DNOTICIAS.PT
Artigos

Caminhos Reais, um legado e um dever

Por estes dias, no concelho da Calheta, mais precisamente na freguesia da Fajã da Ovelha, entre os Sítios das Faias e Maloeira, ficou concluída a recuperação de um troço dos antigos caminhos reais, com a extensão aproximada de 3,3km e um outro ficará concluído em breve, na freguesia da Calheta, mais precisamente entre os sítios do Salão e Lombo do Doutor, também com a extensão de 1,5km. Obras levadas a cabo pelo Município com o apoio do Governo Regional e de Fundos Comunitários, cujo custo total ascendeu cerca de 3,3 ME.

Os Caminhos Reais assim denominados por terem sido edificados na época da monarquia constituíam na altura as principais vias de comunicação terrestre do país e visavam a ligação da metrópole às diversas capitais de distrito.

Na Madeira, foram seis os principais caminhos reais edificados, o Caminho Real 23, que fazia a circunscrição à ilha e os restantes, caminhos reais 24, 25, 26, 27 e 28, que ligavam vários pontos do sul ao norte e interior da Madeira, complementados pelos seus inúmeros ramais que se estendiam ao longo de cerca de 400km.

A sua construção iniciou-se logo após a colonização da ilha, a partir do século XV, que com a força e engenho dos homens de então, arduamente desafiaram a difícil orografia e ao longo de séculos traçaram os percursos os quais, passaram a ser as principais vias de comunicação, ultrapassando o transporte marítimo, muito mais vulnerável e perigoso, até então utilizado.

Apesar de atualmente parte destes percursos já não existirem, ou por efeito da própria erosão ou mesmo pela absorção em traçados da atual rede viária, a verdade é que cabe a todos nós a tarefa de preservar e recuperar esta obra gigante que recebemos dos nossos antepassados.

Até porque a recuperação e valorização deste importante património histórico vem facilitar o acesso aos terrenos agrícolas e se traduz numa mais-valia para o sector do turismo e para a manutenção da qualidade e atratividade do destino, não só pelas paisagens arrebatadoras que é possível vislumbrar ao longo dos seus traçados, mas sobretudo por constituírem uma excelente alternativa aos percursos pedestres recomendados existentes, cuja sobrecarga é já notória em alguns locais.

Atrevo-me a afirmar que a construção dos caminhos reais foram o embrião do desenvolvimento da nossa terra, cujo processo autonómico séculos mais tarde, aliado à capacidade governativa, veio reforçar de sobremaneira, transformando a Madeira tal qual a conhecemos.

A par dos caminhos reais, muitas outras importantes obras já realizadas ou a realizar, ficarão na nossa história, falo por exemplo do Aeroporto da Madeira, da Via Rápida, do Hospital Universitário, do Campo de Golf da Ponta do Pargo, bem como outras que se esperam ver concretizadas, cuja continuação da via rápida até à Calheta é uma delas.

É este o caminho do progresso que se tem trilhado até hoje, em nome do bem-estar e qualidade de vida da população, versus o beco sem saída que, perigosamente, certas mentes nos querem arrastar.