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Por onde andam os santos?

Sempre ouvi falar que hoje é o dia dedicado a todos os santos. Parece que as santas ficam de fora. No meu tempo de criança, era o dia de andar com um saquinho, feito pela mãe ou pela avó, a pedir à vizinhança, e à família, guloseimas da época. Parece que estou a ver a alegria de ver encher o saco “do pão por Deus” com o que nos era oferecido. Mesmo que algumas pessoas não nos dessem nada, não reclamávamos e até agradecíamos dizendo que esperávamos que para o ano fosse melhor. Não nos ensinaram a palavra “travessura”, como acontece com as crianças que agora são educadas no Halloween. Ou temos doçuras para elas ou então corremos o risco de no outro dia, ao abrirmos a porta, termos ter o resultado das suas travessuras.

Não critico as crianças, porque a esmagadora maioria nunca ouviu falar no “pão por Deus” e só lhe ensinaram o que é o Halloween. Critico as pessoas adultas por aderirem tão facilmente a uma tradição importada de outros países, cuja cultura é bem diferente da nossa. A começar nas escolas que desde os infantários promovem o Halloween com festas trajadas a rigor, onde as criancinhas, apoiadas pelas famílias, lá vão mascaradas de bruxinhas, abóboras, esqueletos, etc..

Sei que esta critica não vai ser bem vista por muitas pessoas que incentivam a estas festas e que até gostam de nelas participar. Quando são adultas, nada tenho a comentar, porque gostos não se discutem, mas quando são incentivos a crianças inocentes que nem sabem o que estão a fazer, fico triste e, no mínimo, considero que lhes deviam explicar os dois conceitos de ver esta data e este dia. Sei que o Halloween foi ontem à noite, mas para mim isso é apenas uma diferença de segundos, da passagem da meia noite para as zero horas do dia um.

E o que fazem hoje os santos comemorados neste dia? Deixar correr como já é de costume. Não comentar, não fazer polémica, porque o que interessa é viver tudo em “harmonia”. Portanto, não fazer ondas, porque as que por aí andam já andam a meter água por muitos lados, e eles não querem ser desestabilizadores da ordem estabelecida. Nem nos Santos podemos confiar.

Por falar em ordem estabelecida, os últimos acontecimentos que estiveram na base na morte brutal de um cidadão pacífico, que nada fez que infringisse a ordem pública, veio incendiar o debate público sobre as condições de vida em que vivem muitas pessoas, particularmente emigrantes, que escolheram o nosso país para viverem.

Já não suporto ouvir tanto ódio e tanta raiva contra essas pessoas, então se vierem de madeirenses a minha indignação é ainda maior. Esquecemos que muitos jovens, e não só, ainda continuam a emigrar hoje em dia, para procurarem melhores condições de vida e de trabalho que não encontram na sua terra. Esquecem que muitos dos nossos familiares foram para outras terras, ainda miúdos, para poderem sustentar as suas famílias e procurarem dar um futuro melhor aos seus filhos. Esquecem que somos uma terra de imigrantes que sempre trabalharam para serem respeitados nos países que os acolhiam. O nosso dever é fazer a mesma coisa com aquelas pessoas que são acolhidas por nós. Não interessa a cor da pele, ou dos olhos, o que interessa é que são pessoas trabalhadoras que merecem todo o nosso respeito.

O ódio racial que grassa no mundo, liderado por um homem que, no mínimo, devia ser tratado como doente mental, é assustador. Em Portugal, esse doente tem uns seguidores que não suportam a democracia e não sabem viver com as suas regras, chegando ao cúmulo de apelar à morte de pessoas que não pensam como eles. Sempre que oiço ou vejo essa gente, que chega a dizer que,” por cada pessoa morta pela polícia é menos um votante no Bloco” arrepio-me, e acho que esse arrepio atravessa todas as pessoas que viveram estes 50 anos da comemoração da liberdade e da democracia, que são os pilares fundamentais de uma sociedade democrática.