Estará a Madeira a gastar 20 milhões com a construção de uma 'casa da música'?
A notícia com maior destaque, na edição e papel do DIÁRIO desta sexta-feira, dá conta de que faltam 145 medicamentos no manancial à disposição do SESARAM, nomeadamente, na Farmácia Hospitalar. A gestora do serviço público de saúde justifica a ruptura com atrasos nos procedimentos contabilísticos e problemas por parte dos fornecedores.
A síntese dessa notícia, no on-line do DIÁRIO, em dnoticias.pt, gerou alguns comentários, de que destacamos o de M. Ornelas, que, aparentemente, atribui a falta dos remédios a atrasos nos pagamentos ou à falta de dinheiro. O leitor afirma que, enquanto faltam medicamentos, a Região está a construir uma casa da música por 20 milhões de euros. Será Verdade?
Esta verificação de factos deixa de fora a afirmação implícita da falta de dinheiro. Ainda assim, impõe-se esclarecer que essa não deverá ser a principal razão das rupturas. Mas, aqui procuramos apenas verificar se está em construção uma casa da música por mais de 20 milhões de euros.
Essa verificação vai basear-se em documentos oficiais e declarações oficiais, nomeadamente de responsáveis políticos, do Governo Regional.
Antes, vejamos em que reside a necessidade de se construir uma casa da música. Bem, na verdade, a designação mais comum é Casa da Orquestra (clássica da Madeira), mas pode ainda vir a mudar de designação. Por exemplo, o concurso para os projectos de especialidades, que acabou adjudicado à NRV por perto de 500 mil euros, tem a designação de Casa de Espectáculos do Funchal.
Há muitos anos que um espaço próprio, com condições para ensaios e actuações, vem a ser pedido por dirigentes, directa e indirectamente, ligados à Orquestra Clássica da Madeira. A edificação desse espaço tem sido também prometida por políticos, há mais de 20 anos.
O Norberto Gomes, director artístico da OCM, em Janeiro de 2022, logo após ao anúncio de que o processo de construção da Casa da Orquestra ia avançar, disse-se “feliz” com esse facto e explicou a importância do espaço.
“É importante sentirmos que há esta visão de dar importância à arte performativa com a construção de um edifício de raiz para a música.”
“Importa também perceber que na Madeira não existe nenhuma sala de concertos. É natural que quando vemos um jogo de futebol, esses profissionais jogam num campo de futebol, existem especificidades para cada área e na música clássica, na música erudita, tocamos com instrumentos acústicos e uma verdadeira sala de concertos tem uma acústica muito especial, conseguimos ouvir os instrumentos com qualidade.”
“A centralidade e as condições que estão à volta de uma sala de concertos são muito importantes, a localização parece-me óptima, sempre sonhei que a OCM pudesse ter o seu espaço de concertos no centro do Funchal.”
A 14 de Fevereiro no mesmo ano, ao JM, Norberto Gomes lembrava a perda de cerca de 80% do público, quando a Orquestra teve de se mudar para o Madeira Tecnopolo. “O Madeira Tecnopolo está absolutamente fora de questão, porque a grande maioria do nosso público é turista e com mais de 60 anos. E essas pessoas, quando vão para uma cidade, querem conforto, segurança, beleza, coisas que o Tecnopolo não proporciona.”
“Não existe uma carreira de autocarros em condições, não existe uma praça de táxis, não existe iluminação, não existe restauração ou cafés em condições, não existe nada.”
“Nós tivemos essa experiência em 2010, quando fomos para lá e eu penso que, certamente, perdemos 80% do público”.
Em Janeiro deste ano, o presidente do Governo visitou as obras, entretanto iniciadas, de escavação e contenção periférica, nos espaço escolhido, junto à rotunda, na entrada para o molhe da Pontinha. O presidente do Governo elogiou a concepção arquitectónica e revelou que o investimento global vai suplantar 20 milhões de euros.
A expectativa, então deixada, é de que o edifício esteja operacional em 2027.
Assim, como fica claro, é verdade que a Madeira está a construir uma casa destinada à música, num investimento superior a 20 milhões de euros. Neste valor, não está incluído o terreno, que já se encontrava na posse da Região.
O edifício terá seis pisos, que integrarão duas salas principais, uma destinada à música sinfónica, com capacidade para 747 lugares, e outra à música de câmara, com uma lotação de 289 lugares, e um espaço polivalente para eventos menos protocolares e não regulares, com lotação para 226 espectadores sentados e cerca de 200 em pé.
A casa terá também uma galeria de arte, um espaço de restauração, café/bar, parque de estacionamento subterrâneo com cerca de 120 lugares e três apartamentos para solistas e maestros convidados.