Carta de estudantes ao Governo exige fim dos combustíveis fósseis até 2030
Os estudantes que apoiam o colega hoje julgado por atirar, em fevereiro, tinta ao atual primeiro-ministro Luís Montenegro anunciaram que vão enviar uma carta ao governo a exigir o fim dos combustíveis fósseis até 2030.
Em comunicado, os estudantes avisam que vão "continuar a lutar" contra os combustíveis fósseis e à saída da primeira audiência de julgamento, Matilde Ventura, testemunha de defesa e porta-voz do grupo Greve Climática Estudantil, esclareceu que o objetivo da carta é que o Governo "se comprometa a terminar com os combustíveis fósseis".
O movimento pretende levar os objetivos contidos na carta a discussão nas escolas, admitindo que os estudantes em protesto possam iniciar uma paralisação a partir da primavera.
Acerca do facto de o estudante Vicente Fernandes ter sido acusado no processo agora em julgamento, Matilde Ventura afirmou à saída do tribunal, no Campus de Justiça, Lisboa, que é "absolutamente ridículo e revoltante que um jovem de 19 anos esteja a ser julgado" por sujar o fato do primeiro-ministro e acusou Montenegro de ser o "verdadeiro criminoso" por o governo estar "conscientemente a destruir o futuro devido à crise climática".
Hoje durante o julgamento Vicente Fernandes declarou não pretender danificar o vestuário de Luís Montenegro quando em fevereiro passado atirou tinta verde ao então líder da Aliança Democrática e atual primeiro-ministro.
"Acredito que pequenas ações podem mudar o curso das coisas. Não pretendia prejudicar o vestuário de Luís Montenegro, mas alertar para o problema" dos combustíveis fósseis, declarou o estudante e arguido.
Vicente Fernandes está acusado de três crimes de dano, todos relacionados com alegados prejuízos que a tinta causou no vestuário do atual primeiro-ministro, de uma fotógrafa do CDS e ainda de um polícia de serviço no evento de campanha eleitoral na FIL, em Lisboa.
Luís Montenegro, que foi atingido com a tinta verde na face, cabelo e vestuário, foi um dos queixosos que deduziu pedido de indemnização civil, tendo fonte ligada ao processo confirmado aos jornalistas que o atual primeiro-ministro pede 1.750 euros pelos danos causados no seu fato.
Isabel Santiago, a fotógrafa do CDS, pede mais de 450 euros de indemnização, conforme precisou o seu advogado João Pinheiro da Silva, e o agente policial pediu uma indemnização por danos na roupa, alegando hoje, ao ser ouvido como testemunha em julgamento, não ter conseguido retirar as manchas de tinta apesar das lavagens.
Vicente Fernandes, que antes de atirar tinta ao atual primeiro-ministro só teve tempo de gritar "Montenegro defende a indústria fóssil" antes de ser agarrado por polícias, alegou que a tinta que utilizou era "lavável e ecológica", sendo à base de água, adiantando que usou hoje o mesmo casaco e os ténis que usou na ação ocorrida em 28 de fevereiro, tendo-lhe sido fácil retirar a tinta verde que também lhe manchou o vestuário, após ser agarrado e detido.
O jovem estudante de Ciência Política e Relações Internacionais disse lamentar os prejuízos e as consequências causadas pela tinta arremessada e que visava unicamente Luís Montenegro, reiterando que a intenção do protesto foi apenas "exigir um plano para o fim do fóssil até 2030", aproveitando o mediatismo que aquele acontecimento poderia trazer para a causa ambiental.
Na sessão de hoje foram ainda ouvidos quatro polícias que presenciaram o incidente, tendo a próxima audiência de julgamento ficado marcada para 06 de novembro.