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Aceita que dói menos

“Aceita que dói menos” é o título de uma canção sertaneja. Fala de resignação, de sofrimento, de aceitação. Nomeadamente de aceitar o fim. Esta que se tornou uma expressão popular vem a propósito de uns piropos lançados há poucos dias em Tróia.

Já todos sabemos do ódio visceral que o inquilino de Belém tem ao Almirante. Ao ponto de, num destes dias, ter tecido rasgados elogios ao Chefe do Estado-Maior da Armada, durante a realização de um exercício internacional.

Gouveia e Melo deve ter mordido o lábio para não se desmanchar a rir quando o Presidente desvirtuou, como ele gosta, mais um momento de glória da Marinha Portuguesa que recebeu o exercício REPMUS, um dos mais importantes no seio da NATO. É que Marcelo, perito em criar notícias e deixar recados, não deixa os seus créditos por mãos alheias. Fez saber que o Almirante que coordenou o Plano de Vacinação e foi tantas vezes elogiado pelo próprio, estava bem onde estava, acenando com a sua continuidade à frente de uma instituição com mais de 700 anos.

“Aqui o importante é mostrar um elogio ao Almirante Gouveia e Melo”, disse aos jornalistas. Não, não é. Lamento. O importante é elogiar a máquina cada vez mais oleada, feita com pessoas, não com assistentes virtuais. Mas o homem que sai de Belém em Março de 2026 já não quer saber de pessoas. Quer saber apenas do hipotético candidato a seu sucessor e usa todas as armas disponíveis para afastá-lo da corrida que, à partida, está ganha. Como estava a sua quando foi sozinho para a estrada, sem apoio declarado de qualquer partido.

A olhar para a televisão, dei por mim a imaginar Gouveia e Melo a cantarolar mentalmente “tu não mandas em mim”, outra expressão popular que deu origem a uma canção.

É bom que alguém explique ao homem que aceitar é um acto nobre e que foram os políticos que ali puseram o militar que coordenou o plano de vacinação mais exemplar de todos, mas que a vida militar acaba, por leis que os próprios políticos assinaram, como o limite de idade para se estar em certas funções.

Depois de Marcelo não ter visto com bons olhos o nome de Gouveia e Melo para Chefe do Estado-Maior da Armada no início de 2021, exonerou o antecessor, Almirante Mendes Calado, para estender o tapete ao actual número1 da Marinha em Dezembro do mesmo ano. O motivo? a sombra que lhe fazia em cerimónias, eventos e actos solenes, quando o povo passava à sua frente e se dirigia ao militar para tirar uma selfie. Foram os políticos que criaram o monstro, mas ninguém sabe como se livrar dele. A meu ver, tarde demais. E apesar de ninguém saber o que o submarinista vai fazer depois de 27 de Dezembro, a verdade é que ninguém se manifesta nos partidos. Pela primeira vez, os candidatos a candidatos estão calados, a rezar para que se esqueçam deles. Ninguém parece querer enfrentar o homem a quem os próprios políticos traçaram rasgados elogios. Ficaram presos nas suas teias. Enquanto isso, pelos lados de Belém, a música que se ouve é “agarrem-me que eu vou-me a ele”, do Fado Toninho, da cantora Deolinda.