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Instituições, Coragem e Inspiração

A globalização alterou um vasto leque de conceitos. Um deles foi a coragem

Em qualquer sociedade organizada as instituições assumem um papel preponderante. Sejam elas culturais, desportivas, recreativas ou políticas todas estas instituições se constituem como um referencial, pois moldam os seus membros através da construção das memórias individuais e coletivas daqueles que as compõem.

Hoje, quando falamos na crise das instituições traçamos um quadro global que não corresponde às expectativas criadas, como se o mundo se tivesse encaminhado para um sítio diferente do suposto.

A globalização alterou um vasto leque de conceitos. Um deles foi a coragem. Originalmente uma palavra que classificava aqueles que se transcendiam por uma causa maior, executando uma ação ou conduta que tinha como fim um ganho coletivo, hoje está intimamente ligada a uma noção de afirmação individual. Para ter o “direito” a ser original - numa sociedade despida de personalidade onde a banalidade é excessivamente celebrada e a originalidade olhada com desconfiança - mostra-se necessária a coragem de ser politicamente incorreto. Da autenticidade. Talvez tenha sido sempre assim, mas não terá a globalização ampliado significativamente o número de “velhos do restelo”?

Seguramente que muitas outras questões se poderão levantar, todavia há uma que se impõe: não são os políticos, jornalistas, e os profissionais da justiça responsáveis pelo atual estado das instituições? Uns por não terem a coragem de reformar e regular, outros por tudo publicarem sem critério - e por vezes de forma dolosamente errónea - e os últimos por ímpetos que em nada abonam à realização da justiça. Não é estranho que todas estas áreas vivam uma crise de referências e incapacidade de gerar nomes consensuais?

Não teremos estado demasiadamente entretidos com legítimas aspirações minoritárias e excessivamente distraídos com os aspetos que podem devolver a esperança às grandes maiorias? Criámos cidadãos demasiado vulneráveis ou elevámos exageradamente as expectativas? Existe ou não, globalmente, um sentimento de descrédito e desconfiança para com o futuro?

Mais do que com lideranças carismáticas, o grande desafio do ocidente prende-se com a ausência de uma matriz mobilizadora dos seus povos, alicerçados numa motivação que inspire, dê esperança e veja para lá do horizonte. Que não se deixe descaracterizar pelos populismos que apelam ao que de mais irracional existe no homem, ao medo e através dele alimentar a guerra e divisionismo, como vemos na Ucrânia e no Médio Oriente.

Que haja inspiração para responder, coragem para lutar e referências para manter. A ausência de identidade é o primeiro espaço para se ser extinto. Que tenhamos a coragem de fazer o que ainda não foi feito, ou simplesmente, recuperar aquilo que se perdeu.