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Temos de parar de olhar para o lado!

Há tempos, recordar a minha infância trazia memórias de uma sociedade mais coesa, onde o valor da entreajuda se sobrepunha ao medo ou à indiferença. Tinha 12 anos quando, nos jogos escolares, um homem tentou levar o meu boné. Eu era apenas uma criança, e aquela ação deixou-me sem reação. No entanto, a intervenção de duas pessoas, que prontamente recuperaram o boné e enfrentaram o homem, mostrou-me o valor de estar atento e de agir, mesmo quando o mais fácil seria seguir em frente. No final, essas duas pessoas não só resgataram o que era meu, como ainda demonstraram, com genuína satisfação, o facto de terem defendido o certo.

Hoje, contudo, pergunto-me: onde está esse espírito? Porque é que, em situações semelhantes, muitos de nós preferimos olhar para o lado? Porque é que optamos pela passividade ao invés de uma intervenção que, por menor que seja, poderia fazer a diferença? É preocupante e inquietante perceber que, com o passar dos anos, nos tornamos espectadores apáticos das dificuldades dos outros, até mesmo das agressões físicas e verbais que ocorrem à nossa volta.

O que mudou em nós? Será o medo de represálias? A sobrecarga de problemas pessoais? Ou será que nos perdemos numa sociedade cada vez mais individualista e tecnologicamente isolada? Cada dia que passamos a olhar para o lado em vez de ajudar é um dia em que nos afastamos do princípio fundamental da convivência: a empatia pelo outro.

Este afastar custa-nos caro enquanto sociedade, porque eleva o sofrimento e a injustiça. Precisamos reavaliar o que somos, o que estamos a ensinar às gerações futuras e o que queremos para o futuro. Mais do que nunca, a mudança depende de cada um de nós. Que este seja um convite para voltarmos a intervir, a oferecer a mão quando o outro precisa, a recuperar o valor do “cuidar”, em pequenos e grandes gestos.