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E agora?

Agora temos um elefante numa loja de vidros e porcelanas!! Estes últimos dias foram férteis em acontecimentos dignos de comentários: o Trump ganhou as eleições nos Estados Unidos, o Chega apresentou uma moção de censura, o ex-patrão da Fórmula 1 comentou as opções do antigo Campeão do Mundo Lewis Hamilton, o Sporting goleou o Manchester City, o Sporting ficou sem o seu treinador preferido, o Benfica ganhou ao F C Porto, o Trump voltou para fazer das suas, desta vez com maiorias no Senado e na Câmara dos Representantes, o Chega diz sim à mudança que afinal não é necessária porque vai assim mesmo, depois já não há pressa em censurar e há tempo para reconsiderações, enfim, são tantas as coisas comentariáveis que a dificuldade está na escolha, até porque a miríade de comentadores de serviço já prestou esse serviço de falar acerca de tudo o que possa bulir com a pacatez dos dias.

Falemos então do Lewis Hamilton: Campeão do Mundo de Fórmula 1 por sete vezes (juntando-se neste número a outro grande piloto, o alemão Michael Schumacher), já ganhou tudo o que havia para ganhar. Mas quer mais, e para isso resolveu mudar de equipa no próximo ano, provocando celeuma pela forma um pouco agastada com que termina a sua relação com a sua equipa de sempre.

Lewis Hamilton ganhou o seu primeiro título mundial na equipa da McLaren e os seis seguintes com a Mercedes-Benz. Agora, em desacordo com esta que se pode considerar a sua equipa de sempre, decidiu bem cedo na época corrente, mudar para a Ferrari no próximo ano. Não vamos entrar nos porquês, porque cada um é livre de seguir o seu caminho, mesmo ao arrepio de normas de ética, como tantas vezes temos visto exemplificado nas mais diferentes áreas do comportamento humano.

Um antigo patrão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, pessoa conhecedora do mundo da competição ao mais alto nível, um Senador com muitos anos de conhecimento e de experiência, retirado das lides diárias da competição mas activo na análise das mesmas lides, sugere que Hamilton foi sensato em deixar a Mercedes, uma vez que a equipa já não parece apoiá-lo totalmente, mas acredita que Hamilton deveria reformar-se em vez de arriscar um período difícil na Ferrari.

Não que Ecclestone ache que Hamilton não tenha capacidades, porque tem, mas porque acha que as dificuldades serão muitas e de difícil superação porque o apoio da nova equipa poderá não ser suficiente. Então, o melhor para ele seria sair por cima e encontrar outra coisa qualquer e fazer um bom trabalho aí!

Ecclestone dá um conselho que pode ser aproveitado em tantas outras situações em que a possibilidade de encontrar um elefante numa loja de loiça seja uma possibilidade.

Se quiser ser elefante, não entre numa loja de loiça, vá para o sítio dos elefantes e faça um bom trabalho aí, partilhando sabedoria e experiência!

Numa época em que reinam as redes sociais, quando as selfies são mais importantes para o poder do parecer sobre o ser, muitos já passam uma vida a criar, ou a tentar criar, uma imagem que não faça mais do que ajudar a que saiam bem nas suas selfies imaginárias, que vão sendo transmitidas em doses cada vez mais maciças enviesando realidades não preexistentes, e que são alimentadas por egos difíceis de controlar.

Imaginárias porque de real, da realidade diária, pouco têm.

Para o comum dos mortais, com o amor-próprio bem controlado, com o passar da vida lá vem o dia em que deixa de ser importante ter controlo sobre si próprio o tempo todo, um pouco ao contrário de uma selfie que capta o instante e deixa de fora o mundo que rodeia esse instante, chega o momento em que é preciso deixar andar. Não podemos estar sempre no controlo de tudo o que nos diz respeito: envelhecemos, vêm os cabelos brancos, a agilidade, mesmo que trabalhada, já não é a mesma, no fundo altera-se a imagem que criámos e que contem em si tantas outras imagens que não conseguimos controlar.

A única coisa que podemos, talvez, controlar é a nossa interioridade, sabendo que nada é estático, que tudo muda diariamente e que a imagem que criámos, num dado momento já não corresponde à imagem que passamos, a selfie passa a ser diferente daquela que imaginámos. É preciso não ter medo de não controlar, não ter medo de deixar andar, de deixar correr as coisas na direcção daquilo em que somos bons e que sabemos fazer bem.

Como já referi, para o comum dos mortais, é assim.

Mas infelizmente haverá sempre quem ache que a sua selfie sai sempre bem, com o ego a fazer de um “photoshop” para que a foto saia bem, deixando a descoberto uma imagem real que não é aquela que é transmitida para as redes sociais, haverá sempre um elefante numa

loja de vidro e porcelana, haverá sempre um Trump que ganha, um Chega que censura, um Hamilton que quer mais, alguém que não aceita que o tempo de deixar passar também lhe pode chegar!

Mas também haverá sempre uma palavra sábia de um Senador mesmo que não escutada pelos egos inflados pelo “photoshop” das selfies imaginárias.

E agora?

O que fazemos com um Trump que ganhou as eleições nos Estados Unidos, com uma moção de censura do Chega, com um elefante numa loja de vidros e porcelanas?