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Palestinianos e judeus marcham em Nova Iorque pelo fim "das atrocidades" em Gaza

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Foto EPA

Milhares de pessoas, incluindo palestinianos e judeus, marcharam hoje em Nova Iorque pelo fim das "atrocidades israelitas" em Gaza e pela "libertação da Palestina", num protesto em que se registaram momentos de tensão com israelitas.

A marcha teve início junto à Bolsa de Valores de Nova Iorque, em Wall Street, e arrancou com cânticos de cerca de cinco crianças judias, que entoaram "Libertem a Palestina, Libertem o Líbano" e "Sim ao judaísmo, jamais ao sionismo", frases de protesto que mereceram duras críticas de uma dezena de israelitas que estavam no local e que gritavam: "Nojentos, tenham vergonha".

À Lusa, Nerdeen Kiswani, fundadora da Within Our Lifetime - uma organização comunitária liderada por palestinianos e que convocou a marcha de hoje - disse que há cerca de um ano que vem recebendo ameaças de morte por parte de "sionistas", mas garante que não irá desistir de lutar por Gaza.

"Têm feito ameaças contra mim e contra palestinianos em todo o lado, mas não tenho medo dessas ameaças. Temos o direito à nossa liberdade de expressão e de estar aqui a protestar, mas convém frisar que, no final do dia, ser palestiniano é estar ameaçado em todo o lado. Mas a minha segurança está mais garantida do que a população de Gaza, que vive debaixo de constantes bombardeamentos", afirmou.

"Por isso, mesmo tendo recebido ameaças de bomba aqui, estou disposta a correr esse risco para travar o assassínio de mais crianças palestinianas", acrescentou Nerdeen Kiswani em declarações à agência Lusa.

Durante o protesto foi erguida uma mega bandeira palestiniana, foram entoados cânticos e orações e foram levantados cartazes com frases como "Os judeus condenam as atrocidades cometidas por Israel", "O judaísmo exige liberdade para Gaza e toda a Palestina", "Israel=Genocida" e "Cessar-fogo já".

"Estou aqui como um judeu que se opõe ao genocídio que está a acontecer em Gaza. Deveria ser uma obrigação de todo e qualquer ser humano sair à rua e dizer: 'Isto tem de parar!'. E tem mesmo de parar, especialmente porque estas atrocidades estão a ser falsamente cometidas em meu nome, em nome da minha religião e temos de nos opor a isso. O judaísmo não é sionismo", declarou à Lusa Yitzchok Deutsch, membro da organização "Judeus Unidos Contra o Sionismo".

"Acreditamos numa paz bela para o povo palestiniano. O problema não são as diferenças entre religiões, mas sim esta brutal ocupação que se arrasta há décadas e que tem de ser travada. E deixo uma mensagem para os israelitas que estão aqui a atacar-me: o vosso jogo de vitimismo tem de acabar e o mundo já está a acordar", frisou.

De acordo com a organização do protesto, esta marcha pró-Palestina em Nova Iorque recebeu o apoio de mais de 200 organizações e passará por vários pontos de Manhattan, começando por Wall Street e seguindo para o edifício da Câmara Municipal, para o Washington Square Park, para o Union Park, para a estação Grande Central, passando pela Times Square e terminando no Columbus Circle, junto ao Central Park, num evento que se prolongará ao longo de cinco horas.

A marcha terminará a uma curta distância de onde se realizará também uma vigília pró-Israel, onde se acenderão velas em memórias das vítimas dos ataques do Hamas de 07 de outubro de 3023 e onde é esperada a presença de políticos e familiares dos reféns retidos em Gaza.

Para evitar eventuais confrontos entre manifestantes, a Polícia de Nova Iorque montou uma mega operação de segurança, com centenas de agentes a acompanhar a marcha.

Em vários momentos do protesto, a polícia teve de intervir e separar manifestantes pró-Israel que confrontaram os participantes da marcha a favor da Palestina.

"Inundem a cidade de Nova Iorque pela Palestina, fiquem do lado de Gaza e elevem o povo palestiniano que resiste ao genocídio por todos os meios necessários desde 1948. Saiam do trabalho e da escola, vão para as ruas e juntem-se a nós durante todo o dia", apelou a Within Our Lifetime nas redes sociais.

Nova Iorque, que concentra a maior comunidade judaica do mundo fora de Israel, tem sido palco de protestos desde o início da guerra entre Telavive e o Hamas, com grupos como o 'Jewish Voice for Peace' a juntarem-se aos apelos por um cessar-fogo em Gaza e no Líbano.

A guerra, que hoje entrou no 367.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 41.900 mortos (quase 2% da população), cerca de 17.000 dos quais menores, e de 97.000 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo de um ano de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.

O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.