Começar de Novo
A história política da Madeira dos últimos meses resume-se em sete pontos.
O Governo: nasceu torto e nunca se endireitou. Depois de umas eleições antecipadas provocadas por um conjunto de casos judiciais que levaram CDS e PAN a retirarem a confiança política a Miguel Albuquerque, os mesmos partidos e o CHEGA viabilizaram um governo minoritário novamente liderado por Albuquerque. Resultado: depois da incompetência e da negligência manifestadas na gestão dos incêndios, chegámos a novembro com mais de metade do Governo envolvido em novos casos judiciais.
A Censura: estes casos tornaram inevitável o que os incêndios tornaram evidente - que o tempo deste Governo acabou. Infelizmente, a moção de censura chegou tarde e mal: devendo ter sido oportunamente apresentada por PS, ou JPP, em coerência com o seu voto contra o Programa do Governo, partiu da iniciativa de quem foi sempre conivente com este Governo. Ainda assim, a sua aprovação é incontornável: porque a Madeira merece um tempo novo e precisa de um novo Governo, que só eleições permitirão.
O Orçamento: garantida a aprovação da moção de censura e a queda do Governo, o PSD relançou a narrativa de que, sem Orçamento, tudo parará, ou acabará. Sem qualquer garantia de aprovação, de que serviu então viabilizar a discussão de um mau Orçamento, apresentado por um péssimo Governo e com morte anunciada?
O PSD: procurará dizer aos madeirenses que não há alternativa - a este Governo; a este Orçamento; a este, ou a outro PSD. Baralhará para dar de novo: com Miguel Albuquerque, Manuel António Correia, ou qualquer outro. Dirá que a Autonomia está em causa; que a Madeira está em luta contra Lisboa; que a Madeira está primeiro do que o PSD – o discurso de 50 anos para fazer mais do mesmo: exatamente a vergonha que nos trouxe até aqui.
O PS: vive perdido entre as contradições permanentes da sua liderança - que não apresentou uma moção de censura no tempo devido, como defendi publicamente várias vezes, para acabar forçado a aprovar a primeira que apareceu; que tem dúvidas legais sobre o adiamento da votação da moção de censura, mas permitiu-o através da sua abstenção; que não aprovará o Orçamento, mas viabilizou a sua discussão, apesar de condenado à partida e proposto pelo mesmo Governo que censurará; que não quer o PSD a fazer campanha por ficar sem Orçamento, mas permitirá que o tema se estenda durante mais um mês, para no final ficarmos sem ele na mesma. A única coisa que o PS conseguiu fazer foi dar tempo ao PSD: ao Governo do PSD; à narrativa do PSD; a esta, ou a outra liderança do PSD, para fazer campanha e disputar eleições. Ora, o PS não pode continuar refém de uma liderança em morte política lenta e agónica, que arrastará consigo todo o partido, enquanto permanece refém de quem o controla internamente. O PS não pode continuar refém, porque com o PS refém fica também refém toda a Madeira, sem alternativa real e concreta ao PSD. É responsabilidade do PS abrir-se e perguntar aos madeirenses quem querem a liderar uma alternativa.
A Oposição: tem o dever de abandonar a passividade de fazer mais do mesmo e optar pelo arrojo de fazer diferente - juntos, numa plataforma de entendimento que apresente um projeto alternativo e credível para o futuro da Região. Se separados, bem conscientes da importância do dia seguinte às eleições. Uma oposição com coragem para mudar: no PS, abrindo espaço a uma nova candidatura a Presidente do Governo; no JPP, apresentando Filipe Sousa como o seu principal rosto; no BE, fazendo acompanhar Roberto Almada de uma nova geração que devolva energia às suas causas; e no PCP, confirmando a renovação geracional que os madeirenses já conhecem.
Começar de Novo: ao contrário do que se tem dito, não há inevitabilidades em política e muito menos em eleições. Os madeirenses não estão cansados delas; estão fartos de mais do mesmo. É possível a Madeira começar de novo, se os partidos fizerem diferente e melhor, muito melhor do que têm feito. Se todos fizermos diferente, desta vez. Se escolhermos os melhores entre os melhores: um candidato a Presidente; um Governo; um Programa; um Orçamento; uma bancada parlamentar. Julgo que os madeirenses sabem bem quem querem a liderar esta alternativa. Eu também. É hora de começar de novo!