Tempo de santos, satanismo e psicopatologias
No mês de outubro algumas leituras marcaram os meus dias (desculpem as citações). O relato da batalha de Lepanto de Derya M. Little surpreendeu, não por em 7 de outubro de 2023 ter começado o horror da guerra de Hamas-Israel, mais por comparação com outras narrativas da batalha de 1571 (cf. Catholic World Report, 10/11/2024). A autora Derya M. Little nasceu na Turquia, cresceu muçulmana, de pais divorciados, foi militante ateia, estudou numa universidade turca, prestou serviço em ambiente de Igreja e tornar-se-ia católica, ao desenvolver a tese de doutoramento a comparar os protestantes com os católicos, na Universidade de Duhram (Norte da Inglaterra). E escreveu a sua história de conversão (From Islam to Christ, 2017). Hoje vive nos Estados Unidos da América com família e filhos. Do seu artigo, título português: “Lepanto, os Polacos, Islão e Nossa Senhora”, cito apenas duas ou três frases. “Se algum país conhece e teme o Islão ou os países muçulmanos, é a Polónia”. Outra frase: “À medida que as virtudes cristãs se retiram do coração e da mente do Ocidente, a ideologia muçulmana encontra espaço vazio para ser habitado por um sistema de crença que promete um propósito falso, um sentido imaginário de comunidade, e um uma visão destorcida de masculinidade”. Maior surpresa é a citação do Alcorão: Nossa Senhora “tornou-se uma das mulheres mais reverenciadas entre os muçulmanos; os anjos exclamam: Oh Maria, na verdade Deus (Allah) vos escolheu e vos purificou e vos escolheu acima de todas as mulheres do mundo” (Alcorão 3:42). E cito a última frase do artigo: “ Mais do que nas galés da batalha, do século XVI, devemos ajoelhar e pedir a intercessão de Nossa Senhora, ela é a única que pode construir uma ponte para os corações dos muçulmanos”.
Neste texto sublinhei coração e corações que levaram ao Coração de Jesus a quem Maria sua Mãe (a Senhora do Rosário) deu esse coração de carne trespassado na cruz; e passo a referir que estou a ler Dilexit nos, a encíclica do Papa Francisco sobre o amor do Sagrado Coração de Jesus. É uma carta longa (40 pp. do meu PC) e por isso só digo que estou a ler e cito algumas linhas do Papa. As dos doces “mentirinhas” da avó que cresciam, mas na boca sentiam-se vazias (nº 7): «E era precisamente a avó quem explicava a razão: aqueles doces “são como as mentiras, parecem grandes, mas dentro não têm nada, não há nada verdadeiro, não há substância alguma”». E o Papa diz que são como as “perguntas decisivas deste mundo líquido” a que se dão respostas a que falta o coração. E exemplifica com as seguintes questões: «quem realmente sou? O que procuro? Que sentido quero dar à vida, às minhas escolhas e ações? Por que razão e para que fim estou neste mundo? Como vou querer avaliar a minha existência quando ela terminar? Que sentido quero dar a tudo o que vivo? Quem quero ser perante os outros? Quem sou diante de Deus?» E o Papa vai explicando. Penso, que, como Derya M. Little, cada um poderá responder quando o seu coração encontra o Outro Coração cantado na Encíclica Dilexit nos, do Papa.
O Dia dos Santos (1 de nov.) condiz com esta Encíclica sobre o Amor de Deus. Os Santos são celebrados porque o seu coração bateu de amor em uníssono com o Coração de Cristo, o único que une os fragmentos da sociedade “anti coração”, diz o Papa (nº 17), vazia de sentido. Unir é o oposto de separar. Jesus e Maria são corações para unir (symbállein) simbolizar, «ponderar, unir duas coisas na mente, examinar-se, refletir, dialogar consigo mesmo»,(nº 19) que o Papa atribui a Maria (cf. Lc 2, 19.51).
Este Dia dos Santos no seu simbolismo une o coração das crianças com os gestos do “Pão por Deus”, e liga-se ao dos Fiéis Defuntos, memória de gratidão que une os corações dos vivos aos que já passara à vida eterna, avós, pais, parentes, amigos, e todos os que morreram em Cristo. Mas infelizmente, ao contrário do que simbolizam (symbállein) de união, descoberta e sentido à vida, não faltam tentativas “diabólicas” (separadoras) de as perverter com satanismos. Diabólico vem do grego dia-ballei: separar, atirar para longe, rasgar, corromper, condenar. A corrução destas festas vem de longe, mas nos últimos tempos têm alastrado com ódio e desunião. O termo Halloween de hoje vem de “Halloweve” que em inglês antigo era “vigília ou véspera de todos os santos. Infelizmente, no Ocidente, degenerou, por ganância de consumismo mercantil, em noite de bruxas, fantasmas, terror e culto satânico desagregador. Cancelar os santos, os anjos e os fiéis defuntos, será o alvo?. Onde vai “o Pão por Deus” e “ os bolinhos em louvor de todos os santinhos” como eu pedia pelas casas da minha aldeia, para receber bolos, nozes, figos secos e fruta? Os fantasmas carnavalescos destes ritos apagam o respeito e a memória dos fiéis defuntos, e as orações por eles na esperança na ressurreição e vida gloriosa. O satanismo cultural contamina-se de drogas e patologias psiquiátricas de depressão e compulsão (Dr. Tonino Cantelmi). E de abusos sexuais? As ideologias anti Cristo e anti Maria (cf. Carrie Gress,“The Anti-Mary Exposed: Rescuing the Culture from Toxic Femininity) vão-se espalhando associadas ao feminismo anti mulher. O Papa Francisco fala da sociedade anti coração, sem relações saudáveis; e interroga-se se a «sociedade mundial estará a perder o seu coração»? (nº22).
Aires Gameiro