Nova crise política na Madeira

O Chega, com a moção de censura que apresentou, provocou uma nova crise política na Madeira; a segunda, em menos de um ano.

Percebe-se, pois que o CH quer estar sempre no palco com a sua agenda, que se acentuou após colher uma votação surpreendente nas últimas eleições nacionais.

Denuncia agora essa estratégia mais fracturante do que ontem, sendo um partido, que em vez de se moderar, face ao bom resultado que teve, afirmou-se definitivamente como um partido radical, extremado, populista e antissistema.

Daí a apresentação da moção de censura, cujo propósito é fazer cair o Governo Regional e ganhar notoriedade, sem cuidar das suas consequências notoriamente funestas e desvantajosas.

Esta situação faz lembrar uma personagem da banda desenhada “Astérix” que sempre que aparecia causava discussão e intranquilidade, tornando-se insuportável de aturar. Era o “Detritus”.

A verdade é que a moção de censura produziu uma crise, evidenciando que a Esquerda tem desejado fazer cair o Governo Regional de qualquer maneira, levantando o tema da corrupção, face às suspeitas e rumores.

A partir daí surgiu uma primeira crise. Estamos todos lembrados do espalhafato criado com a vinda de avião, transportando uma vasta equipa de investigadores, que procederam a variadas buscas para colherem provas, levadas para Lisboa com vista a sustentar uma acusação baseada em crimes de corrupção e conexos.

Na fase de instrução deste processo, naturalmente volumoso, exigindo estudo e reflexão pelo Juiz de instrução, este veio a concluir que não existiam indícios, ordenando a libertação dos arguidos, mantendo-se o processo, ficando-se a aguardar melhor prova.

Daqui resulta que as suspeitas de crime não chegam para se apurar a responsabilidade criminal.

Aqui faço uma observação que é de elogio ao então governante, Pedro Calado, que, tranquilamente, seguiu o ditado popular “Quem não deve, não teme”, mantendo-se em silêncio até que o processo, ainda pendente, traga novidades.

Mas, voltando ao princípio, a crise continuou até desembocar em eleições extraordinárias com a dissolução do Parlamento Regional pelo P.R. sem a fundamentar, estando a Região e a sua população em clima de tranquilidade, sem manifestações, greves e outros conflitos geradores de instabilidade social. Numa palavra, havia Paz e Estabilidade. Não havia a necessidade de utilizar a chamada “bomba atómica “ para a dissolução da A.R.

Nessas eleições os eleitores, com os seus votos, vieram a legitimar a manutenção do Governo e assim terminou a novela da 1ª crise, em princípios do corrente ano.

Após tudo o que aconteceu veio o Chega a apresentar uma moção de censura, a despropósito, criando nova crise, cativando a oposição para o efeito pretendido de novas eleições extraordinárias (as segundas, no espaço de um ano).

A ideia é sempre a mesma, fazer cair um governo, em vez de criar e seguir o caminho de obter a confiança do eleitorado, seguindo o rumo da alternância democrática, princípio básico de uma Democracia.

Neste momento são já conhecidas as posições dos partidos sobre a moção de censura do Chega.

O líder do PS, Paulo Cafôfo, veio a anunciar que o PS votaria favoravelmente, por unanimidade e por coerência, não apontando as razões e motivos justificativos da dita coerência.

Até porque o PS, aproximando-se do Chega, contraria a linha seguida em afastar-se do CH.

Acresce que as eleições autárquicas a realizarem-se em Setembro/Outubro do próximo ano de 2025, constituem a sua prioridade para melhorar e não diminuir o peso da sua influência nas Autarquias e desenvolver esforços para melhorar a sua posição actual.

Naturalmente procurará reunir os seus dirigentes e militantes, designadamente no Funchal, para o desafio que se coloca em eleições autárquicas.

O JPP, cauteloso, sendo o segundo partido mais votado da oposição, aguarda até ao próximo dia 17, vésperas da apreciação da moção de censura do Chega, para anunciar a sua posição.

A Iniciativa Liberal, segundo noticiou o DN, surpreendentemente, está inclinada em princípio, a votar favoravelmente.

Sobre o PAN não há notícias.

O PCP e o BE não se pronunciaram sobre esta questão, não tendo acento no Parlamento Regional.

O CDS, integrado na AD, votará, como é óbvio, contra a moção.

A grande dúvida resulta por não se saber ainda a posição do JPP

A conclusão a tirar é a de que o apoio à moção do Chega é um risco.

O PSD, em caso de novas eleições, estará mais tranquilo mantendo esta posição de tranquilidade e serenidade, não se envolvendo em tricas políticas inúteis até ao dia da apreciação da moção de censura do Chega, guardando os seus argumentos para o dia da discussão e votação da moção.

Perante estes riscos, pergunta-se “Quem fica a perder?”

Seguramente perdem a Madeira e o Porto Santo pela imagem da RAM, face à situação política em que se vive, denunciando fraca preparação e clarividência política não favorável ao desenvolvimento duma Democracia madura.

José Manuel Cabral Fernandes