Palavras de um psiquiatra

As gerações mais novas e nem todas as ligeiramente mais antigas o conheceram, mas talvez já tivessem ouvido falar deste médico psiquiatra, muito conhecido pela sua atividade profissional, mas, sobretudo, pela piada que tinha nas coisas que dizia, especialmente no convívio com os amigos.

Das muitas e variadas coisas que ouvíamos dele, uma nunca nos esquecemos por tão falada e divertidamente comentada nessa época.

Falamos do Dr. Aníbal Faria – que Deus o tenha - que, a determinada altura, numa das suas habituais “reuniões” de amigos, exclamou: para a Madeira ser um manicómio só bastava que lhe colocassem arame farpado em toda a sua volta!

Isto numa altura onde a liberdade das pessoas, quer do ponto de vista de movimentos, como de expressões, verbais ou escritas, eram controladas ou suprimidas, já este médico dizia que “isto” era uma terra de loucos. O que não pensaria ou diria o Dr. Aníbal Faria se vivesse nos tempos de hoje?

Talvez não pensasse, nem dissesse nada, fosse ele próprio um dos primeiros a enlouquecer!

Valha a verdade, a sociedade como está, não é fácil lidar com ela.

Evidentemente que, não estamos a falar de toda a gente. Ai de nós se não houvesse ainda pessoas equilibradas, mas acreditamos que os próprios “equilibrados” já têm dificuldade em se “equilibrar”.

Exatamente porque estão conscientes de que as principais vítimas deste tipo de sociedade que nos impingiram, são elas próprias, as pessoas sérias, cumpridoras com os seus deveres e obrigações, as pessoas leais, justas, trabalhadoras e honestas.

Tal como sabem que o vadio está protegido, o delinquente defendido, o incompetente valorizado, o aldrabão e o mentiroso qualificados, aos que se juntam os de comportamentos e palavreados de bradar aos céus

E já não estamos a falar só da Madeira, como é evidente, mas do País em geral, que caminha em cada dia que passa em turbilhão e aos trambolhões para onde não se sabe ainda muito bem, embora se calcule.

A imagem que todos os dias nos chega a casa através dos vários meios de Comunicação Social é a de um País em declínio, a saque, onde a palavra de ordem é a do “salve-se quem puder”.

É a de um quadro negro onde se mostra que, cada vez se sabe menos em quem podemos confiar, face a práticas abusivas e graves, umas confirmadas, outras em suspeição, envolvendo pessoas que tinham por dever e obrigação de dar o exemplo.

Tudo isto junto à onda de assaltos, de acidentes, de violência, do matar “por dá cá aquela palha”, dos incêndios devastadores, causadores de mortes, feridos e da ruína de várias famílias, dos problemas do emprego, da habitação, da saúde só mentes muito fortes têm capacidade de aguentar sem lhes causar mossas.

E, claro, depois de apagados os fogos e das habituais lamúrias e (revoltantes) apresentações de condolências e promessas de que tudo se irá recompor, ainda carregamos o fardo da Assembleia da República, (onde só uma terça-parte das pessoas que lá estão, devia estar) para ver e ouvir as cantilenas habituais, os folclóricos despiques políticos, com os resultados do costume.

- Dr. Aníbal Faria, onde quer que esteja já pode encomendar o arame farpado não só para a Madeira, como para todo o Portugal, pois não tarda o dia em que fiquemos todos “chanfrados do miolo”.

O número de ansiolíticos que se consome e de doentes mentais que aumenta é um triste prenuncio do futuro que nos espera.

Fora os que diariamente põem (e outros que tentam por) fim à sua vida, e que o “fascismo em ditadura “naquele tempo escondia e que este “ semi-fascismo em liberdade” tenta de algum modo esconder.

Sobre as coisas boas que também há - era só o que faltava não haver - deixamos para os felizardos do regime comentar. Estão a ser pagos e repagos para o fazer.

Juvenal Pereira