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Madeira

Unidade de internamento de doentes compulsivos poderá fechar até ao fim do ano

Valor baixo da diária não permite "tratar dignamente as pessoas", admite director clínico da Casa de Saúde São João de Deus

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Foto ALRAM

O director clínico da Casa de Saúde São João de Deus admitiu, hoje, o fim dos internamentos compulsivos até Dezembro deste ano, argumentando que com o valor baixo da diária “não é possível tratar dignamente as pessoas”. As declarações do psiquiatra Luís Filipe Fernandes foram produzidas na audição parlamentar para obter “esclarecimentos sobre programas de combate e dissuasão do consumo de drogas e substâncias psicoativas na Região Autónoma da Madeira”, realizada na Comissão Especializada de Saúde e Proteção Civil.

“Estamos a pagar 52 euros por diária. O Continente já paga 68. Vai passar, no próximo orçamento para 75 euros”, vincou, reforçando que a recomendação da entidade reguladora de preço mínimo é de 90 euros. “Não temos capacidade, com estes valores, de aceitar doentes compulsivos”, que são da competência do Ministério da Justiça, concluiu.

Numa altura em que o Parlamento madeirense se prepara para debater o orçamento do próximo ano, o médico e especialista em tratamento da toxicodependência lembrou aos deputados madeirenses a importância de “haver financiamento” para “os planos e para estratégias”, sob pena de fracassarem as medidas projevtadas. 

Este ano, e até Setembro, a Casa de Saúde São João de Deus ajudou no tratamento de 126 homens e de 51 mulheres com problemas de toxicodependência.

“A sensação que temos é que este número de novos casos tem estabilizado”, ainda assim o director clínico entende que falta à Região um estudo ou “um levantamento da saúde mental”, que “reflicta o que se passa com esta problemática” e que possibilite uma maior articulação entre as várias instituições.

“Pouco se tem feito na área da toxicodependência, porque temos várias capelinhas a tratar toxicodependentes. Nas várias capelinhas ninguém sabe o que é que cada uma faz, e depois não temos nenhuma entidade com capacidade de articular com todos os intervenientes e com capacidade de fazer projetos de colaboração, quer com o emprego, com a inclusão e a formação”, reforçou Luís Filipe Fernandes.

“Um dos problemas maiores é não termos indicadores nenhuns para saúde”, que permitam aferir “se estamos a fazer bem ou a fazer mal”, salientou.

O director clínico da Casa de Saúde São João de Deus defendeu como mais-valias a criação de uma “comunidade terapêutica” e a criação de “albergues, que existem em toda a Europa, e onde as pessoas podem entrar, tomar banho e pernoitar”. Na opinião do especialista, estes são instrumentos que ajudam a complementar todo o trabalho que é feito na área da saúde, de motivação para o tratamento.

Luís Filipe Fernandes reivindicou, também, programas mais actuais e flexíveis. “Os programas têm de ser adaptados às pessoas, e não podemos estar a funcionar com um programa que deve ter 30 ou 40 anos, que dificulta a acessibilidade ao tratamento. Se eu tenho um problema imediato não faz sentido estar um mês, dois ou três à espera de uma consulta”, vincou.

O médico enalteceu o trabalho que tem sido feito pela Polícia Judiciária na Madeira, que no último ano, e com o novo laboratório, identificou “sete novas drogas sintéticas” e “nos ajudou, enquanto profissionais de saúde, a perceber melhor o fenómeno psicológico destas novas drogas”.