Permitam-me contar uma pequena história…

“Era uma vez uma escola que se parecia como qualquer outra, mas que guardava histórias que iam além dos livros, dos tablets e dos cadernos. O Miguel, um menino de 11 anos, adorava desenhar e passava os intervalos sentado no pátio, sempre com um lápis e um bloco nas mãos.

Um dia, sentou-se ao seu lado o João, um colega de turma conhecido por não ser dos mais simpáticos. João gostava de se exibir e intimidava muitos dos colegas, especialmente os mais tranquilos e tímidos, como o Miguel. Ele fazia questão de gozar com os desenhos do Miguel, criticava a sua maneira de vestir e até fazer troça do jeito como ele falava (o Miguel tinha um pequeno problema de fala e omitia o som “r”). Mas, naquele dia, algo diferente aconteceu.

Enquanto o Miguel desenhava, o João aproximou-se e começou com as piadas de sempre.

Porém, em vez de ignorá-lo como de costume, o Miguel levantou a cabeça, respirou fundo e perguntou com um sorriso calmo:

- João, sabes o que eu acho? Fazer bullying é coisa de fracos.

O João ficou paralisado por um momento, sem saber o que responder. Nunca ninguém tinha falado com ele daquela forma. Confuso, tentou reagir com uma piada, mas algo na voz do Miguel, algo na confiança que ele demonstrou, o fez parar.

Miguel manteve o olhar firme no João.

- As pessoas fortes não precisam de diminuir os outros. Sabes porquê?

Porque elas já sabem quem são e não precisam de provar nada. Achas que o que fazes, te torna forte, mas isso só mostra que tens medo de seres quem és de verdade.

O João ficou em silêncio. As palavras de Miguel ecoaram na sua mente pelo resto do dia, e talvez pela primeira vez, ele questionou as suas atitudes. Não sabia exatamente por que agia daquela forma, mas começou a perceber que talvez fosse o medo e a insegurança que o levavam a intimidar os outros. Era o receio de ser julgado ou parecer fraco que o fazia agir assim.

Depois daquele dia, as coisas mudaram. Miguel e João não se tornaram grandes amigos, mas o respeito entre eles surgiu. Com o tempo, o João aprendeu que não precisava usar a força para ganhar respeito. Entendeu que a verdadeira força vinha da gentileza e da coragem de enfrentar os seus próprios medos.”

Afinal, como dizia o Miguel, “fazer bullying é coisa de fracos”, e os fortes, esses não têm medo de serem eles mesmos.

José Augusto de Sousa Martins