DNOTICIAS.PT
Fact Check Madeira

Estará o ar que respiramos na Madeira a ficar mais poluído?

Foto Arquivo/Aspress
Foto Arquivo/Aspress

Se é verdade que, globalmente, a Madeira é tida como sendo uma ilha com uma qualidade de ar boa ou muito boa, pelo menos em grande parte do território, na cidade do Funchal, mas também em Câmara de Lobos e em Santa Cruz, essa realidade pode ser colocada em causa.

Os níveis de poluição, sobretudo da circulação rodoviária em muitos momentos do dia-a-dia, podem ser claramente comprovados por qualquer transeunte ou mesmo condutores em horas-de-ponta.

A verdade é que os números dizem-nos que estamos a viver num paraíso ambiental, onde respiramos ar puro e de boa qualidade. Contudo, a base de dados tem apenas dois pontos de recolha dos gases poluidores no Funchal, mais precisamente na zona de São João (São Pedro) e na Junta de Freguesia de São Gonçalo, e outra em Santana (que por norma apresenta sempre boa qualidade dos indicadores).

O Porto Santo é um caso à parte, por ser quase só em Agosto é que se pode colocar em causa a qualidade do ar que se respira na ilha… Mas, aqui, também não há dados disponíveis.

O portal QualAR, que mede diariamente os dados dessas três unidades na Madeira, faz uma avaliação de qualidade do ar ‘Boa’, tanto em São Gonçalo como em São João.

De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), através do referido portal, “os grandes centros urbanos são polos de concentração da população, das atividades económicas, do potencial de dinamização do crescimento económico, da captação de investimento e do emprego”, mas “são também geradores de complexos problemas ambientais e sociais com efeitos nem sempre positivos na qualidade do ambiente e na qualidade de vida dos cidadãos”.

Ainda é de noite e o trânsito já está caótico

O sol ainda nem sequer despontou no horizonte e o trânsito no Funchal já está caótico, nomeadamente na Via Rápida, o que tem acontecido com alguma frequência nas últimas semanas.

Parece a definição de um centro urbano como o Funchal, para onde confluem milhares e milhares de pessoas, nas suas viaturas, causando gigantescos congestionamentos como tem sido norma desde o fim das férias escolares de Verão e assim continuará, sobretudo nos dias úteis ao longo dos próximos meses.

Quase 8 km de congestionamento em cada sentido

Um verdadeiro caos é o que se pode adjectivar o estado actual do trânsito na Via Rápida. Desde que aconteceu o acidente pelas 7h30, tem sido sempre a crescer o amontoado de viaturas que procuram chegar ao seu destino.

“Nas grandes cidades, a poluição atmosférica tem um grande impacto, designadamente na saúde pública, pelas elevadas emissões de poluição devido à concentração de atividades humanas e sobretudo de veículos motorizados em circulação, que são a principal fonte poluente nas nossas cidades”, constata o óbvio a APA.

E ainda diz mais: “A população que ‘vive’ nas cidades sofre efeitos de exposição de curto e longo prazo à poluição do ar, com a consequente degradação da saúde, tanto dos seus habitantes como de quem dela usufrui, por motivos de trabalho, lazer ou outros.”

E reforça: “Sendo os transportes rodoviários movidos a combustão as principais fontes de emissão de poluentes para a atmosfera urbana importa direcionar a ação para as medidas no domínio dos transportes e da mobilidade associadas ao planeamento e ordenamento das cidades com o objetivo de promover a transformação para novos modelos de urbanismo onde as funções essenciais estejam próximas e as deslocações sejam mais sustentáveis.”

Ambos os factos estão por ser implementados na sua plenitude, quiçá dificilmente o serão no futuro próximo.

As estatísticas dos transportes revelam um aumento significativo de viaturas a circular na Via Rápida e por todo o lado. E nem as serras escapam, como tem sido notícia nos últimos dois anos, com o exemplo dos congestionamentos no Pico do Areeiro. Se faz a diferença em termos de poluição, difícil saber não havendo dados para o comprovar.

E nem o aumento do mercado dos veículos eléctricos parece ajudar muito na redução dos poluentes expelidos pelas viaturas a combustão, principalmente por serem ainda uma ínfima minoria.

"Em 2021, a Pegada de Carbono de Portugal foi de 51,9 kt de emissões de dióxido de carbono, o que correspondeu a 5,0 toneladas per capita, menos 25,3% relativamente a 2010", informou ontem o INE. "Metade das emissões foram emitidas em Portugal (15,2% proveniente das famílias e 34,8% das atividades de produção devido à procura interna), tendo a outra metade sido emitida no estrangeiro (19,3% em Estados-Membros da UE e 30,7% nos restantes países)", acrescenta.

Estes dados revelam ainda a uma ausência de dados relevantes. "A pegada de Carbono da UE é superior à estimada para Portugal (em média 1,5 vezes superior correspondente a mais 2,8 toneladas per capita), verificando-se que a redução ocorrida desde 2010 é menos acentuada do que a observada  em Portugal (-18,7%). À excepção da EU, a China foi o país que mais contribuiu para a pegada de carbono nacional (7,4% do total)", aponta.

Estes dados no link, também permitem ter uma ideia da situação, embora esta empresa não tenha localização conhecida na Região e sim na Índia.

Índice de Qualidade do Ar (Madeira): Poluição do Ar em Tempo Real

O Índice de Qualidade do Ar atual (Madeira) é de nível 23 GOOD com poluição do ar em tempo real de PM2.5 (8µg/m³), PM10 (17µg/m³), Temperatura (28°C) em Portugal.

Na Madeira, até a questão da produção de lixo, muita dela para incineração, aumentou significativamente em 2023, embora na Meia Serra se tenha queimado menos resíduos, como foi publicado esta semana.

Produção de lixo em 2023 aumentou quase 31%

Como previsto hoje pelo DIÁRIO. No total, foram quase 312,6 mil toneladas de resíduos sólidos

No recente (22 de Dezembro de 2023) "Inventário Regional de Emissões por Fontes e Remoções por Sumidouros de Poluentes Atmosféricos da Região Autónoma da Madeira", publicado pela Direcção Regional do Ambiente e Mar, que realçou: "Em 2021, a região voltou a registar uma redução das emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE), tendência que já vinha a verificar-se desde 2005. Comparativamente ao ano anterior, houve uma redução de 1,7%, tendo o total de emissões regionais se situado em 1.061.166 tCO2eq, a medida de conversão e padronização dos gases de efeito estufa em dióxido de carbono."

Estes dados que são recentes e estão na senda do objectivo regional de combate às alterações climáticas.

Na área da aviação e dos transportes marítimos, estes últimos com muito menos peso, embora tenham o seu papel quando estão navios de cruzeiro em porto, também é importante realçar o contributo para a poluição geral do ar.

Aeroportos da RAM movimentaram em Agosto quase 495 mil passageiros

Representa um crescimento de 3% face ao período homólogo. Os voos comercias cresceram menos de 1%

Ou seja, conforme se pode atestar desta notícia, só no mês de Agosto, passaram pelos aeroportos regionais, a grande maioria no Aeroporto da Madeira, quase o dobro da população residente no arquipélago. Se isso não tem impacto na qualidade do ar, não só pelos aviões, mas também pelo movimento que este turismo traz em relação ao aumento do tráfego rodoviário e consequente maior poluição, então algo está mal contado.

"Você já se perguntou quanto CO2 seu próximo voo produzirá?”, questionou ainda esta semana a Comissão Europeia. "Mais de 80% dos passageiros também querem saber". E reconhece: "Actualmente, não existe uma metodologia harmonizada para estimar as emissões dos voos. É por isso que estamos a lançar uma consulta pública para recolher comentários sobre o Rótulo de Emissões de Voo da UE (FEL). O FEL estabeleceria uma metodologia para estimar as emissões de voo considerando: o tipo de aeronave, o número médio de passageiros, o volume de carga a bordo e o combustível de aviação utilizado."

Este estudo, iniciativa recente, "ajudará os passageiros a fazer escolhas mais informadas sobre a sua pegada de carbono ao reservar voos na EU", promete, ficando a certeza que se em toda a comunidade esse impacto não é medido, em Portugal igualmente não é, muito menos o é na Madeira.

Ainda assim, a pouca informação existente diz que temos boa qualidade do ar, sobretudo se comparado com outras grandes cidades. Fica ao leitor a decisão de acreditar no que os seus 'pulmões' lhe dizem, sendo certo que o tráfego automóvel em 'horas-de-ponta' são um bom indicador para tirar qualquer dúvida.

Globalmente, sim. Os dados medidos diariamente assim o indicam, mas o aumento do tráfego rodoviário, o número crescente de congestionamentos e, até, os recordes em aeronaves e passageiros nos aeroportos, bem como nos portos, deixam a dúvida…