Danone assegura que mantém compra de soja brasileira após declaração que gerou reações no Brasil
A Danone assegurou ontem que mantém a compra de soja brasileira, negando uma informação em sentido contrário do diretor financeiro da empresa em França, Jurgen Esser, que gerou reações negativas de produtores e do Governo do Brasil.
"Podemos confirmar que a informação não procede. A Danone continua a comprar soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais", disse a empresa num comunicado que surge depois das reações às declarações de Jurgen Esser à agência Reuters.
"A soja brasileira é um insumo essencial na cadeia de fornecimento da companhia no Brasil e continua sendo utilizada, sendo a aquisição da maior parte desse volume intermediada pela Central de Compras da Danone, incluindo processos que verificam sua origem de áreas não desflorestadas e rastreabilidade", acrescentou.
Na sexta-feira, a Reuters divulgou uma notícia na qual Esser afirmava que a empresa não comprava mais soja produzida no Brasil, usada para ração das vacas leiteiras, decisão tomada para adequação ao Regulamento de Desflorestamento da União Europeia (EUDR).
Hoje, o Ministério da Agricultura do Brasil emitiu uma nota em resposta às declarações do executivo da Danone e de outras empresas do setor agroalimentar, salientando que o país conta com uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, apoiada por um sistema de comando e controlo eficiente e respaldado por uma complexa estrutura de monitoramento e fiscalização.
"As empresas brasileiras atuantes no mercado de exportação de soja e outros produtos agrícolas estão em conformidade com rigorosos processos de 'due diligence' que garantem o cumprimento das exigências de seus clientes internacionais", defendeu o Ministério da Agricultura do Brasil.
"Esses processos refletem os esforços e os investimentos em sustentabilidade feitos pelo setor produtivo brasileiro, com modelos de rastreabilidade robustos e reconhecidos internacionalmente", acrescentou.
No mesmo comunicado, o país sul-americano destacou que considera as normas do EUDR "arbitrárias, unilaterais e punitivas", por considerar que a regulamentação desconsidera particularidades dos países produtores e impõe exigências com impactos significativos sobre os custos e a participação de pequenos produtores no mercado europeu.
"Estas novas diretrizes dificultam o acesso ao mercado europeu de produtos brasileiros, da América Latina e de outras origens, incluindo a Ásia, ao invés de apoiar uma transição justa e sustentável. Incentivos positivos são mais eficazes na promoção da proteção ambiental, compensando e remunerando aqueles que prestam serviços ambientais", acrescentou.
Já os principais produtores do país, representados pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), divulgaram uma nota acusando a empresa francesa de boicote.
"A divulgação de uma notícia informando que a multinacional Danone está deixando de adquirir a soja brasileira para formulação de seus produtos alegando desrespeito à legislação europeia é uma demonstração de desconhecimento ao processo produtivo no Brasil e um ato discriminatório contra o Brasil e sua soberania", afirmam.
"O boicote adotado pela multinacional francesa já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros, mesmo que a legislação da União Europeia antidesmatamento ainda não tenha entrado em vigor. A nova lei depende de aprovação no Parlamento Europeu", salientou a associação.
O regulamento da UE, que foi aprovado em 2023, visa impedir que as importações da UE de certas mercadorias e derivados, como o óleo de palma, a carne de vaca, a soja, o café, a borracha, a madeira e o chocolate, causem desflorestação nos países exportadores.
No início do mês, porém, a Comissão Europeia propôs o prolongamento por um ano do prazo para a entrada em vigor da legislação para combater a desflorestação, que o Brasil tinha pedido para ser suspensa, devido às reações negativas recebidas.