Choveu que parecia o 20 de Fevereiro?
A ilha da Madeira esteve 12 horas sob aviso laranja para a precipitação devido à previsão de aguaceiros, por vezes fortes, que poderiam ser ocasionalmente de granizo e acompanhados de trovoadas. Confirmou-se a ocorrência de chuva e de trovoada. Mas no caso da precipitação, os níveis registados justificaram os ‘alertas’ à população?
Uma vez que esteve em vigor o aviso laranja para a precipitação em toda a ilha da Madeira entre as 21:00 de ontem, sexta-feira, e as 09:00 de hoje, sábado, esta manhã, logo após terminar a validade do aviso laranja que fez ‘soar’ muitos alertas, o DIÁRIO foi verificar os registos preliminares, no que à precipitação diz respeito, em todas as estações meteorológicas do IPMA no Arquipélago da Madeira (18 na ilha da Madeira, Porto Santo e Selvagem Grande).
Constatou que em nenhuma das estações/localidades, havia sido registada precipitação significativa. Tanto que nenhuma estação acumulou extremos para aviso amarelo (entre 10 e 20 mm/1h e/ou 20 a 30 mm/6h). O mesmo será dizer que as quantidades de chuva registadas nas 18 estações/localidades da Madeira monitorizadas pelo IPMA estiveram longe de atingir quantidades de aviso laranja (entre 20 a 30 mm/1h e/ou 30 a 40 mm/6h).
Além dos registos extremos (1h e 6h) terem sido pouco significativos, também os valores acumulados ficaram muito aquém do que era suposto poder ocorrer, já que em 24 horas, entre as 09:00 de sexta-feira e as 09:00 de sábado, o total do maior acumulado de precipitação ‘ficava-se’ pelos 25,7 mm (Pico do Areeiro).
Face aos valores pouco relevantes – face á previsão do IPMA e ‘alertas’ da Protecção Civil – que deram origem à notícia matinal do DIÁRIO em dnoticias.pt sob o título ‘Chuva muito aquém de atingir quantidades de aviso laranja’, houve quem tivesse contestado a conclusão, certamente por ter tido uma percepção muito contrária aos registos da pluviosidade apurados nas estações meteorológicas do IPMA.
Foi o caso da leitora Vanessa Caires, que não tardou a reagir à notícia replicada na página do DIÁRIO na rede social Facebook, com a seguinte observação: “Muito aquém? Nas zonas altas até à 5 minutos atrás chovia [que] parecia o 20 de Fevereiro”.
Embora esta comparação entre a chuva registada até ontem de manhã e a ocorrido nesse sábado bastante chuvoso que foi o 20 de Fevereiro de 2010 pareça estar longe de poder corresponder, tal não invalida que nalguns locais possam ter ocorrido valores substancialmente diferentes dos obtidos nas estações certificadas que compõem a rede do IPMA.
O facto de em determinada área – neste caso através das estações meteorológicas do IPMA -ter sido apurada determinada quantidade de chuva não significa que noutro local, próximo ou distante, o valor da precipitação – ou de outro factor climático como seja a temperatura, humidade relativa do ar, vento - possa ter sido substancialmente diferente.
Aqui o ‘juízo de valor’ baseia-se apenas e só nos dados oficiais da rede de estações meteorológicas automáticas do IPMA no Arquipélago da Madeira.
E é com base nesse registo oficial da instituição de referência a nível internacional, que tanto pelo rigor e eficácia cumpre as suas funções técnico-científicas de apoio e suporte à acção do Estado/Região.
Tendo como suporte os dados oficiais, associar a precipitação registada neste evento com a ocorrida no 20 de Fevereiro de 2010, não tem similitude possível.
A quantidade de água que caiu no dia 20 de Fevereiro de 2010 sobre a Ilha da Madeira, em particular no Pico do Areeiro, foi o valor mais alto jamais registado em Portugal. Então foram registados 185 litros por metro quadrado (mm), sendo que os valores mais altos registados em Portugal até à altura não chegavam aos 120 mm. Entre esta sexta e sábado o total acumulado no Pico do Areeiro foi 26.6 mm.
No Funchal, com uma média anual de 750 mm, no 20 de Fevereiro registou em poucas horas 114 mm de precipitação (das 00:00 às 24:00 foram 144.3 mm). Este sábado de manhã, o acumulado nas últimas 24:00 não chegava a 20 mm.
Conclui-se assim que a chuva registada durante este último aviso laranja para a precipitação esteve muito aquém de atingir quantidades condizentes com o ‘alerta’.