À boca pequena
Hoje quero partilhar, aqui, neste espaço nobre do DIÁRIO, aquilo que tenho ouvido por estes dias nas ruas ou nas veredas da minha freguesia. Para muitos pode valer pouco aquilo que vos conto. Para mim conta muito. São sentimentos de gente da minha terra que terá sempre garantia da minha maior atenção.
Numa de muitas visitas que habitualmente faço para poder inteirar-me do andamento das pequenas obras de proximidade que a Junta de Freguesia de Câmara de Lobos tem no terreno, encontrei a senhora Maria. Vive no Lombo do Pedregal. Vive numa das 217 veredas de Câmara de Lobos e onde muitas mais Marias têm o seu lar.
A dado momento confidenciava-me estar “farta de eleições”, foi a expressão que usou. Registei a mágoa. Naquele instante não lhe perguntei a idade, não era suposto, sequer, não vinha para o caso, até porque conheço-a há mais de 11 anos e já nessa altura tinha cabelos brancos, por sinal coincide com o tempo que levo de presidente.
Sei que aquilo que dizia é genuíno porque não precisa e não sabe ser artificial como outros que ganham a vida de oratória em oratória, e sei também que a vontade que já teve não é a mesma. Senti que a culpa é dos políticos onde naturalmente me incluo. Não sou daqueles que atiro para outros a minha quota parte. E ali estava para dar a cara.
A Maria é uma assídua eleitora e sempre que acontece um acto eleitoral vai votar. Até nas Europeias tem ido apesar de ser a que menos dizem aos madeirenses, tendo em conta o nível de abstenção, mas vai, segue caminho acima e descarrega o voto, mas temo que esta mulher, seja exemplo de tantas outras do meu concelho e comece a desistir de dar continuidade a uma luta travada há 50 anos pelos seus antepassados para que a democracia prevalecesse.
Temo que os caprichos e a teimosia de uma oposição, para deitar um governo abaixo a todo o custo, sem olhar às consequências negativas para a nossa região, desmotivem os eleitores. Temo que seja pretexto para um maior alheamento do exercício de cidadania. Temo que infelizmente o errado prevaleça sobre o que é certo. Temo tantas e tantas mais coisas que escuso de aqui enumerar.
Nesse mesmo dia encontrei o João. Estava num café das zonas altas de Câmara de Lobos. Poderia escrever dois ou três parágrafos para dar conta da sua satisfação por ver a limpeza realizada na Vereda da Levada do Norte. Também poderia dar conta daquilo que dissera sobre o que assistiu na Assembleia Legislativa. Reservo predicados e adjectivos, mas não posso deixar de ser porta-voz que irá continuar a votar no partido que considerou ser o que mais garantias de desenvolvimento lhe dá. João não é um doutor de altos pergaminhos. É um anónimo pedreiro que nas horas vagas sobe o poio para agriculturar e o seu voto vale tanto quanto o meu e sentenciou de ar sério e de indicador apontado que quem provocar eleições vai ser castigado.
São testemunhos à boca pequena que no exercício das minhas funções ouvi e tenho ouvido um pouco por todo o lado, daqueles que sofrem e ficam preocupados com esta indefinição política de uma oposição que desenfreadamente não olha a meios para galgar muros e chegar ao poder.
Oiçam o povo!
Venham concelho a concelho, freguesia a freguesia e escutem antes de decidir. Tal como eu vão poder constatar que o povo está saturado. Lembrem-se que têm sido meses de debates, promessas e confrontos de ideias. Meses em que a cada esquina, cada conversa chega um rol carregado de esperança. Reconheço que as eleições, ainda que exaustivas, são o momento em que a voz de cada cidadão, cansado ou não, é igualmente a força motriz da democracia.
Então, mesmo cansados, que possamos respirar fundo e dar uma resposta inequívoca e assertiva. Que as eleições, se tiverem de acontecer, não sejam o fim, mas apenas o começo de um ciclo de participação e, acima de tudo, construção de uma Região do que queremos, do que somos e do que desejamos ser.
Farto de eleições, o povo quer que façam aquilo para o qual foram eleitos, resolver a vida das pessoas e trazer estabilidade às suas vidas e à Madeira.