constrói uma sociedade fragmentada, delirante e incapaz de lidar com a complexidade humana.

O “wokismo” não passa de uma caricatura grotesca de si mesmo. Ao procurar uma pureza ideológica inatingível, o acaba por trair os valores que pretende defender. É um espetáculo de virtude vazia, onde o progresso é sacrificado em nome de uma moralidade vazia ou superficial.

3. Apesar da tentativa de menorização que se pretendeu fazer ao Regimento da ALRAM, o Plenário da Assembleia não pode tomar decisões que contrariem o que está estipulado no Regimento. O Regimento da Assembleia Legislativa é um documento fundamental que estabelece as regras de organização e funcionamento da Assembleia, as quais devem ser respeitadas por todos os seus membros e no âmbito das deliberações.

O respeito pelo Regimento é também um dever dos deputados, conforme estabelecido nos artigos relacionados aos seus deveres. Além disso, o Estatuto Político-Administrativo também salienta a necessidade de observar os princípios da Constituição e da legislação aplicável.

O Regimento de uma assembleia, seja ela nacional, regional ou municipal, possui força de norma jurídica interna. Isso significa que é um conjunto de regras de caráter regulamentar, obrigatórias para todos os membros da assembleia e que determina os seus procedimentos. O Regimento regula o funcionamento, as competências, os processos de debate e deliberação, entre outros aspetos.

Embora não tenha o mesmo peso que uma lei formal aprovada pelo parlamento ou uma constituição, o Regimento tem força vinculativa dentro da instituição e deve ser respeitado como uma norma que orienta as atividades parlamentares. As decisões ou procedimentos que contrariem o Regimento são consideradas inválidas ou irregulares, a menos que o próprio Regimento seja modificado de acordo com as regras que ele mesmo estabelece.

Assim, qualquer decisão que o Plenário tome que vá contra as disposições do Regimento poderá ser considerada nula e passível de impugnação ou revisão pelos órgãos competentes, incluindo recurso para o Tribunal Constitucional.

Pela minha parte não contem que alinhe com ilegalidades.