Incertezas a mais
Temos pena, mas urge acabar com a brincadeira em curso. Este recreio instalado na ilha por gente sem treino para novos contextos, porque habituada a ditar ordens, e sem jeito para acomodar a diversidade, porque convencida de que é superior, está a dar cabo da credibilidade colectiva de um povo que exige mais respeito, um bom governo e uma melhor oposição.
O que a instabilidade permanente gera é degradante, motivo de gozo nacional e de interferência abusiva nos nossos destinos. Por isso, tenham dó os que nos aconselham.
Não nos mandem ter “serenidade” quando são cúmplices do caos e nos tiram o sossego, o sono e o sonho, acenando sistematicamente com eleições como quem dá milho a pintos, porque o que importa mesmo é derrubar o governo custe o que custar, como julgam os de fraca memória que já viram o filme que vaticinavam como êxito e que se transformou em catástrofe.
Não nos mandem ter confiança quando nos traem a toda hora. Com um ou outro capricho. Com várias alucinações. Sem nenhuma razão. Sobretudo quando atentam contra a democracia de múltiplas formas. Pelo “aventureirismo político”. Pelo negacionismo compulsivo. Pelos perigosos extremismos. Pela ignorância atrevida. Pela subserviência incompreensível, sobretudo por parte dos que se deixaram sequestrar pelas centrais de comando que encontram no revanchismo uma estranha forma de sobrevivência.
Não nos mandem ter paciência quando a esgotaram com tanta promessa vã, ódio visceral e mediocridade continuada. E ainda quando confundem poderes, se limitam a dar palpites e não produzem de acordo com o juramento que fizeram e com o salário que recebem.
Não nos mandem ser compreensivos quando percorrem estratégias sem nexo e tomam decisões irracionais e sem qualquer lógica política.
Não nos mandem votar sistematicamente na expectativa que o resultado algum dia vos seja favorável, mesmo que nunca consiga disfarçar incompetências ancestrais.
Não nos mandem calar com queixinhas, coimas, impasses e ameaças só porque temem perder o palco que ocupam e no qual exibem narrativas, divagações, conspirações, interesses pessoais e visões distorcidas da realidade que querem fazer vingar como verdade inquestionável.
Não nos mandem ter esperança quando adiam o futuro. A Moção de Censura, que devia ser votada até amanhã, foi adiada para 17 de Dezembro, numa manobra que suscita dúvidas quanto à legalidade, embora permita que o Orçamento da Região para 2025 seja debatido e votado, sem que se saiba se será aprovado, e caso não seja, se haverá eleições, e se sim, com que candidatos.
Não nos mandem acreditar quando instalam a dúvida, incutem medos colectivos e ainda por cima insistem numa vitimização com meros intuitos eleitoralistas.
Não nos mandem ficar de braços cruzados à espera que algo de bom aconteça quando nos vemos vergastados com frequência por quem nos devia defender.
Não nos mandem tolerar pois não é aceitável que continuem a descredibilizar a Autonomia sem qualquer pudor, a fomentar a ilegalidade e a alimentar a promiscuidade, em jeito de desígnio nacional. Uns pela insensatez. Outros por conveniência.
A incerteza na política regional e respectivas derivações assentes nas violações regimentais, nas contestações a Miguel Albuquerque e nas outras estratégias partidárias incoerentes são apenas factos mais recentes de uma odisseia que nos fragiliza e que em rigor pode até deixar aparentemente tudo na mesma, apesar dos estragos nefastos decorrentes de um sem número de hesitações acumuladas.