Nós, os velhos, de hoje, ou de amanhã
A partir do momento em que nascemos, começa a viagem veloz com destino ao fim.
Todos desejamos chegar à velhice, mas ninguém, ou quase ninguém, gosta de ser velho. Porém, envelhecer é o único meio de viver muito tempo.
No Dia Internacional do Idoso, seria pertinente olhar, com olhos de ver, como são tratados os nossos idosos, sejam eles do País ou da Região.
Pelas contingências que a vida na actualidade nos impõe, a maior parte dos nossos velhos é “obrigada” a deixar o seu lar para passar o resto dos seus dias numa Instituição, pública ou privada, consoante as suas possibilidades económicas, nos tais famosos Lares da 3.ª Idade. Centenas de outros, denominados de “altas problemáticas “permanecem nos hospitais porque as respectivas famílias se recusam recebê-los em suas casas por falta de recursos físicos ou materiais ou por incompatibilidades profissionais. Deprimente, triste, deplorável e amarga realidade.
Os casos que se sucedem em alguns lares de idosos, autênticos depósitos de velhos, são apenas a face visível de uma cultura degradada na forma como se trata estas pessoas, tantas vezes indefesas. Há velhos maltratados, excluídos do universo dos afectos, pois as suas dependências e debilidades dão muito trabalho e causam desconforto aos cuidadores. Os beijos e abraços esporádicos, em datas mais ou menos assinaladas, são apenas um pretexto para a elaboração de álbuns de fotos e vídeos que passam uma imagem muito distante da realidade.
Os recursos humanos de uma Instituição deveria ser a maior e principal preocupação dos seus dirigentes ou gestores. Cada qual é para o que nasce e nem todos têm vocação para o desempenho da tão árdua e meritória função que é ser cuidador de pessoa idosa, seja autónoma ou dependente de terceiros. É preciso não esquecer que em cada uma delas há sempre uma criança.
Todos somos confrontados com a finitude da nossa existência. Ninguém sabe como, quando e onde será, e ninguém pode garantir que não será num dos lares como estes.
Eu tenho medo. Tenho medo de “lobos com pele de cordeiro”, de falsos moralistas e dos que, parecendo incapazes de esmagar um vil insecto, são donos e senhores de actos pouco recomendáveis e totalmente inaceitáveis no trato com os idosos à sua responsabilidade. Mais tarde ou mais cedo descobre-se que os sonsos afinal têm sal a mais e que se estão nas tintas se prejudicam alguém. Os que ainda são jovens ou adultos lembrem-se que respeitar os idosos é cuidar do próprio futuro.
É preciso mais responsabilidade e menos turismo no local onde ganhamos o pão. E, talvez, quem sabe, uma visita surpresa, de vez em quando, da Segurança Social ou de outra identidade com competência na matéria a alguns lares não daria bons resultados a curto prazo?! É que nem tudo o que parece, é.
Madalena Castro