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Humildade e Trabalho

O relacionamento político entre a Região e o Estado Português é, sem dúvida, um dos pilares que sustenta o progresso governativo regional e a qualidade de vida dos seus habitantes. Isto advém do simples facto de que a Autonomia da Madeira, embora tenha um percurso pautado por reivindicações legítimas, requer um equilíbrio entre independência administrativa e cooperação estratégica com o governo da República. A manutenção desse diálogo é, portanto, imprescindível para garantir os recursos financeiros, logísticos e institucionais necessários para a execução de políticas que aportem dignidade e valor ao quotidiano dos madeirenses.

A saída de Guilherme Silva do parlamento nacional marcou um ponto de inflexão nesse processo. Parlamentar dotado de uma rara combinação de perspicácia política, inteligência estratégica e sentido de dever público, ele representava muito mais do que um simples interlocutor entre a Madeira e Lisboa. Aliás, a sua capacidade de articular os interesses regionais de forma diplomática garantiu, durante décadas, que os assuntos pendentes entre o governo regional e a República fossem tratados com o respeito merecido, pois compreendia, melhor do que ninguém, que a Autonomia exige um jogo de equilíbrios finos. A sua saída forçada e, a meu ver, pouco elegante do panorama político, em 2015, criou um vazio que ainda não foi colmatado, deixando a Região à mercê de lideranças regionais exponencialmente menos qualificadas para defender os interesses autonomistas.

Sem surpresa, desde então, as relações entre o Funchal e Lisboa deterioraram-se e o diálogo institucional, que deve ser a coluna vertebral da cooperação entre a Madeira e o governo central, tornou-se refém de vaidades, susceptibilidades e confrontos puerís, com a Quinta Vigia a optar por uma postura de confronto e vitimização, assim sacrificando o diálogo construtivo em prol de uma política birrenta e de ressentimentos. Esta estratégia não só tem sido ineficaz, como se tem revelado profundamente prejudicial para os interesses da Madeira.

Este cenário de degradação institucional tem tido consequências nefastas para a população, pois, em vez de procurar a via do diálogo e da negociação, a liderança madeirense tem-se afundado em questões menores e disputas de foro pessoal, uma atitude que é, já em si, reflexo de falta de visão e da incapacidade em entender que a Autonomia não é sinónimo de isolamento, mas antes de cooperação inteligente e calculada.

É precisamente neste contexto que se torna imperativo sublinhar que qualquer indivíduo que tenha o privilégio de representar a Madeira na República deve agir com a grandeza de espírito que a função exige, nomeadamente com maturidade política, sentido de Estado e uma determinação clara de erguer a voz da Madeira nos corredores do poder – com firmeza e sem ceder aos impulsos do confronto fútil ou às pressões de certos poderes instalados.

A Madeira não pode continuar a ser vítima de caprichos, amuos infantis ou agendas pessoais. Pelo contrário, a sua política externa deve ser pautada por uma visão de longo prazo, com o objetivo último de garantir que a Região continua a prosperar dentro do quadro autonómico, sem perder noção do seu lugar no todo nacional. É essa a responsabilidade que o seu estatuto autonómico exige, a qual demanda, de todos, trabalho e humildade para olhar para pensar o futuro, sem receio de colher o que de bom existe nos exemplos do passado. Tenhamos, sempre, a despretensão de reconhecer que alguns daqueles que nos antecederam ainda têm algo para nos ensinar.