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Madeira

"Um novo conflito global tem, literalmente, o potencial de destruir o Mundo tal qual o conhecemos"

Representante da República lembra as guerras do passado para alertar para as presentes que ameaçam o futuro, não esquecendo de pedir mais meios aos antigos combatentes

Fotos Helder Santos/Aspress
Fotos Helder Santos/Aspress

No discurso que assinala os 106 anos da assinatura do Armistício que ditou o fim da I Guerra Mundial, bem como os 50 anos do fim da Guerra do Ultramar e os 101 anos da Liga dos Combatentes, o Representante da República na Madeira recorreu às memórias destes conflitos do passado para alertar para os conflitos do presente, que nos podem levar a repetir a História trágica de guerras globais, desta feita com o risco de ser o fim do mundo como o conhecemos.

O Juiz Conselheiro Ireneu Barreto falava na cerimónia que decorreu junto ao Monumento aos Combatentes, iniciativa  anual do núcleo  regional da Liga dos Combatentes, precisamente para honrar a memória dos camaradas caídos ao serviço  de Portugal.

Perante uma plateia composta quase toda por militares, agradeceu tudo o que fizeram "pelo nosso País", não esquecendo os familiares. "Dos que partiram, ficam as suas memórias, aos que estão entre nós, manifestamos a nossa gratidão". Mais, mais do que isso, questionou "se não são credores de outros benefícios. Não será possível alargar as vantagens de que os mesmos gozam?", actualmente, meritoriamente. "Já no passado fiz esta pergunta, e o tempo parece ter-me dado razão. Por exemplo, aí está a programada comparticipação a 100% na compra de medicamentos", evidenciou. "O que me entusiasma a voltar a questionar os valores atribuídos ao Suplemento Especial de Pensão e ao Acréscimo Vitalício de Pensão. Em ambas as situações estão em causa montantes que podem, na melhor das hipóteses, ir até pouco mais de €170, pagos uma vez ao ano", realça.

E continuou a reivindicação em nome dos antigos combatentes. "Todos somos testemunhas do aumento do custo de vida nos anos mais recentes, pelo que creio que todos comungaremos da ideia de que o referido montante pouco impacto terá na melhoria da situação económica de quem o recebe", frisou, acrescentando que "talvez possa ser altura de repensar estas prestações, por um lado, sujeitando-as a condição de recursos; e, por outro lado, fazendo aumentar substancialmente o valor das prestações que vierem efetivamente a ser atribuídas. Certamente que seria uma via mais justa, atribuindo aos que mais precisam uma compensação de maior dignidade, que possa corresponder minimamente ao reconhecimento que tanto merecem", disse.

Contudo, porque os antigos combatentes só  o são  porque houve guerras para travar, que Ireneu Barreto desejaria que não  existissem razões para voltar a haver homens, mulheres e crianças  vítimas  de conflitos armados, lembrou as palavras de Mark Twain. "Quando, por vezes, se tentam fazer paralelismos entre momentos históricos, cruzamo-nos com uma conhecida citação de Mark Twain, que terá escrito que 'a história nunca se repete, mas muitas vezes rima'", citou. "Penso que esta passagem, sem deixar de sublinhar que o mundo não será no futuro o que já foi no passado, tem o mérito de alertar para a conveniência de darmos ouvidos aos ecos desse tempo que já lá vai".

Lembrando que aquando do início  da guerra em 1914, os dirigentes pensavam que seria resolvido em pouco tempo. Tal como hoje acontece "na Ucrânia, no Médio Oriente e em tantos outros pontos do nosso planeta", frisou. "Pelo meio, sofrem as mesmas vítimas de sempre: os soldados, mas também os civis, incluindo mulheres, crianças e idosos, que em nada contribuíram para a guerra".

E, expressou um desejo que será  o de todos os defensores da paz. "Espero, portanto, que, de uma vez por todas, tenhamos tirado as corretas lições da história e que, passo a passo, não nos dirijamos, adormecidos, para conflitos mais globais. Com os meios com que hoje se podem travar as guerras, um novo conflito global tem, literalmente, o potencial de destruir o Mundo tal qual o conhecemos".