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Governança Internacional: o Sul Global

No âmbito das Relações Internacionais, o termo Sul Global possui 3 grandes significados.

O primeiro refere-se aos países em desenvolvimento, muitos dos quais enfrentam sérios desafios socioeconómicos e têm um passado colonial. O segundo diz respeito às relações de cooperação e alianças estabelecidas entre esses países, seja no âmbito comercial, técnico ou político. O terceiro inclui os atores que se opõem ao capitalismo neoliberal. Na cena internacional, os seus principais representantes são o Brasil, a Índia e a China.

Atualmente, observa-se uma crescente ideologização nas Relações Internacionais, à medida que os países em desenvolvimento da Ásia, África, América Latina e Caraíbas enfrentam pressões para escolher entre a China e os EUA, no âmbito do comércio e investimento. Em resposta a este contexto internacional emergiu, na América Latina (em 2020) a doutrina de política exterior do Não Alinhamento Ativo, cujo objetivo é assegurar que os países da região protejam os seus próprios interesses adotando uma postura independente destas potências. Esta situação acontece porque as potências médias no Sul Global rejeitam a hegemonia americana e interpretam a atual ordem internacional como progressivamente mais disfuncional e inoperante.

Além disso, o Brasil e a Índia posicionam-se como porta-vozes do Sul Global, defendendo em fóruns internacionais assuntos relacionados com o desenvolvimento, transferência de tecnologias para enfrentar as mudanças climáticas nos países em desenvolvimento, renegociação da dívida e promoção da paz/segurança internacional. As potências emergentes promovem mudanças na governação das instituições financeiras multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Contudo, estas potencias são, geralmente, mais propensas a manter o status quo.

Por outro lado, dada a dificuldade de adaptação dos organismos internacionais ao atual sistema internacional, distingue-se a iniciativa dos BRICS, uma associação económica-comercial formada inicialmente pelo Brasil, a Rússia, a Índia e a China, reunindo os principais mercados emergentes. Esta organização criou o Novo Banco de Desenvolvimento como alternativa ao FMI e Banco Mundial.

É importante ressaltar que o Sul Global se caracteriza por ter uma posição coordenada relativamente alguns assuntos para desafiar o Ocidente, mas apresenta divisões em outras áreas, evidenciando fissuras políticas.

Em suma, o adequado funcionamento dos regimes internacionais exige uma distribuição mais equitativa do poder, visando garantir a provisão dos bens públicos globais nas áreas de finanças, segurança alimentar, saúde e meio ambiente.