“Professores da Revolução”
Um grupo de professores do 1.º Ciclo do Ensino Básico, que em 1974 iniciou a sua vida profissional, no passado dia 28 de setembro, celebrou as suas “Bodas de Ouro”.
Há cinquenta anos, este grupo iniciou um novo ciclo nas suas vidas. Finalmente eram professores! Caloiros! A pé, muitos destes, calcorrearam veredas rústicas, íngremes e rochosas. Ensinar, ajudar a crescer, levar os seus alunos mais além… era o seu lema, conscientes de que era no 1.º Ciclo que se desenvolviam e sistematizavam as competências fundamentais para a compreensão do mundo.
Para celebrar a memória desta grande jornada de resiliência nas suas vidas, iniciaram este grande dia com um acto de louvor a Deus, na igreja do Colégio, numa celebração eucarística. Com saudade, recordaram todas as colegas e professores, nomeadamente os que já partiram para a outra margem. Um momento de bonita união espiritual, emoção, com uma bela animação litúrgica, que a todos tocou o coração.
Após a celebração religiosa, o grupo reuniu-se num almoço convívio. Honrou-nos com sua presença, uma professora que, com seu carisma muito contribuiu para a formação pedagógica dos presentes. Uma docente de quem se dizia: “Nem só faz o que gosta, como gosta daquilo que faz”. Que nos mostrou o lado mais bonito da profissão. Que nos deu asas para voar. Que sabia ler os nossos silêncios e gestos. Que nos olhava como quem vê mais além. Assim era a nossa professora Lígia Brazão.
Foram momentos vividos com grande emoção! Em todos os rostos, olhos brilhantes, alegria e sorrisos espontâneos. O doce reencontro com colegas que vieram de muito longe, para nos mostrar que o coração não tem distâncias. Uma boa dose de música da vida que nos envolvia, acompanhada de danças, cantares, acordeão e declamação poética. Momentos que ficarão tatuados no nosso coração. Um dia inenarrável!
Para imortalizar e finalizar o convívio, a declamação e oferta de um poema:
Sorrindo, acreditando no futuro,
A pintar a vida com as cores da esperança,
Crescemos depressa, sonho de criança
Na certeza de um mundo mais justo e mais puro.
Nas trovas de um abril, derrubando o muro,
Apontámos estrelas no firmamento,
Ouvindo cantigas e algum lamento.
Eram sorrisos de criança feliz a sonhar
Prometendo ao destino o verbo amar
Na cantiga trazida pelo vento.
Olhámos o mar, montanhas e o infinito.
Navegámos na bruma de um pássaro alado.
Fomos cantiga, espiga, alegre o fado.
Calámos a fome e o choro aflito.
Nas páginas de um poema manuscrito,
Inventámos um hino dentro do peito.
Tivemos o engenho, a arte e o jeito
Na força de vencer sem desistir.
Pelos caminhos da justiça por abrir,
Abrimos os braços sem preconceito.
Cantámos para abrandar o nosso passo
E ganhámos o mundo inteiro ao fim do dia,
Soltando as amarras da alegria
Dando na escola um grande abraço.
O mundo inteiro sorria em cada traço.
A escola, à noite, cavava um suspiro.
Parecia que morria de um qualquer tiro,
Atingindo o sofrido coração.
Mas de manhã as crianças traziam uma canção
E a sala abandonava o seu retiro.
Mais um dia, mais um mês, mais um ano
E o calendário não podia esperar.
50 primaveras a correr e a saltar.
Prova vencida de veterano
De coração sempre humano
Como bola colorida de menino
Numa estrada inventada no destino.
Com vontade de cantar ao mundo inteiro
Esse poema de paz, feito guerreiro,
Semente e raiz de peregrino.
Tudo passa, ficam memórias guardadas
No baú de uma História por contar.
Há sorrisos, desalentos de uma vida a lutar.
Ficaram abraços, passos cansados nessa estrada
Que a vida nos deu em troca de nada...
Mas resistimos, fomos gigantes
Com a força e vontade do querer
Nunca deixámos esconder
Esse farol da vida tão brilhante.
A todos os ausentes que partiram,
Aqui fica a saudade na lembrança.
Deixaram para todos uma herança,
Guardada no fundo do coração.
É grande a nossa emoção,
Neste dia de festa celebrado.
Estão connosco com largo sorriso
Afinal, o que apenas é preciso
É estarem ao nosso lado.
Fomos passado e aqui somos presente.
O futuro será amanhã, a vida é para festejar.
Levantemos a taça da alegria, vamos cantar.
Que a nossa voz seja nascente.
Seja rio, seja sol, estrela luzente.
Façamos da amizade, canção sentida.
Na pauta da vida por viver
Há sempre uma vontade, um querer,
Melodia eternamente repetida!
Grupo Magistério 1974